Mas congratulei-me com esta feliz iniciativa da Obra das Mães pela Educação Nacional e pude reviver toda a problemática, de que já uma vez me fiz intérprete nesta Assembleia.

O Sr. Ministro da Educação Nacional teve ocasião de afirmar na abertura dos trabalhos: «Com o vosso entusiasmo nos quadros da educação cristã, somos capazes de ter cada vez famílias mais conscientes e Portugal cada vez mais progressivo »

Fez mais uma especial referência à Obra das Mães pela Educação Nacional, afirmando que ela tem realizado uma acção dedicada e cheia de amor pelos outros, pretendendo agora renovar-se e integrar-se em acções de futuro, que há novos caminhos a percorrer, exigindo apenas que se respeitem as reformas do Ministério

É muito louvável a tenacidade e nobres intenções que animam o ilustre membro do Governo.

O perigo, a meu ver, só poderia existir numa demasiada centralização da função educativa, criando-se uma espécie de monopólio escolar, resultante, até cert o ponto, de um sistema de ensino planificado

Ao lado do ensino oficial há que favorecer, e até incentivar, a criatividade das mais diversas instituições, em prol de uma política bem orientada a favor dos inapreciáveis valores da família, evitando tudo quanto possa acarretar a sua desagregação.

Vozes:-Muito bem!

O Orador:-Há tempos, ainda em pleno Inverno, passava pela madrugada numa estrada florestal da serra do Montemuro, quando fui surpreendido por grupos de crianças dos dois sexos andando apressadamente.

Passados mais alguns metros, deparo com a carrinha liceal que vinha buscar estas crianças para as primeiras aulas do dia

Estas crianças eram oriundas de meios exclusivamente rurais e muito pobres

E eu fiquei-me a pensar na explosão escolar que se promoveu em todos os sectores, nas facilidades concedidas e na orientação que se está a dar a todos estes alunos.

Promove-se a escolaridade, encaminhando-a na sua quase totalidade para o ensino liceal, e esquecem-se as necessidades prementes que a Nação tem de técnicos para os vários sectores da vida laborai.

Vozes:-Muito bem, muito bem!

O Orador: - Já abundam aqueles a mendigar empregos e escasseiam estes para satisfazerem as solicitações constantes e crescentes

A louvável decisão de instruir igualmente todos os escolares devia ser completada com a obrigação de se dar aos pais desprovidos das mais elementares noções de civismo os elementos básicos necessários à compreensão dos novos horizontes intelectuais dos seus filhos para que entre eles não se cave um fosso, tantas vezes irreparável e de trágicas consequências. Infelizmente, também já tantos casos de instrução sem educação que são nódoas nos comportamentos familiares.

E se esse fosso não se agrava, tem sido somente pela acção educadora da Igreja, que constantemente está junto das famílias a esclarecê-las e a desvendar-lhes os enigmas do verdadeiro convívio familiar e social.

Neste sector educativo teriam fundamental incidência os ensinamentos das agentes rurais, a que adiante me referirei, por serem as que possuem instrução e educação ca pazes de melhor conviverem com os agregados familiares e de os instruir e educar.

Dar a estas agentes uma função permanente na educação rural seria o complemento necessário da escolaridade generalizada nos meios rurais.

Se a isto acrescentarmos a improvisação de tantos professores, que estão longe de possuir a preparação adequada para o bom desempenho da função educativa, o facto vem trazer problemas seriíssimos, que precisam de ser ponderados sem demora por quem de direito

Vozes:-Muito bem, muito bem!

O Orador: - A isto mesmo se referiu recentemente S. Ex. o Sr Presidente do Conselho, aquando da sua visita às novas instalações do Ministério da Educação Nacional, não encobrindo as suas preocupações por tudo quanto se refere a este momentoso problema, acentuando precisamente que a missão dos professores não é apenas instruir, mas sobretudo educar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Nesta palavra está a tónica da missão a cumprir, conforme a designação do referido Ministério- da Educação

E de tal maneira que, se o problema se equacionar bem nos seus devidos termos, será ganha a batalha da educação.

De outra forma ela será totalmente perdida e não seremos poupados ao terrível julgamento que a história do futuro venha a fazer a nosso respeito.

Longe de num o pensamento de desempenhar neste momento o papel de profeta da desgraça.

Mas atrevo-me a alertar todos os responsáveis para o facto, que suponho ninguém contesta, de que o nó górdio do problema não está tanto nos educandos, mas sim nos educadores.

Vozes:-Muito bem!

O Orador: - Reporto-me ao pensamento de Platão ao dizer já naqueles velhos tempos que a educação tem por fim dar ao corpo e à alma toda a beleza e toda a perfeição de que são capazes

Missão extremamente delicada que, perante a promoção escolar de nossos dias e que entre nós se processou de forma quase explosiva, está a reclamar legiões imensas de preciosos educadores, autênticos joalheiros do que há de mais sagrado no ser humano.

É evidente quanto esta missão exige de equilíbrio

Está em causa a formação da liberdade do educando, que será nele um poder de livre escolha e que não aparece criada como por encanto. Ela terá de ser conquistada através de libertações sucessivas de muitos condicionalismos exteriores.

Está em causa por parte do educador uma posição de equilíbrio entre o que poderíamos chamar o método de não intervenção, deixando os jovens à deriva, e todo o exagero de dogmatismos que impedem o educando de qualquer diálogo com o educador.

Está em jogo a própria liberdade do ensino, diametralmente oposta a toda a forma de métodos mono-