O Orador: - Indiferente ao alarmismo de certos sectores de opinião, insensível ao derrotismo de outros, situados no extremo oposto do espectro das tendências políticas existentes, o povo português continua disposto a trabalhar e a lutar e a sofrei pela realização dos verdadeiros objectivos nacionais.

O que se torna indispensável 6 definir com clareza quais sejam esses objectivos; e que eles sejam viáveis e resultem de uma efectiva participação popular. Porque é moralmente injustificado, politicamente inaceitável e desde logo impossível arrancar do País sacrifícios em nome de ideais que ninguém saiba bem quais sejam, ou não passem de puro mito, ainda que grandioso, ou se pretendam impor sem a aceitação, que é fruto do debate democrático. Seguindo essa linha de orientação que por mim frontalmente rejeito, será talvez possível aguentar, por mais ou menos tempo, nunca indefinidamente; mas jamais se logrará vencer.

E é a vitória o que nós pretendemos. Não a vitória das armas, porque - bem o sabemos - guerras como a que enfrentamos podem-se perder ...

O Sr. Cazal-Ribeiro: - Já ouvi isto ...

O Sr. Henrique Tenreiro: - Também já ouvi...

O Orador: -... não se podem ganhar. A defesa é imperiosa, porque é legitima, porque há civilização a preservar...

O Sr. Henrique Tenreiro:- Há muito português em perigo...

O Orador: - É o que vou dizer a seguir... há vidas e haveres a salvaguardar, de pretos, brancos, asiáticos e mestiços, toldos acolhidos à sombra da Bandeira de Portugal. Mas assim como no plano diplomático, nas chancelarias e nas organizações internacionais, o problema português não é um problema jurídico, e só por miopia pôde ser apresentado como tal, assim também no domínio interno, aqui como no ultramar, o nosso problema não é de natureza matar, é também um problema político.

O Sr. Veiga de Macedo: - E também militar ...

O Orador: - Recorde-se V. Ex do que atrás disse acerca da necessidade de defender o ultramar. Mas na sua essência, na sua substância, tratando-se de um problema político, Sr. Deputado Veiga de Macedo.

O Sr. Veiga de Macedo: - Eu disse que o problema também era militar.

do bem-estar, coloca a Nação à mercê dos seus inimigos, não o é menos que a segurança interna não vale o custo da opressão das pessoas, das suas ideias, das suas iniciativas, nem a segurança externa se alcança por uma tal concentração de recursos que implique, a prazo mais ou menos dilatado, a exaustão da colectividade.

É a vitória o que nós pretendemos, dizia há pouco e repito: uma vitória política, a vitória de uma política eminentemente portuguesa. E essa política - a autonomia progressiva e participada do ultramar - aí está, definida pelo Chefe do Governo, ratificada pela Nação, que deseja vê-la aferida por contraste com as outras teses concorrentes e prosseguida sem hesitações nem retrocessos, ponderadamente, mas com a urgência que sempre exige a salvação da Pátria.

Autonomia progressiva e participada do ultramar! Consolidar nesses territórios que Portugal descobriu nas sete partidas do Mundo comunidade onde gente de várias raças fale português e das quais e steja banida toda e qualquer forma de discriminação ...

A Sra. D. Sinclética Torres: - Muito bem!

O Orador: -... auxiliar, em coordenação de esforços com outros povos, o progresso económico-social dessas comunidades; promover nelas a crescente participação de todos os seus habitantes, de acordo apenas com as capacidades de cada um, na resolução dos problemas colectivos; encaminhá-las progressiva e aceleradamente para a autonomia de governo, de harmonia com a sua situação geográfica e as condições do respectivo meio social, sem recear diferenças que afinal enriquecem a Pátria comum ...

Não é este, Sr. Presidente, um sonho generoso de coração português, cheio de nobres ambições, por cuja realização vale a pena lutar?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não é este, simultaneamente, um projecto político coerente, produto de fria avaliação das realidades, atento aos interesses do Pais e das populações de tão diversa origem que o compõem? Não é ele sensível às correntes de fundo que atravessam e agitam a vida internacional, e de um modo particular o continente africano, nas convulsões do nascimento de um mundo novo?

Não se trata de um objectivo realizável, proporcionado às nossas forças e aos apoios de que podemos dispor no xadrês da estratégia planetária? Por mim não hesito em responder que sim, que o objectivo é realizável, desde que andemos depressa, que por ele vale a pena lutar, recorrendo, sem a priori registar nenhum, aos meios adequados à complexa natureza política do problema que enfrentamos. E sublinho que este objectivo é realizável porque outros há que o não são, e estou firmemente convencido de que o País não to-