O Sr. Nicolau Martins Nanes: - Sr. Presidente, Srs Deputados: É com a mais profunda emoção que subo hoje a esta tribuna, onde quarenta e oito horas antes tinha estado um alto magistrado da Nação, o Chefe do Governo, Prof. Marcelo Caetano, responsável pelos destinos do País, num momento particularmente grave da vida nacional.

Hesitei muito antes de dar este passo, e compreende-se porquê. Que viria eu acrescentar àquilo que disse o maior responsável pela política da Nação e ainda por cima um eminente homem de letras e um jurista de alta envergadura? Contudo, como Deputado da Nação e, consequentemente, co-responsável pelo futuro da Nação, pelo menos durante o meu mandato, era necessário que desse o meu depoimento neste caso, trazido ao veredicto da Assembleia, fazendo ouvir a voz da província que represento.

Assim, correndo o duplo risco de ser demasiadamente lacónico ou de cair na redundância, resolvi quebrar o silêncio. Que me perdoem VV. Exas. qualquer falta, num ou noutro sentido, pois vou agir de acordo com as circunstâncias.

Procurarei, neste trabalho, ser o mais objectivo possível, julgando factos, e não pessoas, e submetendo ao mesmo tempo a minha opinião ao julgamento dos meus pares e dos meus concidadãos.

Começo por considerar indispensável, oportuno e inadiável este debate, que se imporia mesmo que não tivesse havido a brilhante intervenção, nesta Câmara, de S. Exa. o Sr Presidente do Conselho, intervenção que foi precedida de outro notável discurso, proferido na sessão de encerramento da 2a conferência anual da Acção Nacional Popular.

Com efeito, na altura em que esta sessão tem lugar, talvez mesmo neste preciso momento, em Conakry ou algures no estrangeiro, decorrem certamente sessões ou reuniões nas quais se pretende definir e determinar o destino das populações que nesta Magna Casa representamos, o nosso destino, afinal.

De resto, nos areópagos de vários países do mundo, todos os dias, à nossa revelia, são discutidos o caminho que devemos seguir, as relações que devem existir entre os povos que constituem a nossa comunidade e o regime político que devemos seguir ...

Enquanto isso sucede, que fazemos nós? Que fazem os portugueses de todas as parcelas da Nação, únicos interessados nesta magna questão? Temos de reconhecer com toda a certeza que no plano militar, na Guiné, em Angola e em Moçambique, e no plano sócio-económico, em todas as parcelas do País, os portugueses de todas as raças, cores, credos e etnias, vêm dando o máximo da sua contribuição, lutando até ao sacrifício para manter a independência e a integridade da Pátria comum.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, no plano político, que fazemos?

Que fazem os cidadãos? Estarei em erro se disser que podíamos fazer muito mais?

Com efeito, no que respeita aos nossos deveres cívicos, ou deixamos tudo para o Governo decidir e resolver, ou nos consumimos em discussões estéreis, críticas destrutivas ou indiferença total, enquanto alguns se entregam a sabotagens ou desenfreado vandalismo. Tudo isso, num momento em que se exige de nós a entrega total, numa permanente acção construtiva. Dir-se-á que são sinas dos tempos, o que me recuso a aceitar. Ainda que algumas divergências nos separassem, não acham que já é tempo de nos unirmos para defendermos os interesses comuns, que são muitos? Tem-se perdido inutilmente muito tempo, quando há tanta coisa a fazer para que o mundo em que vivemos, e temos de continuar a viver, seja melhor ou, ao menos, não seja pior do que aquele que herdámos dos nossos avós para legarmos aos nossos netos. Gasta-se um tempo precioso no que é supérfluo e protela-se para o futuro o que é essencial, numa era em que dispomos de tudo quanto é necessário e de meios eficazes para realizarmos obras úteis e duradouras.

Tudo isso nos revelam os discursos a que atrás fiz alusão, pelo que acho não só oportuna como necessária a moção proposta pela Comissão do Ultramar, de que faço parte. Permito-me, no entanto, acrescentar que a aprovo unicamente como uma reafirmação de apoio ao Governo na execução da política que acabou de ser redefinida, apoio que, pessoalmente e em nome da província que represento, sempre dei e continuarei a dar a quem dirige os destinos do País, a que todos pertencemos, e não como uma fórmula de opção política para a qual julgo não haver lugar.

Efectivamente, e quanto a mim, e estou certo de exprimir o sentimento do povo que represento nesta Casa, a única opção que havia a fazer já foi feita, e essa era a de saber se devíamos continuar ou não a formar, como portugueses, um único povo e uma única Nação ...

O Sr. Veiga de Macedo:-Muito bem!

O Orador: - ...embora geográfica e etnicamente diversificada, independentemente do sistema de relações político-económicas que viermos a adoptar como o mais conveniente para as diferentes parcelas do conjunto nacional, o que resultará das conjunturas económicas, culturais e políticas, pois na vida social nada é fixo e estático, a não ser o homem, como espécie, com os seus problemas, que são permanentes. Os factos demonstram a realidade dessa opção e os governantes várias vezes se referiram a ela.

Quanto à figura de S. Exa. o Sr. Presidente do Conselho como homem e como estadista, desejo dizer que é uma das pessoas que mais prezo e admiro, tal como o prezam e admiram os povos que represento.

Esta admiração, o respeito e a simpatia que de há muito nutro pessoalmente pelo Sr. Presidente do Conselho têm o seu fundamento e começaram quando etc. assumiu a chefia do Governo. Além de ser um sentimento pessoal, posso também afirmar, com conhecimento de causa, que é, ao mesmo tempo, um sentir colectivo, na medida em que os Guineenses ainda não se esqueceram, e estou certo de que jamais se esquecerão, de que foi com o apoio e sob direcção do Governo Central, chefiado por S. Exa. o Prof. Marcelo Caetano, e mercê da política por ele traçada, desde então, e agora redefinida, que o Governo da província, dirigido pelo general António de Spínola, pôde realizar na minha província natal a magnífica obra social, tanto nos campos económico e cultural como no político, que ali se contempla, não obstante a guerra; obra que tem causado a admiração de nacionais e estrangeiros e já foi considerada até nas Nações Unidas como o modelo da administração e política ultramarinas de Portugal.