segundo pensam - progressivamente se colectiviza, procurem tomar a dianteira aos acontecimentos, não só descobrindo analogias entre as doutrinas de Jesus e as de Cari Marx, mas também combatendo a posição de Portugal, que tão antipática se mostra ao mundo comunista. Supõem talvez essas piedosas instituições e esses preclaros eclesiásticos que o maravilhoso poder de adaptação da fé às circunstâncias temporais reside precisamente na viragem oportuna E como, no íntimo, duvidam da apregoada essência divina da sua igreja, ou temem que o Senhor abandone a sua santa casa às vicissitudes dos tempos, pensam forçar deste modo a mão de Deus na perpetuação do culto entre as humanas criaturas.

Sr Presidente e Srs Deputados A verdade é que todas essas forças adversas têm corroído, num trabalho de sapa, o moral dos nossos moços A verdade é que, lamentavelmente, parte da juventude portuguesa, decerto por negligência de formação e por descaso de que nos devemos penitenciar, tem resvalado no cepticismo, na inércia moral, na aderência ao figurino estrangeiro dissolvente e extremista E, saturada e obcessionada pela avalancha de propaganda clandestina, ora se arrasta sem um interesse nem um ideal, ora sofre esporádicas febres revolucionárias, e então destrói, pelo prazer de destruir, e comete acções abomináveis de indisciplina cívica e de má educação.

Mas acaso será de todo responsável essa mesma juventude que, como todas as juventudes, carece de um ideal e de um estímulo, e à qual, quase que exclusivamente e devotadamente, 6 servido a toda a hora o panfleto, uma propaganda hábil e aliciante, com os atractivos românticos da clandestinidade, do risco, das miríficas promessas?

É intuitivo que a influência ideológica de países decadentes e em crise moral, apeados de orgulho e de princípios, porque foram despojados e aviltados nas suas gentes e nos seus bens, não poderá servir de exemplo salutar para espíritos moços, e da mesma forma lhes não poderá servir de exemplo a revolução social pregada por aqueles que, portas adentro, aferrolham ou expulsam os que ousam pensar por si próprios e discordar dos programas impostos.

Mas por que não persuadir a nossa juventude a crer em si mesma e a pensar pela sua própria cabeça? Por que não fazê-la sentir a falta de originalidade e até a abjecção de decalcar figurinos estrangeiros?

Pensar à portuguesa, refundir à nossa maneira aquilo que está mal feito, participar com crítica construtiva na melhoria das instituições - pois que, forçosamente, todas as obras e todos os homens são imperfeitos -, aproveitar lá de fora apenas os benefícios da técnica e da ciência - eis o que conviria e caberia à nossa juventude.

E, na realidade, quanto ideal e quanta tarefa cabe aos jovens nos dias que correm! E que ideal mais nobre para a juventude em crise do que correr ao ultramar, a trabalhar pelo progresso daquela terra onde a juventude de ontem já tão esforçadamente labutou?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Terra onde se batem soldados e populações, apenas porque ali (e isto não é mera figura de retórica) jazem riquezas e potencialidades extraordinárias que despertam cobiças e invejas do exterior Com efeito, lá está, naquele solo africano, o açúcar, o petróleo, o café, o chá, o ferro, o sisal, os cereais, os diamantes, quase tudo o que a terra pode dar e que constituirá a prosperidade, a supermacia, a riqueza e o bem-estar social do Portugal de amanhã, em confronto com uma Europa resvalando na demissão e na falência.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E que maior apelo do que mudamente faz qualquer das parcelas ultramarinas, que carece de técnicos, de artesãos, de colonos rurais, e apenas aguarda o entusiasmo, a f é e o apego ao trabalho de todos os nossos jovens? O ultramar ameaçado e cobiçado deveria, sem dúvida, representar uma espécie de cruzada para a juventude portuguesa, em parte amolecida e sem ideal E todo o ímpeto e todo o entusiasmo de que a juventude é capaz deveriam ser encaminhados para a batalha do progresso e da promoção social das populações, que se está levando a cabo além-mar.

Rapidamente e fatalmente os homens amadurecem e envelhecem Praza a Deus que os jovens de hoje não tenham amanhã de penitenciar-se e arrepender-se dos erros e das ilusões dos verdes anos Praza a Deus que os jovens de hoje não venham a acusar-nos de destemo e de inércia; não venham a culpar-nos do abandono a que os temos votado! Porque eu não vejo, sinceramente, que nos estejamos a esforçar na elaboração de uma contrapropaganda eficiente e arguta.

Vozes:-Muito bem!

O Orador: - Vejo sim, quando muito, uma actividade desportiva insuficiente, umas paradas levadas a efeito em dias festivos, uns cartazes, uns póstera e uns slogans banais, desprovidos da capacidade de abordagem de espíritos moços - e tão ingenuamente infantis, que com toda a facilidade são postos a ridículo Não vale a pena, de facto, gastar dinheiro em amadorismos bem intencionados paira combater abalizados mestres da propaganda e da manigância É o mesmo que pretender lutar com varapaus contra tropas de choque bem adestradas e bem armadas.

O Sr Moreira Pires: - V. Ex. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr Moreira Pires: - A minha ideia pessoal é esta: em relação à juventude, pelos contactos que tenho tido, eu direi que a melhor doutrinação que podemos fazer para os jovens de hoje, transviados como se encontram na sua grande percentagem, é o exemplo que lhes dermos Eles vêem nos mais velhos uma falta de coerência por vezes alarmante Se nós formos coerentes e iguais a nós próprios, essa será a melhor forma de educar os portugueses de amanhã.

Vozes: - Muito bem!

O interruptor não reviu