sultam da defesa, são consequência da necessidade de não se ser escravizado. Luta-se, sim, pela terra e pela gente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Sr Presidente do Conselho fez muito bem em despir as suas exposições dos argumentos baseados nas tradições históricas e nas glórias de antanho Não que tudo isso não tenha também o seu valor, mas em certos momentos e para certa gente 6 melhor apresentar apenas os lados práticos do problema. As guerras subversivas, como as outras - e todas tiveram muito de subversivo -, ganham-se pela teimosia, pelo afinco do povo e só se perdem quando a população radicada numa terra quer expulsar dela um opressor.

Ora os povos do nosso ultramar não foram subjugados. A invasão veio de fora e até agora, salvo num ou noutro caso esporádico, as populações não se revoltaram nem aderiram A percentagem dos combatentes africanos nas fileiras lusitanas é prova concludente desta afirmação As modificações aparatosas da política e da Administração poderiam ser necessárias num caso destes, mas não é de um problema de opressão que se trata, é do problema da conquista do ultramar por razões imperialistas e estratégicas de grandes potências mundiais Está dito e redito que quem dominar a África dominará a Europa Por isso fomos a Ceuta.

Por outro lado, as evoluções da política e da administração ultramarinas estão a ser feitas com largueza, mas com prudência As modificações aqui votadas na última revisão constitucional são prova disso A civilização e o desenvolvimento dos povos não se criam nem se apressam por constantes modificações de estruturas De resto, em momentos de perigo os governos reduzem-se e concentram-se, não se dispersam nem fragmentam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Presidente do Conselho está bem avalizado nas opiniões aqui expostas. Se não falarmos nas duas Câmaras que foram eleitas depois de ele ter assumido o poder, se não falarmos nos seus discursos aprovados pela generalidade dos portugueses, se não citarmos a disciplina dos bravos soldados que foram combater e o espírito dos entes que lhes são queridos, se não citarmos a altura a que se ergueram tantas pessoas nas regiões devastadas, podemos ainda dizer que está avalizado na sua generalidade por Salazar, quer na sua acção metódica, discreta, longa e patriótica, quer em significativas e límpidas exposições, e pela teoria dos capitães da África e da índia, dos brilhantes militares da ocupação, bem como por ilustres portugueses membros dos governos da Monarquia Constitucional e da l.ª República.

E acima de tudo, Sr Presidente, como afirmou o Chefe do Governo, é preciso ter presente que os Portugueses não podem viver na dúvida, carecem de certezas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O que se pretende em África está bem patente nos escritores marxistas e em toda a sua acção e movimento Já era tempo, depois do que se tem passado na Europa e no resto do mundo, de se ter aprendido a lição tão clara e tão singela.

Deputado eleito, sei muito bem que a minha posição ficava perfeitamente definida com o voto da moção, com cujo espírito principal concordo inteiramente, mas num momento de tão grandes responsabilidades quis apoiar claramente as linhas gerais da política ultramarina portuguesa.

Por mim, entendo, Sr Presidente, que a política geral está bem traçada É esta Relativamente à forma como é executada, nada quero pormenorizar em momento tão solene, mas creio que dentro das limitações dos homens e dos seus erros os assuntos têm sido bem encaminhados - o que não quer dizer que não deva admitir-se a discussão dos problemas quotidianos sem que as pessoas se sintam magoadas por tudo e por nada.

O Sr Almeida Garrett: - Muito bem!

O Orador: - Quanto ao essencial - repito- eu vou ainda mais longe, e penso, como tantos e tantos dos nossos através da história, que Portugal não pode acabar uma conferência de um palácio de vidro ou de uma cubata do sertão africano Se, como alguns temem, se desfizer ou morrer, que seja num campo de batalha.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Mas com a vontade dos Portugueses e a ajuda de Deus não chegaremos lá!

Vozes: - Muito bem!

O Sr Almeida Garrett: - Sr Presidente. Tenho seguido, com o cuidado atento que se impõe, o debate da moção apresentada pelo Sr Deputado Neto de Miranda Com cuidado atento, com a preocupação escrupulosa de quem tem de reflectir, de coração limpo e razão esclarecida, pois é chamado a depor, não apenas o voto da sua consciência de cidadão, mas, com ele e por ele, a opinião que entende ser a do País.

Devo dizer, no entanto, se o que tenho ouvido me reforçou a consoladora certeza de disposição patriótica unânime e indefectível, sinto, ao mesmo tempo, que pode ter-se deixado subsistir, e até alimentado, um clima de confusões indesejáveis e conclusões menos próprias.

Este sentimento, que rogo a Deus careça de bases reais e não seja compartilhado pela Nação que nos vem escutando, esse sentimento de angustiada perplexidade me obriga a subir a esta tribuna. Prometo que serei breve.

Srs. Deputados Pela voz autorizada do seu Chefe, o Governo solicitou da Assembleia o debate da política ultramarina seguida e o consequente voto parlamentar.

Como ontem nos foi brilhantemente recordado - e hoje também-, não se vê que constitucionalmente se possa atribuir ao pedido outro alcance que o de uma verdadeira e autorizada consulta nacional; de uma consulta que, nem por ser, sem dúvida, dispensável no plano do funcionamento das instituições,