meses, através da votação que nos trouxe aqui - a nós que, como candidatos, convictamente defendemos, perante o eleitorado, as linhas essenciais do ideário político que à Nação propusera o Prof. Marcelo Caetano.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Neste contexto, porquê o convite apresentado à Assembleia? E porquê a tão clara e tão lúcida redefinição feita perante a Câmara de uma política ultramarina sobre a qual, todos nós que aqui estamos -atrevo-me a dizer assim-, não tínhamos, nem quanto aos seus fundamentos, nem quanto à sua plena inserção na raiz dos imperativos nacionais, nem quanto às direcções basilares em que se desenvolve, a mínima dúvida, a mais leve hesitação, a menor reserva?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pois, meus senhores, aqui está uma das razões por que falei em «dimensão política».

«Nenhuma dúvida pode haver» -afirmou liminarmente o Sr. Presidente do Conselho- «de que o mais grave problema que presentemente se põe à Nação Portuguesa é o ultramar ».

E comentou.

Normalmente nunca o ultramar constituiria um problema para Portugal Portugal, desde há cinco séculos, é uma Nação dispersa por vários continentes. E encontrará sempre no génio natural do seu povo e na experiência tradicional dos seus contactos as soluções adequadas ao desenvolvimento harmonioso de todas as suas parcelas, à convivência fraterna de todos os seus filhos, à fusão enriquecedora de todas as suas culturas.

Mas na hora actual, essa evolução de uma sociedade pluricontinental e multirracial é perturbada por crescente pressão internacional adversa [ ]

Daí que o Presidente do Conselho concluísse.

Em face deste ataque, que tudo indica estar em aumento, impõe-se que os Portugueses adoptem uma atitude consciente e definida E por isso se lhes pede, através da sua mais alta assembleia representativa, nova reflexão.

E aqui está, Srs. Deputados, a demonstração indiscutível do escrúpulo de um governante - e da profunda consciência que tem de que nada em política é absoluto, de que tudo, no plano da opção como no plano dos esquemas concretos, acaba, em última instância, por ser sempre mais ou menos conjuntural ou transitório.

Mostra assim o Prof. Marcelo Caetano não querer governar contra a opinião do País ou à margem dela E o escrúpulo do governante e a consciência do peso decisivo das circunstâncias leva-o, com uma isenção de que poucos exemplos se encontrarão lá fora, a repor o problema da validade actual da sua política, a consultar, através da Assembleia, o País sobre se continua a pensar que o caminho proposto pelo Presidente do Conselho é o verdadeiro caminho que à Nação convém trilhar.

Vozes:-Muito bem!

O Orador: - Tem a Assembleia de estar à altura da firme seriedade de quem se lhe dirige Há, como recomenda o Presidente do Conselho, que adoptar suma atitude consciente e definida» Há, como também nos diz, que proceder a «nova reflexão».

E de tudo isto que eu haja começado por afirmar que era solene e profunda esta hora.

Apela-se para todos nós, a fim de, como representantes do País, tomarmos a plena responsabilidade de uma afirmação consciente; porque é indiscutivelmente para exprimir a opinião do País em todas as matérias que interessam ao bem comum que aqui estamos e que interessa que aqui estejamos.

Sr Presidente, Srs. Deputados. Parece-me que seria ocioso -no respeito pela hora solene que vivemos - tentar alinhar as razões por que estamos e devemos continuar em África, nos termos e pela fornia que se consagram na Constituição.

Disse-o, aliás, exaustivamente, o Sr. Presidente do Conselho em múltiplas ocasiões ao longo destes últimos cinco anos e meio. E recapitulou-o, e sintetizou-o agora, em serena e desapaixonada análise dos factos e das circunstâncias, na importantíssima exposição que fez à Assembleia.

Parece que, face aos verdadeiros interesses do País, tal recapitularão e tal síntese não deveriam ser necessárias para o cidadão consciente e para o político esclarecido Mas foram-no, infelizmente, como as circunstâncias o demonstram.

Só que, havendo-o sido, não se tornará agora necessário que reproduza eu o que, com tanta pertinência e com tanta profundidade, já foi dito aqui.

Com a exemplar serenidade de quem raciocina e sente em termos de interesse nacional, fez o Presidente do Conselho perante a Assembleia uma longa e profunda análise das razões por que estamos no ultramar E deixem-me sublinhar-lhes, meus senhores, algo que no infeliz condicionalismo do nosso tempo interessará particularmente realçar é que não ouvimos, nessas palavras que ouvimos, o eco apaixonado e tendencioso do arrivismo de posições, de ambições ou de interesses que se querem manter a todo o custo, ouvimos - isso sim - a opinião honesta, o exame rasgado e penetrante, o tranquilo equacionamento e a ventilação de variadas hipóteses e esquemas, numa atitude que só é possível para quem, superando as suas naturais imperfeições humanas, sabe colocar a verdade nacional acima das suas certezas contingentes.

Vozes:-Muito bem!

O Orador: - Não se pode senão assentar na resposta que o País já deu ao eleger-nos para a representação que exercemos. O ideário fundamental em que assenta toda a política do Presidente do Conselho é o nosso próprio ideário, porque é o ideário que, perante o País que nos elegeu, defendemos com a intransigência que para nós resulta da sua integral inserção na linha mais autêntica dos interesses nacionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Poderia, contudo, perguntar-se- mas não se terá o circunstancionalismo alterado de modo a que lhe neguemos agora a nossa adesão e a que prefiramos esquemas diversos dos que, então, se nos afiguraram como os mais lógicos e os mais adequados?