O Orador: - O que, por sua vez, impõe também ao todo nacional as responsabilidades correspondentes da sua defesa e do seu progresso, como o tem feito através dos séculos aquém e além dos mares.

E chegamos deste modo à questão que verdadeiramente é suscitada a esta Câmara e sobre a qual toda a legitimidade de opinião lhe assiste e todo o dever de colaboração se lhe impõe conhecer e pronunciar-se sobre as razões que estão na base da política governativa quanto ao ultramar português e sobre elas manifestar-se apontando ao futuro, para que no seu desenvolvimento não se perca ou contrarie a legitimidade do passado.

Será essa a nossa forma de colaborar na construção do porvir, a mais nobre e digna missão que nos pode ser confiada como representantes da Nação e que devemos encarar, pese embora à responsabilidade que envolve, como privilégio histórico de que não abdicamos, pondo ao serviço da Pátria comum toda a nossa lucidez e capacidade de decisão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Por isso e para isso aqui nos encontramos.

Eis porque, em meu entender, para além de tudo o mais -e é muito-, a análise do problema ultramarino português deve assentar fundamentalmente em razões de inteligência.

Essa também a lição principal a extrair da comunicação do Prof. Marcelo Caetano à Assembleia Nacional e a maior homenagem que lhe pode ser prestada na hora presente e com ela o tributo da nossa admiração.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A verdade, porém, é que nem sempre assim tem acontecido.

Não é certamente por razões de inteligência que, por um lado, se põe a questão em termos de autodeterminação e, por outro, não se aceita que essa autodeterminação conclua no sentido da manutenção sob a bandeira de Portugal dos seus territórios ultramarinos. Porventura não se autodeterminou Angola quando, em 1961, com escassas forças de segurança, esmagou e repeliu o terrorismo?

O Sr. Serras Pereira: - Muito bem!

O Orador: -Não são de autodeterminação as lutas de defesa mantidas vitoriosamente pelas populações da Guiné e de Moçambique?

Não é certamente por razões de inteligência que, por um lado, se defende a necessidade de acelerar e promover o progresso da Humanidade e dos povos, por forma que a todos os homens possam chegar os benefícios da civilização e, por outro lado, se encarniçam os ódios raciais e se pretendem expulsar os Portugueses dos territórios que há séculos vêm desenvolvendo e civilizando e onde, mercê do seu esforço e do seu trabalho, lograram criar as zonas de maior progresso da África negra, com manifesto proveito para todos os seus habitantes, qualquer que seja a sua cor ou a sua raça.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que o confronto se faça entre o progresso material, cultural e social das populações dos territórios portugueses e o da maioria dos povos africanos e explicada fica a inveja e a cobiça com que nos atacam e pretendem espoliar.

Não é certamente por razões de inteligência que, por um lado, se defende o princípio da fraternidade e da igualdade entre os homens, independentemente da sua cor, origem ou religião, e, por outro lado, se pretende negar e contrariar a obra de aproximação e fusão sociológica levada a cabo nas sociedades multirraciais criadas pelos Portugueses, além do equador. Não esconderá tal contradição o ódio vesgo de racismos ocultos?

Não é certamente por razões de inteligência que, por um lado, se defende a política da progressiva comparticipação das populações na sua condução político- administrativa e, por outro, se procura, a todo o transe, impedir que essa participação se faça nos territórios portugueses, inquinando o seu natural desenvol vimento com os ventos da insânia e da desconfiança.

O Sr. Serras Pereira:-Muito bem!

O Orador: - Não será tal atitude prova evidente do receio de ver por esse modo cada vez mais confirmada uma unidade política que a história, o sangue e a língua forjaram através dos séculos?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não é certamente por razões de inteligência que, por um lado, se defende e apregoa aos quatro ventos a necessidade de encarar e resolver pacificamente os problemas políticas e, por outro lado, se perturbam os processos que possam conduzir a essa resolução com o sangue inocente do terrorismo e da violência.

Não é certamente por razões de inteligência que, por um lado, se defende e se sente a necessidade cada vez maior de orientar a política .internacional no sentido da formação de grandes comunidades político - económicas que permitam a coordenação e complementarização das suas parcelas (haja em vista o caso das comunidades económicas europeias, americanas ou asiáticas) e, por outro lado, se recusa à Nação Portuguesa o direito de fortalecer e reforçar a comunidade que lhe serve de suporte, estruturando-a e orientando-a no sentido da mais forte complementarização em ordem ao reforço da capacidade de cada uma e de todas no contexto da concorrência internacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não é certamente por razões de inteligência que, por um lado, se reconhece o erro tremendo cometido por alguns países europeus que esqueceram, em determinado momento, a natural complementaridade económico - política dos continentes que o Mediterrâneo separa e o Atlântico abraça e construíram o seu progresso na base de tal separação para agora, de novo, em face da crise do petróleo e das matérias-primas, apressadamente acorrerem [...] a oferecer os seus serviços ou a [...] comiseração aos povos que antes haviam [...] e, por outro lado, não se tenha a [...] que Portugal, mantendo, por [...]