Desculpem-me, Srs. Deputados, o entusiasmo que me assiste, mas um tema que já ocupou alguns anos da minha vida e me permitiu estabelecer das mais intensas relações humanas não poderá ser tratado de ânimo leve.

No concerto das acções de desenvolvimento global, com base na noção do ser e ter mais, e em relação à formação profissional, há que ter em conta iniciativas a montante e consequências e exigências a jusante. De outro modo, surge um serviço igual a qualquer outro, com uma elevada frota de viaturas, funcionários e funcionários mais ou menos enquadrados e que vive e sobrevive à custa da condescendência de outros serviços mais antigos e com técnicos mais conhecedores e mais dinâmicos. Em suma, será mais uma iniciativa falhada, cara ao Estado!

A montante, devemos ter a preocupação de compreender o agricultor isolado ou já em associação, dentro da sua comunidade, numa tentativa de inventário de relações, de auscultação de necessidades e, fundamentalmente, de prosp ecção de leaders. Aqui, a colaboração com as Casas do Povo e os grémios da lavoura é fundamental.

Os agentes de serviço social terão aqui um campo de actividade novo, enquadrados numa óptica sociológica, para se poder atender a todas as perspectivas que surjam, na procura de uma acção continuada e de modo a cobrir o espaço, não autorizando tecnicamente o aparecimento de desertos por incapacidade de actuação.

Para além destas razões e outras compreensíveis, há a considerar ainda a preocupação que poderá resultar do impacte frontal de jovens licenciados, sem maturidade política e experiência da vida, com um ambiente ainda são, de certo modo conservador, e ainda voltado para a inovação pelo peso da ancestralidade. A desconfiança, característica do agricultor, que lhe advém de temperamento próprio e da ausência de uma política realista poderá, por um lado ser uma defesa natural ao impacte referido, mas poderá também ser porta aberta às ideias fáceis.

Os regimes políticos estáveis sempre contaram com a grande força eleitoral do meio agrário, razão por que alguns países têm na sua política económica agrícola auxílios excessivos!

Por mim, sou um homem dado ao progresso, tendo-me como um agente fiel do desenvolvimento, mas, pela minha formação profissional, vivo com os pés assentes na terra. Neste trabalho, mais do que em qualquer outro, só conseguirão algum êxito pessoas experimentadas, esclarecidas e, se possível, aceites no meio local.

De outro modo, e numa antevisão precipitada, assistiremos ao desequilíbrio de conceitos que advirão de novas mentalidades, consequência das perspectivas políticas em que os assuntos e temas poderão ser apresentados.

Exige-se, pois, muita prudência, dado que o género humano evolui progressivamente, e não de modo brusco e rápido, em linhas de descontinuidade, como alguns desejariam. Tem o Governo um plano de fomento com uma base política por nós aqui aprovada e apoiada nas coordenadas da nossa história. Esta a realidade que interessou preservar, através de um ideário igualmente aceite em plenário nacional.

A jusante, depois de os agricultores terem frequentado os cursos sujeitos a metodologia própria, teremos de ter em linha de conta todo o acompanhamento exigido, não só sob o ponto de vista técnico, mas também financeiro, e fundamentalmente social. De outro modo, caímos nas frustrações que redundam sempre no êxodo agrícola ou na emigração. Verificamos fàcilmente e da maneira que é possível dar a compreender em limitado espaço de tempo e numa comunicação desta índole que, à partida e no fim, o enquadramento social é considerado indispensável. Estamos num Estado dito e tido como social, tenhamos, pois, estes aspectos em linha de conta.

Sr Presidente: Face ao exposto, verificamos que a criação do Instituto de Formação Profissional Agrícola, além de um acto de mera atitude técnica com vista à satisfação de uma necessidade premente e imediata, reveste aspectos da competência do foro político do domínio desta Assembleia para os definir e do Governo para os executar. A coordenação, com finalidades de complementaridade, englobará vários departamentos ministeriais e exigirá uma reforma global para que os organismos e instituições várias da Secretaria de Estado da Agricultura possam, além das missões próprias, poder atender à cobertura técnica, financeira e social referida.

Sr. Presidente: Congratulo-me com esta iniciativa, pois sou das pessoas que pensam que em serviços velhos, sujeitos à rotina que daí advém, a criação de instituições novas, quando administradas por pessoas dinâmicas e conhecedoras, constitui uma lufada de juventude, de que só se beneficia. Vivemos numa época caracterizada pela exigência de um dinamismo que consiga adaptar as instituições a situações constantemente novas.

A nossa agricultura vai ficar enriquecida! Creio que todos vamos ficar contentes. Um instituto novo vai nascer para nos dar aquilo que nunca tivemos, pois nunca foi feita a revolução técnica. Apelo para todos os serviços, técnicos e agricultores, que dêem as mãos para que ele possa cumprir e satisfazer os nossos anseios.

Foi partindo destes juízos e preocupações que realizei o presente aviso prévio, que deixo à Assembleia Nacional, para, à luz dos superiores interesses nacionais, facultar à nossa agricultura a promoção económica, social e humana que necessita.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Alberto de Alarcão: - Peço a palavra, Sr. Presidente

O Sr. Presidente: - V. Exa. pediu a palavra para...

O Sr. Alberto de Alarcão: - Para um requerimento, Sr. Presidente

O Sr. Presidente: - Nesta altura não me parece oportuno. Talvez seja melhor ouvirmos primeiro o relatório das Comissões convocadas para o estudo do aviso prévio.

Vai ser lido.