do falecimento do Or. Georges Pompidou, mui ilustre Presidente da República Francesa Figura eminente não apenas na política da França, mas também na da Europa, e ainda na do Mundo, o seu desaparecimento vem, por certo, causar perturbações de vulto em numerosos e complicados problemas de diversa índole internacional, que neste momento se encontram em plena discussão.

Antigo e dedicado colaborador do general Charles de Gaulle, Pompidou desempenhou, em França, os mais elevados e responsáveis cargos Doutorado em Letras, professor em Marselha e em Paris, conselheiro municipal, Deputado, Primeiro-Ministro e Presidente da República, soube ele, em todas as situações, actuar serena e firmemente, com justo equilíbrio, grande bom senso, indiscutível coragem moral e elevado sentido de patriotismo.

Era conhecida a sua simpatia por Portugal, bem manifestada ainda quando da Cimeira dos Açores, em Dezembro de 1971, na reunião que na ilha Terceira teve com os Presidentes Nixon e Marcelo Caetano.

Doente há mais de um ano, não quis abandonar o seu posto, que sempre serviu com a maior dedicação, e apenas desde há pouco se viu obrigado, por motivos de saúde, a cancelar algumas cerimónias de representação inerentes às suas funções. A morte do Presidente Pompidou, apesar de não ser uma completa surpresa, não era esperada para tão cedo Trabalhou e lutou até ao fim da sua vida, caindo em pé, como heróico soldado batalhando pelos ideais da sua pátria.

O Mundo, consternado, curva-se perante a sua memória. A Europa, como disse Walter Scheel, perdeu um dos maiores estadistas do nosso tempo A França chora, com sinceridade, o seu grande chefe. Portugal vê, com amargura, apagar-se um bom amigo.

Sr Presidente e Srs. Deputados Julgo interpretar o espírito desta Casa e, através dela, os desejos do povo português, apresentando à Mesa, como presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros, uma proposta para que neste momento doloroso se manifeste à Assembleia Nacional francesa os votos de sentimentos da Câmara dos Deputados de Portugal pelo lamentável falecimento do Presidente Georges Pompidou.

Nesta ordem de ideias, remeto a V. Exa. a seguinte:

Ao abrigo da alínea e) do artigo 24 º do nosso Regimento, e como presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros, tenho a honra de propor que se manifestem à Assembleia Nacional francesa os votos de muito sincero e profundo pesar da Assembleia Nacional portuguesa pelo infausto falecimento do Presidente Georges Pompidou.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Srs Deputados. Em nome da Mesa, desejo associar-me à proposta apresentada pelo Sr. Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros

Eu próprio teria tomado a iniciativa de propor a VV. Exas. este voto de condolências e de sentimento, se o Sr Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros não me tivesse manifestado o mesmo desejo, no que eu lhe cedi, por entender que, dada a sua qualidade, estava perfeitamente dentro da sua competência e seria até reforçado por esta mesma competência.

O Presidente Pompidou era um homem de excepcionais qualidades, não só na sua brilhantíssima carreira política, mas também, enquanto trabalhou no sector privado, atingiu culminâncias demonstrativas dessas qualidades verdadeiramente excepcionais, que eram geralmente reconhecidas, apreciadas e respeitadas.

Usou dessas qualidades no melhor interesse do seu país, com uma dedicação que o levou, poucos minutos antes da morte, a ter que cancelar compromissos que havia tomado no desejo de servir até ao último momento.

Era conhecido que causava apreensões o seu estado de saúde, mas ninguém esperava um desenlace tão pronto.

Ter servido sacrificadamente o seu país até ao último momento é, realmente, não só mais um motivo para acrescentar a reputação do Presidente Pompidou, mas um exemplo para os homens públicos de todo o mundo.

Nós, Portugueses, devemos deplorar especialmente a sua perda, porque era um grande estadista, e um estadista latino, com sensibilidade especial para os problemas, que as condições geográficas tornam também nossos, que as condições temperamentais também tornam nossos.

E é sobretudo de deplorar em todo o mundo a perda de um verdadeiro homem de Estado, daqueles que sabem pôr ao serviço do seu pais não só a capacidade conjuntural de concitar apoios e adesão política, como a capacidade de verem longe nos desígnios mais convenientes aos interesses das suas pátrias.

O modo como se processa a política em todo o mundo é mais favorável aos capadores dos entusiasmos do momento que aos discretos servidores das grandes linhas dos interesses nacionais, que nem sempre são as linhas mais populares perante os portadores dos votos que consagram o poder O Presidente Pompidou conseguiu captar os votos que consagram o poder, mas era também animado por desígnios de grandeza no serviço do seu país Devemos saudá-lo como exemplo de uma raça de estadistas que, para mal do mundo, começa a ser rara.

Pausa

Vai ser lida a proposta do Sr Deputado Cancella de Abreu.

Foi lida. É a seguinte

Proposta

Ao abrigo da alínea e) do artigo 24 º do nosso Regimento, e como presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros, tenho a honra de propor que se manifestem à Assembleia Nacional francesa os votos de muito sincero e profundo pesar da Assembleia Nacional portuguesa pelo infausto falecimento do Presidente Georges Pompidou.

Sala das Sessões da Assembleia Nacional, 3 de Abril de 1974 - O Deputado, Lopo de Carvalho Cancella de Abreu.