para actividades de maior gabarito financeiro e tecnológico. E porque a sua presença neste empreendimento vem reforçar a participação nacional no esquema de abastecimento que eventualmente resulte da descoberta de campos petrolíferos comercialmente exploráveis, desejo sublinhá-la com uma especial palavra de reconhecimento pela iniciativa a que agora se abalançam e que oxalá vejam premiada pelos êxitos que esperam e merecem.

A outra palavra, também de reconhecimento e apreço, vai para a reduzida equipa de servidores da Secretaria de Estado -e agora do Ministério da Indústria - que integraram o grupo de trabalho directamente encarregado das negociações e que em tão curto lapso apreciou e joeirou as vinte e cinco propostas recebidas para o off-shore, negociou com os candidatos e criteriosamente os graduou, preparando os contratos de concessão, cujas linhas fundamentais foram aprovadas pelo Conselho de Ministros em 19 de Fevereiro e agora outorgados.

Num tempo em que a função pública e os seus servidores tão incompreendidos e malsinados andam é de boa e elementar justiça que esta Assembleia e o País saibam, por sentido testemunho de quem com eles serviu e trabalhou, que o Governo e a Administração ainda contam com funcionários de rara probidade e eficiência, que não medem canseiras e sacrifícios no que dão ao serviço da indústria e da Nação. Se na frieza do Regimento desta Casa pode caber esta nota de calor pessoal, quer dizê-lo aqui, por imperativo de consciência, o último titular da Secretaria de Estado da Indústria, que viveu o meio ano final da sua gestação permanentemente inquieto e conturbado pela crise do petróleo e que não pode, por isso, deixar de assinalar o grande passo que no dia 28 se deu e realçar a dedicação de quantos o prepararam e tornaram realidade.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Gonçalves de Abreu: - Sr Presidente, Srs. Deputados Da análise que anualmente nos facultam os Caminhos de Ferro Portugueses, do relatório e contas da sua exploração, é-nos dado conhecer as conduções de desequilíbrio financeiro em que vive esse prestimoso serviço público. Não desejamos tratar aqui o assunto em relação aos resultados apurados ou às causas que os determinam, dado que estes já têm sido tratados por analistas qualificados, sem que, todavia, se tenha encontrado o elixir da «saúde» para debelar o mal O que se sabe é que a forte concorrência da camionagem e o crescimento do parque automóvel não deixam clientes bastantes para viajar nas suas composições. Daí que a utilização destas raras vezes atinja os 50% dos lugares disponíveis, e isso é pouco Ora, porque se trata de um serviço público de alto interesse nacional -qualificação que ninguém ousa contestar-, o Estado cumpre o indeclinável dever de cobrir, cada ano, o déficit da sua exploração, o que é int eiramente razoável, pois, de contrário, já teriam encerrado há muito as suas portas, com as naturais consequências que tal solução implicaria.

Mas se estamos de acordo com este estado de coisas, porque vimos tratá-lo nesta Assembleia?

A razão é simples.

A nossa juventude, quando chega a hora de prestar o serviço militar, recebe uma guia de marcha que lhe faculta a viagem, gratuita, da sede da sua terra natal até ao regimento onde é incorporada. Depois, quando no decorrer da sua nóbil missão de servir a Pátria, é dispensada para ir ver a família e visitar a sua terra, é vê-la por essas estradas fora exibindo um cartão com o nome da localidade para onde quer ir e a solicitar a generosidade dos automobilistas para lhe dar uma «boleia».

Mas nem sempre logra alcançar esse objectivo, e lá vai essa jovem rapaziada a calcorrear quilómetros e quilómetros de estrada, na maior parte das vezes sob o peso ainda da incómoda bagagem, até alcançar o destino, quantas vezes exausta e a horas de regressar. Encontramo-la cada fim de semana, na alegria da sua juventude, ao longo das estradas deste país, na mesma via sacra de matar saudades pela separação da família e da terra que a viu nascer.

E é esta juventude preciosa que deixa a casa paterna, a escola, a fábrica e o campo - onde sempre viveu e tem o seu coração- para servir, abnegada e corajosamente, a Pátria, que tanto ama e estremece, que deixamos, impávidos e serenos, sem darmos conta das suas carências, entregue ao seu desconfortável destino!

Pois bem!

Se o Estado, como se impõe, tem de cobrir o déficit da exploração, parece-nos que seria acertada a ideia de pagar, sim, mas em termos de serviços prestados às suas forças armadas, concedendo a cada mancebo, em férias ou licença graciosa e de fim de semana, passagem gratuita da sua unidade até à sua terra natal e regresso. E então, sim, o dinheiro despendido teria outro significado e utilidade. Para além disso, dignificava-se a situação desses rapazes, evitando-se o espectáculo deprimente de os ver caminhar, penosamente, ao longo das estradas e dependurados, às vezes, em camionetas de carga, a solicitar passagem a quantos de nós, que nem sequer os atendemos, com receio de qualquer acidente que possa ocorrer, da responsabilidade das suas consequências, e tantas vezes sob o sol escaldante e a intempérie em dias de rigoroso Inverno!

Vozes:-Muito bem!

O Orador: - Com um nadinha mais de dispêndio, mas insignificante em relação aos serviços que prestam e ao carinho que lhes devemos, alargar-se-ia esse benefício no acesso aos outros transportes públicos, isto é, à utilização de camionetas, quando as localidades onde residem não tenham caminho de ferro.

Se tivesse viabilidade esta sugestão -e até parece que poderá ter-, criar-se-ia outro optimismo na nossa juventude em relação à prestação do serviço militar, prestigiar-se-ia a função, ategrar-se-iam tantos corações, que, sem nada de seu, além do amor à Pátria e da dedicação à família, ficam a deambular pelas ruas, roídos pela saudade, em intermináveis fins de semana, por não terem meios, de qualquer espécie, para realizarem o seu sonho maior: ir à sua terra!

É isto, Sr Presidente e Srs. Deputados, que, respeitosamente, pomos à alta consideração de VV. Exas. e