grada em produtos fabricados com todas as vantagens resultantes dessa integração.
Aconteceu, porém, que a partir do início do 2.º semestre de 1973 o fornecimento de pastas de celulose à indústria nacional de fabricação de papel começou a ser feito com irregularidades e anomalias que obrigaram algumas unidades fabris a suspender por períodos mais ou menos longos a sua laboração nos meses de Outubro a Dezembro, por falta de matéria-prima, e outras se viram obrigadas a alterar os seus fabricos ou, o que é pior, a adulterar a qualidade dos seus produtos.
Neste momento, é do meu conhecimento que dentro de breves dias irá acontecer igual fenómeno, principalmente porque os fabricantes de celulose resolveram não fabricar pastas Kraft de pinho branqueado, com o fundamento de que não conseguem obter no mercado madeira de pinheiro necessária para entrar em laboração.
Em face destes acontecimentos e da sua repetição possível, surgem-nos duas perguntas:
2) É verdadeiro ou falso o fundamento - não existência de madeira no mercado - invocado como razão para não fornecer pastas de pinho branqueado?
Em relação à primeira pergunta, creio que a resposta não poderá deixar de ser afirmativa, sob pena de se criar uma situação imoral de vender aos estrangeiros matérias-primas que produzimos no País, obrigando depois a indústria nacional a adquiri-la nos mercados internacionais.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Em relação à segunda pergunta, são as estatísticas que nos vão dar a resposta.
Reportando-me a dados estatísticos fornecidos pela Secção de Celulose e Aglomerados de Madeira da Associação Industrial Portuguesa de Dezembro de 1973, pudemos verificar que, em relação à madeira de eucalipto, tendo em conta as autorizações de fabricação de pastas concedidas ultimamente, toda a produção de madeira, l 600 000 st, está a ser consumida pela indústria de celulose e sê-lo-á igualmente até 1985, segundo projecções realizadas até esta data.
Em relação à madeira de pinheiro, cuja produção actual é de 7 000 000 st, deixando disponíveis para a indústria de celulose 2 300 000 st, tem esta um consumo actual de l 000 000 st, sendo o restante consumido pelo fabrico de aglomerados, serrações e outras, num total de 6 000 000 st, o que ainda permite um saldo favorável de l 000 000 st.
Até 1980, pelas projecções realizadas, a produção de madeira satisfará o consum o, mas a partir desta data haverá déficit da matéria florestal.
A resposta desta estatística é, pois, posterior também, excepto, a partir de 1980, para a madeira de pinheiro, que não satisfará as necessidades, a reclamar imediatas e sérias medidas para uma plantação intensa e eficaz desta espécie florestal.
Não parece, pois, verdadeiro o argumento da indústria de celulose, que não consegue obter madeira de pinheiro no mercado.
O que certamente acontece é que ou não dispõem de um serviço de abastecimento de matéria-prima, ou, dispondo deste, não é eficiente, nem tem o dinamismo necessário para concorrer com as outras indústrias que utilizam a madeira, pois sabemos estar neste momento ainda a exportar-se grandes partidas de madeira em natureza, para alimentar indústrias de celulose estrangeiras.
Ora, isto é que me parece ser necessário evitar, custe o que custar, que estejamos a exportar madeira em natureza, como se procede neste momento, apenas com a mira do lucro, que provoca uma alta de preços porventura insuportáveis para a indústria de celulose nacional, cujos preços de venda às fábricas nacionais foram fixados pela Portaria n.º 831/73, de 22 de Novembro.
Acontece, também, que, por despacho de S. Exa. o Secretário de Estado do Comércio de 5 de Janeiro último, foi garantido o abastecimento da indústria de papel nacional através da reserva de um contingente de 125 000 t de pasta, segundo um esquema que prevê, além de outros, o fornecimento de 38 500 t de Kraft de pinheiro branqueado, cujo consumo estaria assegurado por contratos celebrados com as fábricas de papel e que as fábricas de celulose dizem não ter possibilidade de cumprir pelo invocado motivo de falta de matéria-prima.
Que se vai passar então?
a) Irão as fábricas de papel parar uma vez miais por falta de pasta de pinho branqueado, com todos os inconvenientes de ordem económica, política e social? Ainda com todos os reflexos num sector no qual se vem fazendo um esforço notável de apetrechamento e valorização para competir no estrangeiro e evitar importações?
Não será este procedimento da indústria de celulose uma recusa de fornecimento de pastas previsto no n.º 6 da Portaria n.º 831/73?
b) Irão as fábricas de papel adulterar as qualidades dos seus produtos, quando todos os sectores económicos estão procurando qualidade?
c) Ou serão impedidas de cumprir os seus contratos para o mercado interno e externo, com todos os inconvenientes daí resultantes, já que sem a pasta de pinheiro não é possível fazer papel em condições?
Deixo estas interrogações a quem de direito, por me parecerem dignas de reflexão, já que estão em jogo os interesses de um sector industrial da maior relevância e o interesse geral do País, que tem de sobrepor-se a quaisquer interesses individuais ou sectoriais e que temos de defender custe o que custar.
No momento em que contra o nosso país se encarniçam cada vez mais preços de todas as naturezas e travamos uma guerra que animosamente nos é imposta por potências estrangeiras, não há uma só frente de batalha, todos os sectores de actividade dos Portugueses são frentes, nas quais temos todos de trabalhar e lutar para, com a ajuda de Deus, fazermos Portugal mais próspero, mais forte e mais digno.
Vozes: - Muito bem !