O Orador: - Os nossos adversários sabem-no bem, e daí a sanha com que nos atacam e procuram afastar dessas terras, mais do que de quaisquer outras, que em seu entender cairão mais facilmente depois.

Se para atingir os objectivos apontados for necessário - e é-o certamente- acelerar os processos de participação das populações na vida político-administrativa e cultural da comunidade, não se hesite em o fazer, pois está provado que a razão e a inteligência estão do nosso lado, pelo que tudo teremos a ganhar em abrir para a inteligência e razão portuguesas a mentalidade dos povos. A tal respeito importante é outrossim que se acelere o processo de mobilização das populações nacionais, atraindo aos territórios ultramarinos cada vez maior número de originários de outras parcelas, pois dessa complementaridade sairá certamente reforçada a unidade nacional, como indispensável se torna igualmente aumentar os incentivos de trabalho e de investimento que garantam com maior confiança o futuro da comunidade Como sempre tem sido através dos tempos à comunidade portuguesa interessa que a sua unidade e o seu desenvolvimento assentem fundamental e exclusivamente na vontade e na adesão consciente da sua própria gente Só a unidade comparticipada é garantia bastante da sua continuidade, e é essa que deveremos procurar salvaguardar no futuro como tem sido no passado.

Finalmente, se para atingir os objectivos propostos for necessário prosseguir na luta - e não se vê, infelizmente, que tal possa ser evitado a curto prazo-, então que se reforcem os seus meios e se garanta pela melhor forma material e humana o seu êxito Todos os sacrifícios e toda a imaginação que para tanto se nos imponham não podem ser recusados, já que está em causa a própria sobrevivência nacional tendo por base o holocausto da melhor da sua gente - as forças armadas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mais não direi, nem precisaria, para tranquilamente, serenamente, dar o meu voto de concordância à moção apresentada pela Comissão do Ultramar da Assembleia Nacional e, para além dela, à política ultramarina portuguesa, que, sem quebra da unidade nacional, tem assegurado a continuidade e a perpetuidade da comunidade lusíada, tão sabiamente defendida nesta Câmara e na sua política pelo Sr. Presidente do Conselho Este o voto que depomos nas mãos do Chefe do Estado, representante e garante supremo da unidade e integridade da Nação portuguesa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

solenidade requeridas pela importância do momento, nem pelo brilho da exposição que nos foi feita, e inclui, por outro lado, alguns aspectos laterais que bem podiam ter sido omitidos.

Quanto ao mais, a definição das grandes linhas da política e da defesa da nossa terra faz parte da Constituição e é nelas que governantes e governados têm de apoiar a sua acção.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O problema ultramarino, porém, surgiu com tal relevância dentro e fora do País a partir da chacina do Congo e apresenta volta e meia tal acuidade, que vale na realidade a pena meditá-lo de vez em quando É o que tenho feito muitas vezes desde esse dia trágico até hoje.

Pensei especialmente nele durante a última campanha eleitoral, há cerca de quatro meses, quando perguntava se este Regime nos dava ou não satisfação. E respondi o seguinte sim, se antes de mais garantir activamente a defesa da Pátria, aqui, no ultramar e na frente diplomática, na certeza de que ganharemos ou não, conforme formos ou não os que tivermos mais resistência psíquica. Somos pela paz, mas, mesmo agora, no tempo da «paz e amor», também defendem os seus ideais e interesses todos os povos viris, como o fizemos nós para criar esta terra, desde a Fundação a Aljubarrota; como fizemos depois, numa epopeia que nos pôs a par de Roma e da Grécia, com os Descobrimentos, como o fizemos mais tarde, na Revolução de 1640, e, a seguir, mantendo vinte e sete anos de luta, arrastada ou vivíssima, na Guerra da Independência, e persistindo sempre em vinte e nove anos de batalha diplomática, pois tantos anos levou, depois de termos feito muita cristandade e de termos dado novos mundos ao Mundo, a Santa Sé Apostólica a reconhecer de novo, em 1669, na cauda de todas as grandes potências, a nossa independência.

Mostrámos mais tarde e de novo a nossa bravura e teimosia na obra de confirmação da soberania no ultramar, que começou nos meados do século XIX e durou dezenas de anos de combate Vencemos também, então, não por sermos os mais fortes, mas por termos sido os que tivemos mais resistência.

O que fizemos, pois, durante toda a existência de Portugal foi combater para não sermos castelhanos e, quanto aos próprios descobrimentos, penso que teríamos sido lançados para eles, não só por virtude de certos impulsos históricos, mas também para equilibrar a nossa pequenez na Península.

Foi uma vida sempre em luta.

Quem é atacado tem de se defender e não se defende por razões de glória ou de história; essas ré-