Pois, meus senhores, feito um profundo reexame das minhas ideias, das minhas convicções, no condicionalismo presente a que têm, naturalmente, de subordinar-se- julgo que não!

Não há dúvida de que, como foi acentuado, se montou a mais incrível campanha contra o nosso país, com a mobilização de recursos avultados e de poderosas forças e com o uso das mais variadas armas- desde a calúnia à agressão

Não há também dúvida de que, na ordem interna, uma ou outra fractura se terá verificado numa frente de retaguarda -perdoe-se-me o paradoxo- que se julgaria, e desejaria, perfeitamente unida e coesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas nem uma coisa nem outra altera a substância das nossas razões de permanecer em África.

E apetece-me, a este propósito, referir um equívoco fundamental que importa esclarecer.

A perspectiva em que normalmente se olham, do balcão da metrópole, as províncias ultramarinas com problemas de terrorismo é a de constituírem, elas, territórios em guerra, sujeitando o País a enormes e -na opinião de alguns- vãos sacrifícios de pessoas e de meios.

E tudo, nesta visão desalentadora criada pela distância e pela ignorância, se reconduz então à frente militar, à frente da guerra, com a sua carga negativa de desgaste de vidas e de bens.

Cumpre, todavia, que reconduzamos as coisas ao seu quadro próprio, que será o quadro de quem, vivendo nos territórios do ultramar, ou conhecendo-os com um mínimo de suficiência, sabe da extraordinária importância que tem de atribuir-se ao que poderíamos chamar a frente da paz.

O Sr Cancella de Abreu: - Muito bem!

O Orador: - É que em Angola e em Moçambique, como até na Guiné, em Cabo Verde, em S. ,Tomé e Príncipe, em Timor e em Macau conta sobremaneira o esforço titânico que se desenvolve no âmbito do fomento económico e social dos territórios.

Não pretendo, como é óbvio, minimizar de qualquer forma o papel desempenhado pelas forças armadas. Pelo contrário, até porque todos nós temos ou filhos ou netos ou outros familiares que se bateram e batem ali, sem regatearem o sacrifício das suas energias e dos seus interesses, bem como, quando necessário, o sacrifício máximo das suas próprias vidas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - São milagres de devoção que ficarão definitivamente gravados nas melhores páginas, da história nacional, que não deixará de registar, também, o sacrifício de quantos, na vida civil, sofreram e sofrem por causa do «tremendo crime» de não renegarem Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas trata-se, relembremo-lo, de uma guerra de defesa, é, em última análise, a luta pela ordem, indispensável para se assegurar a continuidade do progresso Na base, como pano de fundo que enquadra e justifica todo este portentoso esforço militar, toda essa persistência de uma agarra» firme das populações à sua terra, encontra-se o esforço, não menos portentoso, do desenvolvimento social e económico, a mobilizar meios materiais e humanos cada vez mais volumosos e que, graças à congenial multirracialidade do povo português, à promoção acelerada de todas as populações, pretas, brancas e mestiças, se afirma, pelo seu sentido social e pelo repúdio de discriminações de qualquer espécie, em contraste gritante com o que vai sucedendo em países cuja prematura independência as Nações Unidas tão barulhentamente festejam em nome de trágicos matos que perturbam o nosso tempo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E aí está, meus senhores, a frente da paz E aí está, no fundo das coisas, para quem sabe sentar e entender honestamente as realidades, uma razão de peso para estarmos em África E aí está também, para quem não vive dos falsos «ventos da história» nem se deixa impressionar por eles, a razão por que, até face ao mundo, não podemos deixar de estar em África.

O Sr Cazal-Ribeiro: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Valerá já, porventura e para alguns, muito pouco a história, dado que, neste mundo materialista ou existencialista e desencantado dos nossos dias, parece que as razões históricas foram perdendo o vigor, foram perdendo a validade Quase nos envergonhamos de as invocar é como se o passado e as suas ideias mestras nos desacreditassem. Será que ter passado é quase como ter cadastro?

Pois, todavia, por muito que pese aos modernismos de novos e de velhos, Portugal tem um prestigioso passado, e tem um prestigioso passado designadamente no que respeita ao ultramar.

O Sr Cazal-Ribeiro: -Muito bem!

O Orador: -E a nós cabe, portanto, respeitá-lo, fazendo progredir, em prol de todos, o que ele tão generosamente nos legou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estamos aí como estivemos sempre, desde há centenas de anos - em missão, a difundir, a fomentar o progresso moral e material. Só o negará quem nunca lá esteve, quem nunca se apercebeu da obra gigantesca que, à sombra da ordem que as forças armadas asseguram, realizamos em Angola, em Moçambique, na Guiné, em todas as parcelas do espaço português.

Vozes: - Muito bem!