alguma coisa do que se tem passado, em matéria de progressos, neste sector nos trinta e dois anos que vão de 1942-e 1974, fazendo tábua-rasa do silêncio registado desde 1929, desde que Paget, de Kansas, e Brown, de Saint Louis, demonstraram, o êxito do enxerto cutâneo entre gémeos univitelinos

Mas costuma marcar-se o arranque das transplantações em 1942, com os trabalhos de Gibson e Medawar, quando fizeram os enxertos de pele nos pilotos da R A F com extensas queimaduras - a sensibilidade anormal que eles revelaram depois dos enxertos da pele para os enxertos de outros tecidos do mesmo dador foi interpretada, não como agravamento do problema, mas como uma nova via. se era possível exaltar o fenómeno da rejeição, também se devia admitir a possibilidade de o minorar. Eles provaram que a rejeição era devida a um antigénio libertado pelo enxerto e que determinava a sensibilização do receptor.

A transplantação renal foi, no princípio do século, no dizer de Alexis Carrel, têm sido instalados.

E, depois dos bancos, institutos de cultura de órgãos, a partir de tecidos embrionários, na América, na Inglaterra e na França - nova via, cheia de perspectivas entusiásticas para a solução de muitos destes problemas

Outra nova via cheia de esperanças começa a vislumbrar-se-a de incitação dos órgãos a realizar a sua própria regeneração a partir de cultura de células não diferenciadas e de indutores específicos. Neste caso, se vier a verificar-se êxito, a transplantação será substituída pela auto-implantação.

É certo que muitos dos mais delicados problemas da transplantação vivem ainda no remanso dos laboratórios, animados pelo coração dos investigadores e orientados pelos seus cérebros

Se foram necessários vinte e dois anos desde a descoberta de Gibson e Medwar até ao primeiro enxerto, com êxito, do animal ao homem; se de 19S8 a 1964, em dezasseis anos, foi possível avançar, de modo extraordinário, as tentativas de controle e de do mínio dos processos imunitários que têm dificultado ou impedido o êxito das transplantações, quem poderá negar que, de descoberta em descoberta, dentro em pouco, não possamos dispor de técnicas que possibilitem êxitos até agora não conseguidos?

Como diz Streilin, da Universidade de Pensilvânia, ninguém poderá negar que «já dispomos de uma solução provisória do problema», graças aos progressos conseguidos no domínio da imunidade, pois também ninguém deixará de aceitar que nos encontramos no «limiar do êxito»

Não tardará muito para conhecermos a forma de dominar completamente as reacções imunológicas, essa espécie de «xenofobia orgânica» que leva à rejeição de tecido enxertado Não estaremos muito distantes, no tempo, de conseguirmos a tolerância que até hoje se não obteve senão em particulares situações

Tempos virão, e não muito distantes, em que as transplantações dos órgãos se hão-de realizar com a mesma simplicidade e segurança com que se e xecutam as transfusões de sangue!

E é lícito o sonho, como diz o Prof. Jean Bernard, de virmos a substituir os órgãos lesados ou gastos por injecções de células indiferenciadas e de indutores. Assim se formarão novos órgãos a substituir aqueles E não será loucura admitir a síntese desses indutores depois da sua definição bioquímica. É o momento de acabar de vez com a perna de pau, com o doente de oiro, com os órgãos de cadáver e com as transplantações dos órgãos cedidos pelos vivos

Sr Presidente Como já disse, os estudos imunológicos são os mais importantes de todos os que envolvem o problema das transplantações Nenhum dos artigos da proposta se lhe refere. O artigo 8º refere-se apenas a centros clínicos a criar e a regulamentar pelo Ministro da Saúde e nos quais se farão as transplantações de tecidos ou órgãos.

O Ministério da Educação Nacional, do qual dependem os Hospitais Escolares, não deverá ser ouvido também?

Creio que, numa estruturação mo derna do problema, há que criar ou desenvolver um centro nacional de imunológia, dotando-o de equipamento e de técnicos capazes de proceder às necessárias investigações imunológicas e catalogar os indivíduos em condições de beneficiarem das transplantações ou de serem dadores, criar três centros de transplantação (em Lisboa, no Porto e em Coimbra) em ligação com os centros France Transplant e Euro-Transplant, organizar o ficheiro nacional de portadores de insuficiência renal crónica, devidamente classificados - constituindo a esta de espera-, que esperam o rim que se adapte às suas exigências, completar e aumentar o número de centros de diálise destinados a prolongar a vida e a assegurar a recuperação social e humana dos insuficientes renais crónicos; em resumo, pôr em execução o programa hexanal da diálise que há pouco citei e que já há muito tempo foi entregue ao Governo

O problema dos ossos, da pele e da córnea, embora importantes, não se podem comparar aos do rim. A transplantação da medula óssea é, por enquanto, problema delicado e de possibilidades muito limitadas; mas há sérias razões para supor que as dificuldades venham a ser dominadas e a técnica muito simplificada. Assim pensa o Prof Jean Bernard.

Quanto aos outros órgãos, poucos serão aqueles que o indivíduo vivo possa dispensar ao semelhante. Duvido mesmo que isso se possa verificar no que diz respeito a certos órgãos duplos.