cultura. Uns serão atraídos pelo gosto de ciência, outros acharão nas primeiras luzes profissionais de agricultura um meio de poderem subsistir sem prolongar por mais tempo os sacrifícios do aprendizado, outros, enfim, dispondo de maiores recursos, .irão no estabelecimento superior do ensino agrícola adquirir o grau mais subido de uma educação tão útil como agradável.

Como realização, o plano de ensino de 1869 não tem história, como, aliás, a não têm os anteriores Nada se concretizou É extinta a Escola de Évora.

O relatório que acompanha a lei que manda extinguir aquela Escola justifica o seu encerramento. «Por falta de condições, sendo preferível extingui-la a comprometer a causa do ensino agrícola em tentativas acanhadas e estéreis».

O referido plano tem, pois, interesse meramente dialéctico Define uma concepção No debate de ideias acerca do ensino agrícola, ao longo dos últimos cem anos, tem o seu lugar e merece não ser esquecido.

A muitos parecerá pouco menos que insensato este desígnio de associar o ensino elementar agrícola ao ensino liceal Não nos esqueçamos, porém, de que foi precisamente esse o caminho seguido nos Estados Unidos da América, e por ele se chegou à complexa e imponente orgânica actual da high school, com as suas secções agrícolas, poderoso instrumento da educação de grande massa da população americana.

Os anos passaram sem que se entrasse afoitamente no campo das realizações. Não se cumpre a legislação existente, mas já não se ousa promulgar legislação nova.

Decorridos mais de trinta anos sobre a publicação do decreto de Fontes Pereira de Melo, funcionavam, no País, dois centros de instrução agrícola o da Quinta Regional de Sintra e o de Tabuaço. Tudo o mais foram experiências no vácuo, meros exercícios de imaginação, com honras de publicação no Diário do Governo.

Estamos em 1886.

A entrada para o Governo, como Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, de Emídio Navarro representa para o ensino técnico português o .início de uma nova época Com ele entrou uma rajada de ar fresco e sadio na Administração, quase adormecida Às experiências de imaginação iam suceder-se, em ritmo vertiginoso, as experiências a sério, integrais, e em grande, integradas numa tentativa brilhante para lançar o País no caminho de uma vida nova, que merece ser lembrada.

A ela aderiu Oliveira Martins com o seu notabilíssimo Projecto de Fomento Rural, onde, aliás, dominado por conceitos estritamente económicos, de alcance material, não soube, ou não quis, definir a função, também necessariamente decisiva, que o ensino profissional não poderá deixar de desempenhar na elevação da vida rural portuguesa.

Por Decreto de 2 de Dezembro, que reorganizou o antigo Instituto Geral da Agricultura, transformando-o em Instituto de Agronomia e Veterinária, foram restabelecidos os três graus de ensino de 18S2, com outra designação e conteúdo, superior, secundário e elementar. O secundário seria professado na Escola Prática Central de Sintra, passando a diplomar regentes agrícolas, regentes florestais e monitores pecuários, com cursos de quatro anos de duração O ensino elementar é ministrado em escolas práticas, sendo o País dividido em doze regiões agronómicas (nove no continente, com sede em Braga, Mirandela, Régua, Coimbra, Mangualde, Portalegre, Santarém, Évora e Loulé, e três no ultramar).

Na sede de cada região deveria ser criada uma estação químico-agrícola, onde se fariam ensaios culturais e análises químico-agrícolas. Haveria também depósitos de material' agrícola e uma escola prática especial de agricultura, para o ensino de operários rurais que pudessem servir como feitores, capatazes ou mestres práticos nos diversos serviços agrícolas. Estava até previsto que, «se as necessidades da lavoura o exigissem», poderia haver em cada região mais de uma escola prática.

Infelizmente esta ampla reforma era «tolhida pela insuficiência d o Tesouro» e falta de pessoal habilitado.

Desabava sobre Portugal a crise política e financeira de 1890 e dos anos seguintes As circunstâncias impunham as mais severas restrições e medidas drásticas de economia.

João Franco, para salvar a obra de Emídio Navarro, foi obrigado a reduzir o número de escolas com o fim de poder aguentar as mais necessárias.

Esta uma breve resenha dos principais passos do ensino agrícola no nosso país, de 1852 a 1910.

Não se pode dizer que o ensino agrícola, desde a sua criação, tivesse vivido uma vida fácil, nem que tivesse entusiasmado a juventude em idade escolar.

As dificuldades começaram logo em 1864, pois nessa data já eram referidas as faltas de verbas e de professores.

Em 1866, dois anos passados sobre a criação do curso de engenheiro agrícola, não tinha aparecido nenhum candidato a requerer matrícula.

Em 1869 era extinta a Escola de Évora, não só por falta de condições, como por falta de verbas.

Mas o calvário não pára.

Em 1886, novas reduções no ensino por falta de verba e de professores.

Em 1890, dificuldades financeiras obrigam a novas reduções.

Em 1891, há novas dificuldades económicas e desinteresse, pois não apareciam candidatos a matricular-se nas escolas onde era ministrado o ensino agrícola.

Em 1914, continua a falta de alunos.

De 1870 a 1894 houve anos em que não concluiu o curso nenhum aluno.

Por outro lado, Q número de diplomados foi sempre muito baixo, não excedendo 10 alunos.

Bastará dizer-se que em vinte e quatro anos apenas foram diplomados 120 alunos, uma média de 5 diplomados por ano.

Como explicar esta sucessão, umas vezes lenta, outras vertiginosa, de planos e projectos, que apenas delineados se abandonam ou são substituídos por outros mal se anuncia a sua execução, esta longa e impressionante série de tentativas frustradas, de experiências malogradas; esta alternativa quase pendular de esperanças não seguras como ingénuas e de desânimo depressivo; os súbitos impulsos de (dinâmico optimismo e as frequentes crises de renúncia e inacção?

Sem pretendermos encontrar a razão necessária dos factos que deixamos enunciados, sem atribuirmos ao