de 15 de Março de 1961 e nos dias seguintes, é homenagem que lhes continua a ser devida pela Nação, e que nós, aqui nesta Assembleia, como seus representantes, não podemos deixar passar em claro, até porque esse 15 de Março de 1961, no seu dramatismo espantoso e alarmante, marca o começo de uma nova etapa para a Nação, simbolizada por uma tomada de consciência colectiva que mais uma vez se verificou, como já tinha acontecido, anteriormente, em momentos dramáticos da nossa história
Esse 15 de Março podia ter significado a perda da nossa independência, se as populações de Angola, brancos, pretos e mestiços, não se tivessem unido, de dentes cerrados e pés firmes, na determinação inabalável de defender aquilo que por direito lhes pertencia, ou porque aí nasceram, ou porque foi essa a terra que escolheram para viver e nela gastarem o melhor das suas energias
Com espanto, com angústia e com uma fé inabalável na sua força interior e no auxílio que a metrópole lhes enviaria, porque nem um só momento lhes passou pela cabeça que pudessem ser abandonados, aguentarem desde o Zaire até ao Dange, e ficarem vigilantes em todo o resto da província.
Foram testemunhas de cenas tenebrosas de ferocidade praticadas por homens alucinados pela droga e manejados cobardemente por outros que ficavam na retaguarda, mas também testemunharam verdadeiros actos de heroísmo, abnegação e lealdade
Foi um tempo cheio de humanidade e de tragédia, de dor e de esperança, que jamais poderá esquecer a quem o viveu!
Mas as virtudes da raça mantinham-se íntegras, e os portugueses de Angola sabiam que os seus irmãos da metrópole estavam com eles, e lhes levariam o seu auxílio
E, de facto, quando no dia 13 de Abril o Presidente Salazar ordenou, para Angola, «rapidamente e em força», ninguém ficou surpreendido porque, no íntimo de nós, sabíamos que assim aconteceria
Todos os que lá estávamos recordamos ainda a chegada do primeiro contingente militar e a comoção com que os recebemos
Para esses primeiros soldados as dificuldades foram grandes, quase heróicas, e todos vivemos essas horas com eles, de alma e coração Quem poderá esquecer o Dange, Nambuangongo, Mucaba, Quitexe, Santa Cruz, Damba e Pedra Verde e tantos outros lugares mártires da alucinação terrorista, onde os nossos militares se revelaram portadores da mesma fibra dos do passado?
A pacificação foi, de facto, valorosa para os nossos soldados, e era imprescindível, mas eles foram também grandes na construção daquilo que viria a ser a «Nova Angola»
E passados estes anos todos e olhando para trás, mais nítida se torna a obra por eles realizada, porque a sua marca está em toda a parte, desde o Zaire ao Cunene A luta está praticamente reduzida a raras infiltrações terroristas, de muito menor amplitude do que aquelas que se verificam actualmente em qualquer parte do chamado mundo civilizado.
Mas a acção das forças armadas - mais de metade das quais são recrutadas na província - continua a ser tão importante como anteriormente, não só como força dissuasora, para que o inimigo não mantenha qualquer ilusão acerca das suas possibilidades, mas ainda porque eles são a força viril de que Angola não prescinde.
Ouve-se dizer muitas vezes, e repete-se como lugar-comum, que a guerra não se vence só pelas armas.
Todos sabemos isso, e ninguém ousaria duvidar até porque em Angola temos o exemplo
Em todos os sectores da vida angolana os soldados estiveram e continuam presentes, ensinando nas escolas e na Universidade, tratando e curando nos hospitais e nos postos médicos espalhados de norte a sul da província, até aos pontos mais remotos da floresta, abrindo estradas, pontes e aeroportos, colaborando no reordenamento rural e tornando-se depois os seus mestres-escolas. Em toda a parte eles têm estado presentes, e Angola já não saberia viver sem eles.
Construíram a paz e têm agora o direito de participar nela e de a defender, não só para si, mas também para os seus descendentes A terra é grande e fecunda, e está provado que brancos, pretos e mestiços podem aí conviver e entreajudar-se irmamente para a construção do futuro a que têm direito.
Não somos racistas e repudiamos o racismo com toda a nossa alma Queremos uma Angola grande e com possibilidades iguais para todos, donde as questiúnculas demolidoras sejam banidas e apenas atentos a uma finalidade comum, que é a sua grandeza e de Portugal inteiro.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Não tenho a menor dúvida de que assim será, baseando-me no conhecimento que tenho das populações de Angola, na política definida pelo Governo e na fé que mantenho viva na juventude portuguesa.
Porque hão-de os Portugueses mourejar em terras alheias, muitas vezes à beira da exaustão, quando possuem um património que lhes permite dar largas a uma imaginação sem limites?
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Construir um mundo novo não será a mais aliciante das perspectivas? Todos sabemos que sim e confiamos na generosidade dos jovens, no seu espirito de aventura e iniciativa realizadora
A política ultramarina do Governo é toda orientada no sentido de proporcionar aos portugueses de todas as etnias iguais oportunidades, definida não só para o presente, mas também para o futuro, de visão larga e sem demagogias
Mas é preciso que a demagogia não surja de sectores da retaguarda e que algumas pessoas não se enebriem com as próprias palavras e, endeusando-se, se julguem no direito de se sobrepor à consciência da Nação
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - No venerando Chefe do Estado, comandante supremo das forças armadas, reside a garantia da unidade da Nação, que S. Ex.ª com tanta nobreza tem servido, não se poupando a esforços de qualquer ordem.
Vozes: - Muito bem!