Antero de Quental definiu maravilhosamente o ideal. «Ideal quer dizer isto desprezo das vaidades, amor desinteressado da verdade, preocupação exclusiva do grande e do bom.».

Necessariamente que estão em oposição aos que professam o culto do farruente e «vivem molemente, adormecidos no fofo colchão da existência».

Outros fazem por engrossar a vara imunda de Epicuro e abafar as ruínas da consciência, transformando-se em necrópoles que guardam a ânsia permanente do lucro e as cinzas que só ambicionam a posse das grandes riquezas.

Esta riqueza, a quem o nosso Eça chamou «um duro calhau do Egoísmo».

Trazer aqui nomes célebres do pensamento humano a sentenciarem uns e outros seria um nunca mais acabar.

Servi-me desta pequena introdução para que se meça a dimensão dos nobres ideais dos que, abnegada e voluntariamente, oferecem a sua vida pelo bem da humanidade.

Grande contraste reina nestes dois mundos o do egoísmo e o do amor ao próximo.

Creio bem que ninguém porá em causa a Sinceridade e a doação dos homens que militam nas humanitárias associações dos bombeiros voluntários.

Se mais não fosse, pelo receio que o fogo atinja a sua casa e consuma os seus haveres.

Sejam quais forem os olhos que os admirem, são incontestáveis os seus altos serviços à causa da humanidade, nos seus mais variados aspectos de socorrismo.

No fogo do casario, no incêndio das florestas, no naufrágio, no terramoto, na salvação de vidas e haveres, etc.

E eis porque me propus trazer a esta Assembleia alguns dos seus problemas, para o que peço a valiosíssima atenção dos meus Exmos. Pares, prestando, assim, todos, a nossa devida homenagem aos homens que desinteressadamente servem os outros.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Com números sujeitos a rectificação, existem no Pais cerca de 369 associações de bombeiros, sendo 337 de bombeiros voluntários, com um efectivo de cerca de 16000 homens, em funções activas e directivas, e com um exército de simpatizantes na ordem dos 120000, no Portugal continental e insular.

Estes números são suficientemente claros e significativos para se estimular o alto valor e a verdadeira grandeza de que os bombeiros dispõem e da simpatia que desfrutam neste espaço português.

Cada 100 portugueses tem 1 bombeiro «a velar-lhes pela vida e haveres, em ocorrência de sinistros de normal frequência».

A sua actividade e sobrevivência estão condionadas pelo esforço ingente e constante dos que dedicam grande parte da sua vida ao voluntarismo.

Ao voluntarismo que significa, nem mais, nem menos, ideal a iluminar o espírito e força a robustecer a vontade pelo bem da sociedade.

E estas associações, que estão disseminadas por muitas terras do País, são sentinelas que velam pela defesa dos haveres e das vidas.

Necessariamente que vivem da compreensão dos seus associados e dos seus benfeitores.

Do Estado recebem subsídios para aquisição de viaturas e de todo o material necessário aos seus fins específicos, comparticipações para construção das sedes, etc.

Para completar as verbas dos custos totais recorrem aos benfeitores, pelos mais lícitos e variados meios.

Mas é evidente que todo este processo se faz sob o peso de um trabalho constante e duro, só suportado pelo facto de ser uma doação voluntária.

Este aspecto está magistralmente definido na tese apresentada no XIX Congresso dos Bombeiros Portugueses, em Aveiro, realizado de 9 a 13 de Setembro de 1970, pelo actual e venerando bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade.

São muitos e complexos os problemas dos bombeiros.

Só é possível numa simples intervenção fazer uma breve análise dos principais.

O último Congresso, o já citado de Aveiro, em 1970, teve dezassete teses, e algumas delas notáveis pelo seu saber e pela sua actualidade.

Ao XX Congresso, de Viseu, em 28 de Setembro de 1972, foram apresentadas catorze teses e duas comunicações.

Todas elas expõem assuntos diferentes e de grande interesse.

Pela sua leitura, vemos que é realmente vasta e complexa a problemática do presente e que se impõe uma solução actualizada.

Está, naturalmente, independente do Governo, neste caso directamente ligada ao Ministério do Interior.

Uma das teses apresentadas em Aveiro é um documento completo da história tutelar e normativa das associações dos bombeiros portugueses.

O seu autor tem dedicado grande parte da sua vida a um trabalho silencioso, mas revolucionariamente dinâmico, a praticar o bem no voluntarismo aveirense, que espalha seus frutos e suas experiências por todo o País.

Votou-se em doação esplêndida e sem reservas aos bons interesses da grande família humana.

Citar nesta Assembleia o nome do ilustre advogado aveirense, Dr. David Cristo, como exemplo a seguir no amor total ao voluntarismo, não é uma cortesia, mas sim um puro sentimento de justiça.

O Sr. Cancella de Abreu: - Muito bem!

O Orador: - Nas suas duas teses, de Aveiro e Viseu, expõe a aspiração fundamental para a dinamização dos bombeiros e para que as suas actividades sejam frutuosas.

Pela razão que assiste a tais pretensões, não pode o Governo deixar de as atender urgentemente.

O Sr. Cancella de Abreu: - Muito bem!

O Orador: - Nessas conclusões está consubstanciada toda a problemática justificativa, e que é a seguinte:

Todas as corporações portuguesas dependem do Conselho Nacional dos Serviços de Incêndios, instituição integrada na Direcção-Geral de Administração Política e Civil, do Ministério do Interior, e o Conselho é formado por cinco elemen-