mento do porto do Funchal e construção do cais de Porto Santo, aspiração legítima dos seus habitantes, a que acrescem novas exigências impostas pelos empreendimentos que para ali se projectam.

Terminamos, Sr. Presidente e Srs. Deputados, manifestando a esperança 'de que o Governo não fique insensível ao veemente apelo da população madeirense, respondendo com prontidão às vozes de alerta, que em todas as tribunas se levantam, ordeiramente, mas com perfeita consciência da gravidade da hora que vivemos.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. José Alberto de Carvalho: - Sr. Presidente e Srs. Deputados. Através dos séculos, a cidade do Porto tem sido o berço de portugueses ilustres, que, por qualquer forma, da lei da morte se foram libertando e hoje engrandecem as páginas da sua história.

No momento em que passa o aniversário da morte do Dr. António Emílio de Magalhães, homem do Porto, que a cidade consagrou, honrando uma das ruas com o seu nome, julgo oportuno recordá-lo desta tribuna, não só porque é este para mim o lugar próprio, mas ainda porque foi esta Assembleia que ele escolheu como aliado para a batalha com que quis encerrar o ciclo da sua vida.

Homem de nobres ideais, de vontade firme e indomável, o Dr. António Emílio de Magalhães foi um lutador bondoso, compreensivo e alegre, mas decidido e contundente. Toda a sua vida se desdobrou entre a defesa intransigente da dignificação das condições de trabalho das pessoas humildes e um grande amor à Pátria Portuguesa Sem outra política senão a que decorria dos princípios que defendia, gozava da estima e da admiração de todos os que tiveram a grande felicidade de o conhecer e de com ele conviver.

Era um insatisfeito consigo próprio, na lurada consciência do seu valor e dos talentos que lhe haviam sido confiados, bem como na compreensão da sua responsabilidade como médico e como homem. Na consecussão da tarefa que se determinara, caminhava com a naturalidade com que se processam as obras grandes.

A verticalidade das suas atitudes, a grandeza dos ideais que defendia e o grande poder de argumentação que lhe vinha das suas certezas, apoiados numa total isenção no que se referia à sua própria pessoa e até ao seu bem-estar, que sempre considerou factor secundário na dicotomia em que se vivem as vidas, fizeram dele um homem amado pelo povo e respeitado pelos responsáveis.

Viveu com os pés no chão e os olhos fixos nas estrelas.

Fundador da Liga de Profilaxia Social, fez dela uma bandeira, à sombra da qual se acolhem os carecidos de justiça e os portadores de ideais, de entre os quais o seu melhor e mais próximo colaborador, Dr. Gil da Costa. Certo de que a educação e a cultura são as bases fundamentais em que assenta todo o processo de desenvolvimento e promoção da pessoa humana, fez da Liga uma fonte de cultura, editando publicações diversas, promovendo conferências e colóquios, que levaram aos seus salões nomes grandes das ciências, da sociologia e da medicina, nacionais e estrangeiros, que desse modo puderam contribuir para a valorização do património comum. Acreditando nos homens, amava as crianças, que queria ver acompanhadas desde a primeira infância numa formação bem portuguesa e por formas válidas de educação Nesse sentido, deu-se à campanha da instalação de escolas infantis do tipo João de Deus, aquele que mais lhe significava como concretização da sua forma de pensar, embevecendo-se na contemplação daquelas crianças que ali se educam em amor.

Sr. Presidente O Dr. António Emílio de Magalhães morreu vivendo a maior batalha da campanha que foi toda a sua vida. Não sei se a venceria se mais anos vivesse, creio mesmo que não, mas do que estou certo é que nela só envolveria totalmente e sem desfalecimentos.

Ciente de que a língua é a maior riqueza de um povo, queria a língua portuguesa preservada de toda a espécie de deterioração. O livro O Respeito Devido à Língua Pátria, que a Liga editou, foi um grito de alarme que mereceu o maior aplauso e a leitura atenta dos estudiosos. Poder-se-á dizer até que foi ele a motivação necessária que levou os Deputados avisantes, dos quais destaco o ilustre Deputado Dr. Elísio Pimenta, a efectivar o aviso prévio sobre a defesa da língua portuguesa, que nesta Assembleia teve lugar na sessão de 1969.

Sr. Presidente e Srs. Deputados. A defesa da língua portuguesa foi a última batalha do homem que hoje aqui recordo Nela ele se envolveu com todo o entusiasmo que era apanágio da sua personalidade, lançado para a frente em busca das soluções, acutilando os responsáveis sem tibiezas e com todas as suas forças, pois era essa a sua maneira de lutar. Ele sabia quanto difícil era vencer e por isso proclamava sem rodeios que a Liga Portuguesa de Profilaxia Social lutaria para que a «língua-mãe não se arrastasse sofredora e enxovalhada sob o azorrague dos insultos dos néscios e até de outros...».

Julgo, pois, ser a melhor forma de lhe prestar a minha homenagem renovar hoje o seu apelo ao Governo no sentido de que tome para si a tarefa de dar corpo aos votos da moção aprovada nesta Câmara em sessão de 7 de Fevereiro de 1969, o que faço usando as suas palavras.

Oxalá que todos quantos têm a missão irrecusável de velar pela defesa do património colectivo atentem nas palavras dos ilustres Deputados que participaram na discussão do aviso prévio e se resolvam a encarar, com presteza e amplitude, as medidas que se impõem para preservar da ruína o idioma nacional, instrumento único que individualiza um povo, veicula uma cultura, identifica uma civilização.

Se é que este facto representa uma homenagem pela oportunidade que as suas palavras revelam nos dias de hoje, em que tantas certezas que formam as bases fundamentais da Nação são envolvidas em discussão, é meu desejo que, como tal, ele seja interpretado.

O Dr. António Emílio de Magalhães morreu igual a si próprio, em luta aberta contra o imobilismo e o derrotismo, pela vitória das causas justas e pela maior grandeza da Pátria.

Vozes: - Muito bem!