É admissível que um ou outro Sr Deputado tenha dúvidas sobre uma ou outra expressão ou termos da moção apresentada.

É compreensível que um ou outro Sr. Deputado se pergunte sobre se o apoio à política do Governo, definida e sustentada pelo Presidente do Conselho, os vinculará a soluções concretas de problemas concretos, ou os inibirá, se for caso disso, de exercerem, em questões determinadas, o direito de observação e de crítica que lhes compete.

Meus Senhores o que está em causa são problemas de fundo, o que está em causa são os princípios axiais de uma política que se quer confirmada ou infirmada.

Vozes: - Muito bem!

O Sr Cazal-Ribeiro: - É evidente!

O Orador: - Quando os problemas se situam a este nível, os pruridos de forma de maneira nenhuma revestem importância decisiva.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Foi, aliás, esta convicção que me relegou dúvidas e me impôs que subisse a esta tribuna.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O que está em causa são princípios em que -não duvido- comungamos afinal todos E é evidente que de modo algum se limita, por isso, a liberdade que devemos ter e o direito, que nos compete salvaguardar, de discutirmos e de criticarmos, no plano da execução, soluções que nos pareçam erradas ou ineficazes e esquemas que se nos afigurem incongruentes com os princípios estruturadores da política que aprovamos.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Cazal-Ribeiro:-É evidente!

O Orador:-Eis, meus senhores, por que a moção apresentada merece que a votemos sem qualquer reserva ou alteração.

E assim deve ser, porque é, sem sombra de dúvida, essa a linha dos verdadeiros interesses nacionais.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Sr Neto Miranda: -Sr. Presidente, Srs. Deputados Entendo ser do meu dever, como par que sou de VV. Exas. nesta Casa, acrescentar mais uma palavra às que antecederam as da moção que em nome da comissão do ultramar tive a honra de apresentar e subscrever com os colegas da comissão.

Durante os últimos trinta anos vivi intensamente a vida do ultramar, desde Goa, a Moçambique, a Angola.

O Sr Oscar Monteiro: -V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

Nelas labutam e vivem e nelas querem continuar a labutar e a viver, de mãos dadas com os seus concidadãos de todas as etnias, comungando todos da mesma aspiração serem, para sempre, portugueses.

Ora, na conjuntura actual só a política ultramarina superiormente definida pelo Sr. Presidente do Conselho defende o interesse dos goeses, damaneses e dinenses espalhados pelas várias parcelas do nosso ultramar.

Por isso, e expressando o querer do meu eleitorado, não posso deixar de apoiar incondicionalmente a moção apresentada à Assembleia pela Comissão do Ultramar, que muito gostosamente subscrevi.

O Orador: - Sr Deputado Estou-lhe muito grato pela sua interrupção Esta minha gratidão advém precisamente de eu ter vivido em Goa durante três anos - de 1945 a 1948 -, três anos que me deram a primeira noção do que era o ultramar, já não na sua vastidão, pelo tempo que demorei a chegar lá, mas essencialmente pela natureza das pessoas que constituíam, e constituem, felizmente, esta parcela ainda portuguesa Conheci-as bem de perto, quer hindus, quer cristãos, e sempre reconheci neles o maior portuguesismo. E posso afirmar que a agressão de que foram vítimas nem lhes retirou a nacionalidade portuguesa, nem eles deixaram de continuar a ser portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Conheço o ultramar e sei quanto vale no coração de todos nós.

Foram anos de experiência -que continua- sobre sentimentos e realidades, a análise dos erros dos seres humanos como das suas virtudes, do esforço enorme de cada um para o enriquecimento da comunidade, no seu meio familiar, no da sua aldeia ou povoação, no dos seus vizinhos, da sociedade na sua configuração política e social que determinava sempre uma solidariedade; de cuidado para que a lei não fosse ofendida e fossem protegidos os que a ela se acolhiam, de auxílio humano a quem o solicitava, de resistência a desanimes e de permanente fé no futuro