Angola, como em Moçambique, como em qualquer outra das parcelas ultramarinas, não será lícito, ou coerente sequer, falar em sacrifícios unilaterais ou em esforços parciais quando o que está em jogo é o todo nacional, a sobrevivência nacional, a dignidade nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Já é mais do que tempo de se desfazerem ilusões, de se rasgarem as cataratas daqueles hipnotizados pelas sereias internacionais. A verdade é esta, sem atavios, nem fantasias: quanto mais fragmentados e divididos, mais pobres e débeis seremos.

O Sr. Albino dos Reis: - Muito bem!

O Orador: - E a sanha dos que ameaçam e caluniam vai crescendo, porque não cedemos, porque estamos de facto a construir em África um Portugal poderoso e rico, dia a dia mais sólido, mais evoluído e de uma admirável coesão inter-racial.

O Sr. Albino dos Reis: - Muito bem!

O Orador: - Será, pois, o momento de nos demitirmos, de abdicarmos, de nos atropelarmos amedrontados no nosso recanto europeu? E não falando já do problema humano do abandono, que representaria o massacre, a espoliação, o retorno à barbárie, deixaremos nós cair por terra a obra que ali está erguida com o nosso sangue, o nosso sacrifício de vidas e de bens?

O Sr. Albino dos Reis: - Não!

disposição do Presidente Mobutu para africanizar os bens e os serviços dos estrangeiros de etnia branca ou asiática Mas, desgraçadamente, nesta trapaça e nesta prova de odioso racismo, ao passo que às representações diplomáticas dos italianos, dos gregos, dos paquistaneses, dos belgas é concedida a lista ou arrolamento dos haveres espoliados, como penhor de uma presumível e hipotética compensação, aos nossos dá-se-lhes apenas um remise-reprise que mais tarde, na altura do embarque, se lhes procura extorquir, sob os mais falaciosos pretextos. Até mesmo se lhes dificulta a obtenção dos documentos para embarcar. E são os nossos compatriotas induzidos a utilizar o suborno para obter a documentação e obrigados a fugir somente com a roupa que trazem no corpo!

Resta acrescentar que os responsáveis e os beneficiários directos desta extorsão são os próprios deputados do Zaire!

Tenho na minha mão, e delas já dei conhecimento à Mesa, as provas do que afirmo, fornecidas por refugiados portugueses recém-fugidos do Zaire.

Estes factos crus e revoltantes vêm reforçar, estou certo, as palavras do Sr. Presidente do Conselho sobre a confiança que oferecem promessas e compromissos da parte dos chefes das pseudodemocracias africanas...

O Sr. Pinto Castelo Branco: - Muito bem!

O Orador: -. . mascarando mal o regresso ao sobado, à prepotência e à barbárie, a todos os atropelos do direito e da moral.

Felizmente que os Governo está atento a quanto se passa Ontem mesmo, numa reunião do Conselho de Ministros, se deliberou tomar as disposições necessárias para minorar o sofrimento e atenuar as preocupações dos nossos infelizes irmãos residentes no Zaire ou em Marrocos - onde também ocorrem semelhantes e dolorosos acontecimentos.

Meus Senhores: Seria a gente como esta que amanhã confiaríamos as populações e os territórios de Angola, Moçambique e Guiné?

O Sr. Cazal-Rebeiro: - Parece-me que há quem pense que sim.

O Orador - Lembro-me neste momento do jornalista Ferreira da Costa, no seu livro As Chaves do Inferno, onde ele tão clarividentemente denunciou as torvas maquinações do exterior que breve haveriam de banhar em sangue o Norte de Angola Muito impressionado com um antigo trecho persa que lhe fora dado conhecer, ele fala-nos a faculdade que ao homem é concedida de escolher entre as chaves do céu, ásperas e difíceis, e as chaves do inferno, cómodas e aliciantes. Era já nos dias cruciais de 61, quando parecia oscilar O dilema profético afigurava-se-lhe estranhamente adaptado à posição de Portugal naquele momentos tempos de dureza e de sacrifício que ao fim seriam compensados, ou o abandono cómodo e complacente que fatalmente levaria ao desmembramento e ao descrédito da Nação.

Ao País acaba de pôr-se de novo a questão, com a clareza e a exigência das horas em que é necessário esclarecer, em que ê necessário limpar o horizonte das névoas confusas que desorientam e deturpam a visão ... E já não pode pôr-se em dúvida que Portugal não cederá ao som aliciante e traiçoeiro das chaves do inferno e vai continuar imperturbável o seu caminho de trabalho e de progresso.

Vozes: - Muito bem!