deixa de ser, no entanto, altamente significativa no plano sócio - político, permitindo aferir a força de todos aqueles factores que caldeiam a coesão do grupo nacional e determinam a sua unidade.

O Sr. Aguiar e Silva: - Muito bem!

O Orador: - Tenho ouvido, ao longo destes dias, a afirmação clara e firme da decisão inabalável de permanecermos no ultramar e aí continuar a construir-lhe o futuro da Nação Portuguesa.

O Sr. Cazal-Ribeiro: - Muito bem!

O Orador: - E bom é que se afirme e bom é que se tire da afirmação todas as consequências que comporta Mas recuso-me a admitir sequer a possibilidade de se entender, aqui ou lá fora, que é sobre isso que incide o nosso debate.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não! Não nos foi posto, nunca nos poderia ser posto o dilema da permanência. No dia em que se pensasse ser esse um objecto de consulta - quando se luta, quando se sofre, quando se morre, para se continuar a ser Portugal, no seu jeito de ser diferente do mundo de intolerância racista, de inaceitáveis privilégios e desagregadora corrupção dos grandes ideias por que nesta desvairada era ainda vale a pena viver..

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -... no dia em que se pensasse poder ser esse um objectivo de consulta, nesse mesmo dia se sentenciava a própria sobrevivência da assembleia que a escutasse e do Governo a quem se imputasse a pergunta.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -. . pois nem uma nem outro nunca poderiam, sem demissão da sua qualidade de representação e governos nacionais, sem quebra grosseira dos mandatos que os tornam legítimos, nunca poderiam, repito, ter mais do que uma resposta, uma resposta sem alternativas nem hesitações, a única resposta portuguesa - e essa é permanecer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Assentes nessa resposta, tão natural e iniludível como o respirar, sem o qual a vida se acaba, resposta que tem sido prestada maciçamente ao Governo nesta dúzia de anos, das mais diversas e impressionantes formas, em autênticos e indesmentíveis plebiscitos dos Portugueses de todos os continentes, raças e credos, assentes nessa resposta, a que, com heroísmo discreto que não pode esquecer-se, ligou o seu próprio destino o grande português de boa fé e recta intenção, paradigma de dignidade, que é o Presidente do Conselho. .

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -... bom é que se proclame aqui a solidariedade que todos lhe prestamos, mas dessa estava ele já certo; e pode continuar na certeza.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr Presidente, Srs. Deputados. Assentes nessa realidade -Portugal- que nos define como povo, o objecto da consulta posta à Assembleia é, assim, o saber se, para realizar e defender os valores que enformam aquela realidade, prosseguir os seus objectivos, dinamizar o seu futuro, a política governamental está certa; saber se a orientação em que se comprometu o Governo é homologada pela Nação através desta Câmara, ou se, pelo contrário, há outras formas de proceder naquele quadro, outros caminhos a percorrer, incompatíveis com aqueles que o compromisso tomado comporta.

São os Portugueses muito propensos a sensacionalismos e à especulação infundamentada, e, perdoe-se a franqueza, porque de todos nós falamos genericamente, muito menos propensos do que deviam ser à fria reflexão de soluções e à necessária neutralidade de espírito crítico que a ela deve presidir Sem me excluir do pecado colectivo, faço todos os dias um apelo sincero e fortíssimo à independência de juízo, àquela não inquinação do pensamento, que é condição essencial de um honesto esclarecer-se. O que disse e vou dizer não vale nada, mas pretendi que correspondesse a essa atitude mental; tudo é que a caridade de Deus me tenha permitido trilhar um caminho que sei não é o mais cómodo, nem o mais popular, mas apenas o mais honesto.

Procurando enfrentar os enormes problemas do progresso moral e material da Nação Portuguesa, sempre se buscaram, em todas as épocas, as soluções julgadas mais conformes à consecução das grandes finalidades nacionais, e em cada época respondendo, evidentemente, aos condicionalismos próprios e às solicitações mais significativas ou prementes Velho de cinco séculos na sua configuração actual, não se pense que só agora o País defronta uma problemática à sua escala global. O que sucede é, apenas, que somos nós quem vive hoje, somos nós que temos de escrever a história - e escrevê-la é diferente de a ler ou querer adivinhá-la, muito embora uma e outra coisa não sejam despiciendas Por outras palavras o que nos importa, aos portugueses de hoje, é responder às nossas responsabilidades de povo, assentes sobre as grandes coordenadas que fazem de nós, efectivamente, uma Nação, encaminhando por elas o nosso esforço para uma melhoria progressiva de todo o povo que a constitui, forjando, assim, um futuro colectivo de progresso. Esse o nosso contributo para a história, essa, simplesmente, a nossa obrigação, uma obrigação iniludível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pretender-se que as fórmulas encontradas tenham força vinculativa eterna é tão irrealista, não requerido pelas coordenadas essenciais que nos guiam como Nação e até injusto e perigoso para as gerações sucessivas, como a atitude dos que, violentando o futuro por que essas mesmas gerações terão o dever de se responsabilizar, pretendem ultimar apressadamente esquemas formalmente postos hoje já