para causar muitos prejuízos morais nas almas de quase todos e materiais nos haveres de muitos.

Todos nós sabemos que aquelas ilhas pertencem a uma zona sísmica quase sempre em actividade, que de tempos em tempos recrudesce com frequentes e quase contínuos abalos de terra. Foi assim em 31 de Agosto de 1926; em 1957 e 1958, na ilha do Faial; anos depois, em 1964, na vizinha ilha de S. Jorge e agora na ilha do Pico e novamente na ilha do Faial.

Desde o dia 12 de Outubro que vinham a sentir-se diariamente abalos de terra na ilha do Pico, especialmente, com maior amplitude, nas freguesias de S. Mateus, Bandeiras, Santa Luzia e Cais do Pico.

Mas também abalos sísmicos se sentiam na vizinha ilha do Faial, embora com menos amplitude e intensidade.

No Dia de Todos os Santos houve nas ilhas do Pico e do Faial um sismo de certa grandeza, pouco depois das 10 horas, que já aterrou as pessoas mais frouxas de ânimo quando postas à prova por abalos de terra.

O que eu sei, respeitante ao abalo sísmico do dia 23 de Novembro, pouco mais é do que aquilo que VV. Ex.ªs leram nos jornais de Lisboa. A mais, alguns telefonemas particulares que recebi.

Mas, como vivi integralmente os terramotos das noites de 12 e 13 de Maio de 1958, talvez saiba compreender, melhor que ninguém, o que se passou há dias nas ilhas do Pico e do Faial.

Pelas fotografias e notícias dos jornais e ainda pelas notícias particulares que tenho recebido, sei que os prejuízos foram vultosos. Mas também sei que o Sr. Governador do distrito da Horta tem estado à altura do momento que se está a viver naquelas terras, assistindo com a sua efectiva presença ao desenrolar dos acontecimentos. Merece, pois, o nosso apoio e até o nosso louvor, porque às vezes podia não ser assim. Sei também que o Governo, a principiar pelo Sr. Presidente do Conselho, tem estado presente através do seu representante no distrito, o Sr. Governador Dr. Silva Branco.

O Sr. Duarte do Amaral: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Tenha a bondade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por tudo isto, e por já ser tradicional em casos semelhantes, esperamos que nada vai faltar àquelas ilhas para que tudo volte à normalidade. Nós pensamos que o caso é sobretudo e especialmente com o Ministério das Obras Públicas. Pelo que sei e é do meu conhecimento e o facto de estar à frente desse Ministério um grande Ministro, que, alem de ser grande em toda a extensão da palavra, conhece como nenhum outro, neste momento, o meu distrito, e sobretudo porque já deu eloquentes provas de uma amiga simpatia por todos os problemas daquelas ilhas, tranquiliza-nos, confiadamente, a mim e às populações sinistradas.

Na qualidade de antigo governador do distrito da Horta, que fui durante vinte anos com falta de um mês, e agora como Deputado pelo mesmo distrito, estou absolutamente convicto quanto à pronta recuperação e reconstrução das zonas sinistradas das ilhas do Faial e do Pico. Espero ainda ter vida e saúde para poder dizer o que disse, sem receio de desmentido, dois ou três anos depois da catástrofe vulcânica e sísmica da ilha do Faial, em 1957-1958: «Não houve sinistrados, mas sim beneficiados, porque tudo ficou «melhor do que dantes [...]». O mesmo sucedeu nos Rosais de S. Jorge, anos depois.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Linhares de Andrade: - Sr. Presidente: Antes de iniciar a minha primeira intervenção desta legislatura cumpro o grato dever de dirigir a V. Ex.ª as minhas respeitosas saudações e ao mesmo tempo manifestar-lhe a grande satisfação por vê-lo de novo assumir a presidência da Assembleia.

Através da imprensa, da rádio e da televisão o País tem sido pormenorizadamente informado da extensão dos danos e dos sofrimentos causados pelo tremor de terra ocorrido no passado dia 23 do corrente no arquipélago dos Açores, e também do movimento de solidariedade que logo se gerou perante a situação das populações sinistradas.

O fenómeno inseriu-se numa crise sísmica que, iniciada em 11 de Outubro último, ainda perdura, já contando, além deste, cerca de trezentos outros abalos, mas de intensidade menor e sem consequências.

As ilhas mais duramente atingidas foram a do Pico, onde se situa o respectivo epicentro, e a do Faial, que lhe está mais próxima.

As populações destas duas ilhas têm vivido horas de compreensível angústia causada mais pela incerteza sobre o que a Providência ainda lhes terá destinado do que pelos sofrimentos e prejuízos já recebidos, apesar de graves. No Pico muito mais intensamente, porque não havendo aí nenhum aeródromo ou pista aérea está necessariamente excluída a hipótese do recurso dos transportes directos por avião em caso de emergência, e também porque a tal ausência de portos capazes poderá tornar impraticáveis as comunicações marítimas se as condições de tempo se agravarem, como é frequente durante a presente quadra do ano.

Durante os últimos dias diminuiu a actividade sísmica, o que parece confirmar a hipótese, admitida pelos cientistas, como a mais provável, de que a crise chegou ao seu termo. Não obstante, no espírito do povo mantém-se a incerteza e com ela a terrível angústia.

Uma consoladora certeza, porém, a todos resta: a de que não estão desamparados, porque o Governo, primeiro, e várias enti dades não oficiais, depois, movidos por um magnífico espírito de solidariedade humana tudo tentam para minorar os efeitos do cataclismo.