revelaria alheamento total das realidades económico-política da região, ausência de sentido da natureza de serviço público inerente à concessão, desfasamento com as definições de política global em que se afirmam os princípios da promoção de desenvolvimento equilibrado e harmonioso de todo o território e o da dinamização das zonas mais deprimidas pela criação ou melhoria das infra-estruturas económicas adequadas, desconhecimento do valor programático do falado «ordenamento do território».

Parece que a razão invocada pela concessionária será a da deficitária rendibilidade da exploração.

Acredito que o seja em termos actuais, mas já duvido que, potencialmente, essa exploração não possa ser, ao menos, equilibrada.

E para que se atinja esse rendimento potencial nem será preciso esperar por um maior desenvolvimento económico da região- basta que a concessionária melhore a qualidade dos seus serviços.

E não me parece sequer justo que se invoque uma causa para a qual as concessionárias terão contribuído, deixando degradar os seus serviços, a ponto de se tornar grave sacrifício ter de os utilizar.

E se se deixar vingar o critério, duvido se, dentro em pouco, haverá caminhos de ferro no interior do País, já que a concessionária nada faz que provoque a expansão na utilização dos seus serviços, nem procurando a sua melhoria, nem usando, sequer, qualquer técnica, mesmo que rudimentar, de captação de utilizadores.

Lembro, a propósito, o que se está a passar com a linha da Beira Alta - e quanto a esta suponho que não poderão queixar-se de que é deficitária-carruagens imundas, a maior .parte das vezes não aquecidas no Inverno, apesar de atravessar as regiões mais frias do País, ocupação, em dias de ponta, muito superior à lotação prevista, insegurança quanto à possibilidade de se conseguiram ligações para Lisboa ou para o Porto, por incumprimento dos horários previstos.

A juntar a isto, uma deficiente distribuição dos com boios durante o dia - manhã cedo, e no espaço de duas horas, quatro comboios para Coimbra ou Lisboa, para só à noite voltar a haver um outro comboio com esses destinos e possível, voltarei a este tema das ligações ferroviárias da minha região e à sua articulação com a rede rodoviária.

Hoje só queria fazer-me eco do alarme e juntar a manha preocupação à preocupação das gentes de Viseu e seu termo, quanto à supressão do ramal do Dão.

Está em causa toda uma vasta parcela do território que se quer ver desenvolvida, que precisa que lhe melhorem as suas infra-estruturas e não que lhas destruam, está em causa toda uma população, ordeira e trabalhadora, arreigada à sua terra e aos valores que defendemos, que precisa de ser olhada com justiça pelos que detêm o poder de governar, e não tratada por critérios mais ou menos tecnocráticos de qualquer sol-disant especialista e como eles para aí proliferam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - onde é evidente a estreiteza da perspectiva com que os problemas são analisados.

É aquela justiça que eu espero confiadamente do Governo, impedindo a supressão da exploração da linha do Dão

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Constantino de Góes: - Sr. Presidente, Srs Deputados.

Vai proceder-se dentro de breves dias à inauguração dos ferry-boafs que passam a fazer a travessia do no Sado e das respectivas instalações portuárias.

As instalações constam de dois cais de atracação, com pontes móveis accionadas por motores eléctricos, que permitem regular a altura das pontes conforme as marés.

Os barcos utilizados são modernos ferry-boats atracando de proa e popa com uma capacidade para vinte e quatro, automóveis ligeiros e cerca de duzentos e oitenta e cinco passageiros, construídos nos estaleiros da Figueira da Foz. No caso de não levarem automóveis, podem transportar cerca de oitocentos passageiros.

Mas o que se pretende pôr em realce não é a simples resolução de um problema que os meios técnicos hoje ao dispor do homem tornam fácil.

É, sim, o facto de se tornar possível a ligação das duas margens do Sado para todas as espécies de veículos, terminando de vez com uma barreira que o no constituía.

Barreira natural que o engenho dos homens conseguiu vencer e que o investimento de meios materiais elevados possibilitou.

Para além do grande investimento feito, pois os cais de atracagem custaram cerca de 20000 contos, em regime de autofinanciamento por parte da Junta Autónoma do Porto de Setúbal, e os dois barcos, magníficas unidades, as mais modernas existentes no País, importaram em cerca de 22 000 contos, há que pôr em realce o grande interesse económico do empreendimento.

Agora uma vasta zona compreendida entre Alcácer do Sal, Grândola e Comporta, que não possuía qualquer possibilidade de usufruir de vias de comunicação com a capital do distrito e até com Lisboa, a não ser através da estrada nacional n º 10, situada a grande distância, vai ficar a uns escassos minutos do grande centro comercial e industrial que hoje é Setúbal.

Grandes perspectivas se abrem para toda esta vasta região.

É a facilidade de escoamento de produtos e matérias-primas, que directamente se podem dirigir aos grandes centros de consumo.

É a aproximação dessa zona com grandes potencialidades turísticas dos centros de grande densidade populacional e que originam correntes humanas à procura de ocupação para os seus tempos livres.

E é preciso não esquecer que até Sines há 80 km de magníficas praias que têm junto a si zonas aprazíveis, onde é possível encontrar imensos locais para os momentos de lazer.

É a possibilidade de deslocação para o sul por vias que poupam dezenas de quilómetros.

É a facilidade de abastecer Tróia com materiais de construção, esse extraordinário empreendimento