Mas será, com certeza, um voto que se quer claro, de confiança no Governo e na sua orientação, deixando implícito que este, atento às alterações da conjuntura, proceda sempre de modo eficaz, a fim de preservar os superiores interesses da Nação.

Vai para sete anos que regressei de Moçambique, onde cumpri a minha comissão de serviço como médico militar. Já então era evidente o desgaste a que estava submetido o quadro permanente, já então havia muita gente fatigada, muitos a quem lhes morria a esperança. Mas o que sempre mais me impressionou era a fraqueza da motivação para ali estar que tantos dos meus companheiros patenteavam

Tive no entanto também oportunidade de apreciar e analisar alguns casos em que existia entusiasmo, se sentiam justificados os sacrifícios feitos, contentes com os resultados obtidos.

Não será agora a oportunidade para me alongar sobre uma casuística necessariamente pequena.

Mas parece-me que urge, e por isso o faço já agora, chamar a atenção para a necessidade de dinamizar as vontades dos nossos jovens, dos nossos soldados, num sentido de serviço, de grande solidariedade humana, incentivando a preparação dos nossos homens para que se tornem fautores privilegiados da aceleração das condições de vida das populações autóctones.

É óbvio que não há soluções políticas fáceis para o nosso grande problema. O tempo é realmente um material imprescindível. Também nunca será fácil fazer desanimar certas políticas estrangeiras de porem interesse nos nossos territórios. Mas há que reduzir ao mínimo a captabilidade de portugueses para servirem de intermediários válidos, de instrumentos eficazes, a bem desses interesses. Se todos os portugueses nunca faltasse a oportunidade de uma vida digna...

Apercebamo-nos de que são jovens, são intelectuais na sua fase ingrata, são proletários, são os autóctones com um bocadinho de ilustração os que são mais sensíveis ao encantamento. Apercebamo-nos de que são estes estratos, os mais sensíveis, dos mais penalizados pelas injustiças do nosso esquema social.

É nesta intenção de acelerar a correcção das injustiças sociais sempre permanecentes, naqueloutra de motivar as forças, armadas a ultrapassar a função de polícia e de vigilância, que, a meu ver, temos de dar primeiro prioridade, intenso interesse.

O espírito de serviço, a generosidade é própria, é natural nos jovens.

Pois organizemo-los Confiemos-lhes esta missão tão nobre de serem no nosso tempo o cimento novo que vai ajudar a aglutinar, que ajude a edificar os novos Estados, que desejamos muito portugueses. Novos Estados que desejamos participantes efectivos da grande Comunidade em que o Brasil se integra naturalmente, a Comunidade da língua portuguesa Novos Estados, que se distinguirão pela proeminência e pela posição relativa que neles terão os portugueses de raça africana.

A essa preparação dos povos, a essa preparação dos territórios é que temos de apontar. Porventura num trabalho para toda uma geração. Porventura sempre de armas na mão.

Termino com uma frase do Sr. Presidente do Conselho.

Posto é que nos não falta a vontade de resistir.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Almeida Santos: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Eu não creio que possa haver uma hesitação na resposta da Assembleia Nacional ao Sr. Presidente do Conselho.

Quem, na verdade, poderá pôr em dúvida a certeza do rumo seguido até hoje em relação à defesa do ultramar? A certeza de que trilhamos o único caminho recto e honroso, à luz da razão, do direito, do interesse e da dignidade nacional?

Passo a passo, com a precisão metódica de um bisturi, foram dissecados e analisados perante o País todos os argumentos, todas as teorias e todos os mitos que para aí se murmuram pelos cantos ou estralejam ruidosamente para embasbacar ingénuos ou menos acautelados.

Com efeito, cai por terra, como fruto podre e mal sazonado, a alegação de que a defesa do ultramar arruina economicamente a Nação; de que chegou a hora de transferir a soberania portuguesa para as mãos dos leaders do terrorismo - o que equivaleria a servir-lhes numa bandeja não só os territórios, mas também as cabeças dos brancos, dos pretos e dos mestiços que pacificamente ali vivem e trabalham. Esboroa-se, enfim, a fantasia delirante de que Portugal obteria garantias, vantagens e o respeito da ONU e dos países que atroam contra a nossa presença em África, como prémio do abandono ou da renúncia ao ultramar.

O Sr. Viegas Carrascalão: - Muito bem!

O Orador:- E aquilo que alguns, encandeados pela propaganda ou superficialmente informados, talvez não vejam, mas que todos quantos vivem e labutam no ultramar não ignoram, foi aqui dito com a simplicidade e a limpidez das verdades irrefutáveis: é que por detrás do terrorismo negro e amarelo estão sombras poderosas a armarem a mão do guerrilheiro que subtilmente atravessa a fronteira e ataca as populações, e que esses movimentos de pseudolibertação não passam afinal de teatro de títeres encenado pela alta finança, pelos interesses económicos, pela cupidez dos poderosos do Ocidente e do Oriente.

O Sr. Cazal-Ribeiro:- Muito bem!

O Orador:- Pois, sinceramente se duvida de que se Angola, Moçambique ou a Gume representassem territórios sáfaros e pobres, jazendo no atraso, na fome e nas epidemias, pudessem algum dia despertar tanto alarido humanitário pela libertação das suas populações!

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-É evidente que o País sofre do cansaço de uma longa guerra, da mobilização continuada da sua juventude e ainda de outros sacrifícios de ordem económica que não são devidos, todavia, a nossa luta no ultramar. Sofre-se aqui na metrópole e sofre-se também nas terras de além-mar, onde tudo é caro, árdua a luta pelo progresso e pelo pão de cada dia, e onde rastos de terrorismo vão apagando vidas aqui e além, e onde também a juventude de todas as etnias dá o seu sangue e o seu sacrifício na defesa da terra. Mas se Portugal tanto está na metrópole, como em