quando se introduziram novas técnicas e se desenvolveram métodos modernos de organização económica, verificou-se quase sempre uma desagregação crescente e rápida da estrutura económica e social preexistente.

Na ausência de políticas sociais concomitantes, criou-se por esta forma um vazio na sociedade local, sem que, no entanto, houvesse uma alteração formal das estruturas tradicionais, esvaziadas embora de grande parte do seu conteúdo económico e social.

Atingidas exteriormente por alterações no campo da circulação e da produção de bens e minadas no interior pela introdução de novas culturas e novos valores, as sociedades tradicionais modificam-se lenta ou rapidamente, passando a basear-se em novas relações sociais, que criam problemas sociológicos e humanos da maior acuidade, embora o aspecto exterior se possa manter formalmente intacto.

Este parece ser um traço saliente da vida africana no entanto com novas civilizações e corresponde à deformação das estruturas originárias, que necessitam de ser reinstitucionalizadas como condição prévia para uma fase de arranque do processo de desenvolvimento económico e social - nomeadamente as consequências sociais do urbanismo revestem no caso africano uma importância que não é demasiado acentuar e constituem um elemento estratégico que será perigoso menosprezar.

A transformação de estruturas ou a passagem de uma a outra forma de sociedade implicam subsídios, auxílios, assistência, amparo para aqueles que estão em vias de adquirir um novo enquadramento social.

Raros são os indivíduos que podem viver ou sobreviver se não estiverem correctamente adaptados ao meio, e isto é verdade para o clima físico como para o meio social. Por essa razão, as infra-estruturas e equipamentos de carácter social, embora possam constituir aplicações pouco reprodutivas a curto prazo, têm decerto a dimensão humana exigida pelo critério de autenticidade do direito à promoção humana e convivência social.

Daí resulta a necessidade de realizar investimentos sociais para uma massa populacional que, em vias de transformação, tem necessidade de «assistência», no sentido mais elevado e lato da expressão, implicando, não discriminação, integração progressiva, solidariedade social.

Haverá assim de aceitar-se que o desenvolvimento em África - porventura mais do que em outros continentes- necessita de ser planeado de forma harmonizada entre o económico e o social e deverá atender particularmente ao problema da localização dos investimentos, por virtude dos meios escassos face à vastidão dos territórios e dispersão das populações.

Múltiplos têm sido os modelos de crescimento económico propostos, mas em todos eles predomina a estratégia de uma variável fundamental o investimento ou formação de capital, a traduzir-se numa relação directa e bastante estável entre o volume de investimento em capital fixo e o acréscimo do produto nacional, regional ou local.

No entanto, esses m odelos têm sido fundamentalmente aplicados em regiões onde predomina uma economia monetária que constitui o veículo necessário à transmissão dos efeitos directos ou induzidos do investimento, o que desde logo exclui a possibilidade de grandes reflexos em economias e sociedades que ainda se regem predominantemente pelos princípios de elementar subsistência, de sobrevivência.

Tem havido igualmente larga controvérsia quanto à aplicação geográfica dos investimentos, defendendo uns a importância de um desenvolvimento disseminado, com as concomitantes expansões das diversas actividades produtivas, nomeadamente as agrárias, evidenciando outros as vantagens de um crescimento concentrado ou por «pólos», que cria um desequilíbrio sectorial e geográfico no interior de uma economia e sociedade.

Sem pretender exclusivismos, que o problema global não comporta e o interesse das gentes não consente, sempre haverá de dizer-se que, para além dos esforços de desenvolvimento regional, nomeadamente no quadro de bacias hidrográficas utilizáveis em usos múltiplos (produção de hidroelectricidade, rega e aproveitamento agrário, transportes fluviais, etc.), as interdependências de produção e as economias externas concomitantes podem justificar um crescimento concentrado, em particular quando se ponderam, em economias subdesenvolvidas, razões de natureza tecnológica.

O crescimento pode então imaginar-se como um processo de aglomeração e propagação. A aglomeração depende primariamente da existência de um pólo de desenvolvimento situado ou implantado numa área geográfica ou região, o que implica exigências de infra-estruturas, de técnicas, de transportes, de um volume de capitais e de unidades motoras que provoquem aumento de dimensão de outras empresas, modifiquem a estrutura económica e exijam alterações das instituições e atitudes e comportamentos das pessoas.

No caso africano, dada a falta ou raridade de agentes económicos qualificados e a desintegração dos sectores tradicionais, a política de pólos de desenvolvimento exige, por um lado, a introdução de programas de educação de base e a fixação de populações europeias profissional e tecnicamente habilitadas e, por outro lado, o apoio directo a zonas mais fracamente polarizadas, através de uma política de desenvolvimento comunitário, pois de outra forma a política negar-se-ia a si própria pelos problemas e tensões sociais que poderia levantar. Aí se insere, para além de aspectos de criação e propagação de pólos de desenvolvimento, essoutro problema do seu «significado» e «mensagem» para populações alcançadas.

De modo geral, obtêm-se as condições básicas indispensáveis quando deparamos com recursos energéticos, humanos, agrícolas ou minerais ligados a disponibilidades de capital e de técnica-ora os primeiros existem largamente nos Estados de Angola e de Moçambique e os últimos não se tornam difíceis de obter no campo internacional.

Dispõem-se assim dos requisitos mínimos para um acelerado desenvolvimento económico e social dessas províncias, bem importando começar por definir, para além de desenvolvimento integrado com base no aproveitamento múltiplo de bacias hidrográficas, pólos e perspectivas de desenvolvimento urbano dos referidos Estados.

Deverá pensar-se também em conjuntos de actividades económicas motoras e suas inter-relações, caso