aguardar um instante, até que lhe seja facilitado um microfone, a fim de que não só o orador que V Exa. quer interromper, mas também toda a Assembleia possam ouvir as razões de V. Exa.

O Sr. Veiga de Macedo: - Se a autonomia progressiva não tem qualquer limite, de natureza e no tempo, só pode logicamente levar, mais cedo ou mais tarde, à independência das nossas províncias ultramarinas.

Se é isto o que se pretende, então pela minha parte quero dizer aqui, claramente, veementemente, que não alinho, nem nunca alinharei numa política que vise um objectivo contrário à continuidade de Portugal. Não esqueça, Sr. Deputado, que a morte dos que lutam nas frentes, porque é definitiva, não pode servir causas provisórias!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Sr. Deputado Veiga de Macedo: V. Exa. teve a oportunidade de manifestar qual a sua posição e devo dizer-lhe que não julgo inglório lutar e porventura morrer para criar novos países se assim no futuro, quando o futuro o disser, tal vier a acontecer.

O Sr. Veiga de Macedo: - Fico esclarecido.

O Sr. Cazal-Ribeiro: - Mas V. Exa. refere-se à formação de novos países?

O Orador: - Foi exactamente disso que eu falei.

O Sr. Cazal-Ribeiro: - Ai! Sr. Deputado, como está!

O Orador: - Estou bem. Muito obrigado!

O Sr. Cazal-Ribeiro: - Parece-me que está bastante mal e a precisar de médico.

O Orador: - Se acaso assim fosse, não faltam médicos na sala.

O Sr. Veiga de Macedo: - Vejo que V. Exa. se vem sentindo fadado para intérprete do pensamento do Governo. Já não é a primeira vez que V. Exa. aqui invoca o pensamento do Governo, querendo impor como sendo pensamento do Governo o que eu penso que não é o pensamento do Governo.

O Orador: - Sr. Deputado Veiga de Macedo: Eu nunca fui tido por porta-voz oficial do Governo, nem por porta-voz do Sr. Presidente do Conselho, nem de ninguém Eu falo exclusivamente em meu nome próprio e de mais ninguém.

O Sr. Henrique Tenreiro: - Sem dúvida nenhuma, e eu fico muito feliz por isso.

O Sr. Morais Barbosa: - Estou de certa maneira confundido porque não me tinha parecido que o sentido das palavras de V Exa. conduzisse à admissão de novas nações destacadas da Nação Portuguesa. Se foi esse o sentido das suas palavras eu lamento.

O Orador. - Será a sua opinião, Sr. Deputado Morais Barbosa.

O Sr. Morais Barbosa: - Lamento e tenho o direito de lamentar

Apartes do Sr. Deputado Cazal-Ribeiro.

O Sr Morais Barbosa: - O que eu ia dizer antes deste esclarecimento é que tinha entendido que o Sr. Deputado Mota Amaral defende a autonomia progressiva dos territórios, defende a maior participação das populações na gerência dos negócios que lhes são específicos dentro do todo nacional e com respeito da soberania nacional Se assim fosse, eu queria dizer que era o sentimento que tem sido patenteado por esta Câmara em todas as intervenções e é a política que nós, que vivemos e trabalhamos no ultramar, diariamente praticamos

O interruptor não reviu.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Deputado Morais Barbosa. Não posso deixar de dizer que esta posição que defende no sentido de apoiar a autonomia progressiva do ultramar coincide com a minha. Tudo se cifra no modo como nós encaramos o futuro, como prospectivamos afinal Podemos prospectivar a mais curto prazo ou a mais longo prazo Devo recordar-lhe que houve até uma pessoa que exerceu funções de grande responsabilidade no nosso país durante muitos anos que falava na criação de novos países na África Portuguesa, deferindo-a para daqui a quatro ou cinco séculos. Mas não deixava de falar nela. É tudo uma questão de prazo.

O Sr. Morais Barbosa: - Se V. Exa. me dá licença eu diria que V. Exa. há pouco quis ser profeta do passado ao pensar que, se as coisas tivessem corrido de outra maneira, talvez não tivesse sucedido o caso de Goa. Eu, por mim, não quero ser profeta do futuro.

O interruptor não reviu.

Vozes: - Muito bem, muito bem'

O Orador: - Se V. Exa. não quer ser, eu não o poderei obrigar

O Sr. Morais Barbosa: - Mas V. Exa. quer ser profeta?

O Orador: - Eu para tal não tenho dotes, mas estamos na prospectiva e não no profetismo.

O Sr Rómulo Ribeiro: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Rómulo Ribeiro: - Referindo-me também a este pormenor, relativamente à interpretação do passado, quer-me parecer que pelo menos eu fico em dúvida a respeito da interpretação que V Exa. possa fazer do pensamento do Sr. Presidente do Conselho V. Exa. disse que, se a partir de 1951 a política tivesse sido a que se seguiu ultimamente, certamente não teríamos de lamentar a perda de Goa Ora quer-me parecer que, se nós atentarmos bem nos trechos e na interpretação feita pela própria pessoa, dos trechos do Sr. Presidente do Conselho tiramos uma conclusão