alunos seriam instruídos com o 1.º grau do ensino agrícola.

Estava assim criado o ensino agrícola em Portugal No preâmbulo, sobriamente retórico, como era próprio do bom estilo da época, escrevia Fontes Pereira de Melo, Ministro das Obras Pública, Comércio e Indústria, dirigindo-se à Rainha D. Maria II.

O mal que aflige a nossa agricultura é conhecido.

Os remédios próprios para debelar este mal consistem em difundir a instrução agrícola, e num sistema aperfeiçoado de viação, na organização do crédito rural e na abodialidade da terra.

Os Ministros de Vossa Majestade meditam sem descanso no desenvolvimento deste complexo de fecundas providências.

O ensino agrícola acha-se hoje largamente derramado em todas as nações cultas da Europa Fundam-se em toda a parte escolas práticas, institutos agronómicos, granjas e quintas exemplares, hortas experimentais e de aclimatação, sociedades agrícolas, exposições, prémios e festas rurais.

No meio deste geral movime nto é indispensável que não fiquemos estacionados, é indispensável que a indústria agrícola acompanhe a civilização do novo tempo, que viva com a nova época e que se transforme e aperfeiçoe com ela.

Para satisfazer cabalmente a todas as necessidades da indústria rural estabelece o decreto três graus de ensino o ensino mecânico, o artístico e o científico.

E na verdade a agricultura pode considerar-se debaixo de três diversos aspectos Pode considerar-se como ofício, como arte e como ciência.

O ofício aprende-se pela imitação e pelo exemplo É uma aprendizagem fácil, que pode adquirir-se no meio das operações e trabalhos rurais.

A arte precisa casar-se com a ciência, a fim de que as práticas se baseiem nos princípios da teoria, precisa não só conhecer, nas suas diversas relações ou sistemas, os métodos e os processos agrários, mas penetrar nas razões e nos fundamentos científicos daqueles processos.

A ciência, finalmente, estuda, profunda as leis da prod ução vegetal e animal e introduz, fundada na experiência, novos sistemas, melhora os antigos e lança a indústria agrícola no caminho de um aperfeiçoamento racional e progressivo.

É, portanto, do seio destas escolas que devem sair hábeis feitores e lavradores instruídos, que irão espalhar, com o exemplo e com a palavra, a instrução prática e teórica entre as classes agrícolas.

A transcrição foi longa, mas necessária para ficarmos no conhecimento das concepções da época e sobretudo do confiado optimismo que as inspira.

A história das iniciativas oficiais de 1852 em matéria de ensino agrícola, «artístico e mecânico», faz-se em poucas palavras nenhuma das escolas regionais ou das quintas de ensino foi instalada, ou, pelo menos, nenhuma foi posta em condições de funcionar.

As Cortes aproveitaram a inacção governamental para tomar também a sua iniciativa: decidiram que a escola regional de Viseu fosse transferida para

O balanço do projecto do Ministro Fontes Pereira de Melo foi feito, doze anos depois, por Abreu e Sousa no preâmbulo do Decreto de 29 de Dezembro de 1864.

Fizeram-se em vão algumas tentativas para estabelecer as quintas de ensino agrícola do l º grau Em vão, sim, porque vieram logo os resultados patentear que lhes faltava a base da sua conveniente sustentação. Nem se obtiveram terrenos próprios, nem se ofereceu quem soubesse ensinar, e menos ainda quem quisesse aprender.

Como já referi, os estabelecimentos criados pelo Decreto de 16 de Dezembro para o ensino agrícola de 1.º e 2 º graus não vingaram, mas nem por isso se deve concluir contra a sua utilidade Os meios por que eles deviam conseguir o seu fim é que não foram bem dispostos.

Convinha que eles ressurjam debaixo de outra forma...

A experiência ia recomeçar, noutros moldes. O ensino foi dividido em dois graus elementar e superior, destinando-se o primeiro a habilitar regentes agrícolas e florestais e sendo ministrado nas Quintas de Ensino.

O ensino superior diploma agrónomos, engenheiros agrícolas, silvicultores e veterinários e é professado no Instituto Geral de Agricultura de Lisboa.

Por falta de verba, por falta de terrenos, oferecidos para a criação das Quintas de Ensino Agrícola, e de mestres, a legislação aprovada (e publicada) ficou, mais uma vez, letra morta.

Passados cinco anos, apenas a Quinta Regional de Sintra tinha sido criada, tendo sido mais tarde transferida para Coimbra, dando origem à actual Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra.

Em 1869, o Ministro Joaquim Tomás Lobo de Ávila abre a porta a novas soluções Sem nos dizer os motivos por que se renunciava ao anterior sistema, aliás não experimentado, lançava no Decreto de 2 de Dezembro uma orientação inteiramente diferente- criou nos liceus um curso elementar de agricultura e em cada distrito uma estação experimental de agricultura.

Àqueles caberia o papel de difundir o ensino teórico; a estas o de realizar, pelo esclarecimento, vulgarização e exemplificação, o ensino prático. O autor do diploma, muito melhor do que nós, dirá dos seus objectivos:

É indispensável chamar por todas as formas as inteligências, os braços e os capitais para o trabalho imediatamente produtivo da agricultura e das indústrias, é mister preparar uma profunda mudança nos hábitos, no espírito e nos costumes da Nação, dirigindo a educação mais para os serviços agrícolas e industriais do que para os serviços do Estado. É neste intuito que se estabelece a criação de cursos de agricultura elementar em todos os liceus do reino, ensino este que mais tarde deverá também ser introduzido nas escolas de instrução primária. Este derramamento do ensino agrícola há-de forçosamente cativar muitas inteligências em proveito da agri-