compadece-se, tem a misericórdia e a doçura de um Pai»..
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - E é a esta luz, que os cépticos não enxergam e os maus tentam repelir, que os olhos humedecidos da minha saudade vêem aqui bem perto, no lugar que continua a pertencer-lhe, o Rui Pontífice Sousa!
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Pinto Castelo Branco: - Sr. Presidente: Ao receber a palavra pela primeira vez nesta XI Legislatura, é com o maior gosto que dou cumprimento à praxe útil, certa e civil de cumprimentar V. Ex.ª, prestando muito sincera homenagem ao português de bem e ao Deputado ilustre, justamente consagrado pela brilhante carreira parlamentar que alicerçou em reconhecida competência, louvável independência de atitudes e apurado sentido do bem comum.
Que a presidência desta Câmara, para a qual voltou a ser escolhido pelo consenso unânime dos seus pares, seja tão feliz para V. Ex.ª como afortunada e dignificante para a própria Assembleia na presente legislatura como foi na anterior.
Estes são, além dos meus cumprimentos, os meus votos muito sinceros.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Depois da satisfação, do reencontro, a tristeza da separação: pedi a palavra para, em nome dos restantes Deputados pelo círculo de Castelo Branco, aqui prestar a nossa derradeira homenagem à memória do Deputado Rui Pontífice Sousa, caído, pode dizer-se que em serviço, na madrugada de 25 para 26 do mês passado.
Tive o triste privilégio de ser uma das últimas pessoas a vê-lo em vida pouco antes do brutal acidente que o vitimou. Passados escassos minutos, voltei a encontrá-lo já cadáver (soubemo-lo depois) na maca que o ia levar ao hospital, onde, infelizmente, os cuidados que- lhe foram prestados já se revelaram inúteis.
Uma hora antes tínhamos estado lado a lado, encerrando a campanha eleitoral, reunidos num armazém de fábrica com três ou quatro centenas de eleitores de todas as condições sociais, na trabalhadora e progressiva localidade beiroa dos Cebolais, centro têxtil do Sul do distrito de Castelo Branco, a que as próprias afinidades profissionais tão naturalmente ligavam Rui Pontífice Sousa.
Insondáveis mistérios da vontade de Deus!
A sessão, completamente informal, fora, posso dizê-lo sem falsas modéstias, um sucesso. O ambiente, o interesse do auditório, o nível e a diversidade das perguntas dirigidas aos candidatos da A. N. P. e, muito principalmente, as felicíssimas respostas que, a seguir a brilhante exposição, o nosso malogrado companheiro deu, justificaram por parte da assistência a calorosa e prolongada salva de palmas com que encerrou a reunião.
O êxito por que se saldou a última actuação de Rui Pontífice Sousa ao findar a sua derradeira campanha eleitoral não fez mais do que confirmar os sucessos que alcançara nas duas anteriores ocasiões em que se candidatou, primeiro pela União Nacional e depois pela A. N.º P., a Deputado pela Beira Baixa, e, ainda, aqueles que justamente obteve durante uma já longa carreira parlamentar iniciada em 1965. Reflexo, igualmente, dos êxitos que por mérito próprio estava alcançando como empresário privado e verdadeiro «motor de desenvolvimento», contribuindo de modo relevante para o estudo da problemática da indústria têxtil da Covilhã e para a dinamização, actualização e progresso dessa mesma actividade, sem, aliás e simultaneamente, deixar de se ocupar e de intervir nos problemas das restantes zonas do distrito.
Em âmbito parlamentar, foi notável e profícua a sua actuação, quer em brilhantes intervenções no plenário, quer no árduo e nem sempre devidamente valorizado, se bem que utilíssimo, trabalho das comissões onde era notório o cuidado, a minúcia e o afinco que punha no estudo das matérias, quer ainda, em plano local, na sua permanente preocupação em manter contacto com as pessoas, os assuntos e o próprio ambiente.
Deixei propositadamente para o fim as duas características que estou convencido mais evidenciou ao longo da sua vida parlamentar: a preocupação de independência nas atitudes que assumia e a extrema gentileza do seu trato, mesmo para com aqueles com quem se encontrava em discordância maior ou menor.
Estruturalmente português, Rui Pontífice foi sempre daqueles que nunca tergiversaram nem tiveram dúvidas quanto à razão que assiste a Portugal na luta em que se encontra empenhado contra quase tudo e contra quase todos ... paradoxalmente para bem de tudo e de todos!
Partidário do progresso em paz, da participação autêntica, da aceleração do desenvolvimento económico, social, cultural e moral do povo português, sabia e defendia que tal progresso, para ser real e duradoiro, tem de ser feito em termos habitualmente portugueses, isto é, lusíadas: multirraciais e pluricontinentais.
Daí também o seu entusiasmo com tudo quanto se relacionava com o ultramar. Daí, ainda, os seus sentimentos pelo Brasil, país irmão, onde passara, trabalhando, alguns dos primeiros anos da sua vida profissional.
Visceralmente português, Rui Pontífice Sousa era também profundamente crente. E não posso esquecer sem emoção, além de quanto muitas vezes lhe ouvi em vida, o crucifixo que trazia ao pescoço e a dezena do terço que figuravam entre os despojos piedosamente entregues à família depois do desastre de Ponte de Sor.
Reportando-me ainda ao foro familiar, creio que ajudará a completar este breve esboço do perfil do companheiro de trabalho que perdemos o seu profundo amor pela família. A sua constante preocupação, em especial pela mulher e pelas filhas, pelas quais nutria uma ternura de que várias vezes fui testemunha no nosso comum peregrinar político por terras da Beira Baixa ou de Lisboa, tantas vezes afastados, embora apenas fisicamente, da família.
Rui Pontífice morreu. Crendo em Deus, crendo na Pátria, crendo na família.
Tenho para mim que a melhor homenagem que poderemos prestar à sua memória será pedir a Deus que o tenha junto de Si; prestar aos seus o preito muito sincero da nossa profunda saudade, e conti-