está, a promover socialmente, pelo contacto e pela integração, as suas atrasadas populações rurais nativas.

Mas, para tal, é absolutamente necessária a preparação, tanto na metrópole como no ultramar, de técnicos profissionais agrícolas em número suficiente. Convém notar que a falta de preparação profissional dos trabalhadores rurais idos da metrópole para Angola está na origem, entre outras causas, de alguns fracassos registados em colonatos agrícolas.

É curioso também notar, a propósito, que enquanto as migrações interterritoriais de Cabo Verde, Guiné, Angola e S. Tomé rumo à metrópole não suscitam qualquer comentário ou crítica do estrangeiro, e se aceita Já fora como perfeitamente natural o facto de aqui circularem compatriotas nossos de cor, cada vez em maior número, oriundos daquelas províncias, já a emigração da metrópole para Angola e Moçambique levanta protestos de indignação fora de portas.

Mas para quê importunarmo-nos com os clamores, encapuch adamente interesseiros, dos estranhos?

A nossa casa, quem a deve arrumar somos nós próprios. Somos nós próprios quem deve corrigir os desequilíbrios demográficos dentro de cada uma das parcelas territoriais e no conjunto de todo o País. Somos nós próprios que para isso teremos de fazer regressar à terra, seduzindo-as por estímulos convenientes, por condições de trabalho e de possibilidades económicas e por uma preparação profissional mais eficaz, as gentes que da labuta da terra se vão afastando, por não quererem tornar-se cada vez mais pobres, agarradas ao cabo da enxada. Somos nós que, a todos os níveis, teremos de preparar em maior número os técnicos profissionais agrícolas.

E todos estes preceitos são tão válidos para a metrópole como para o ultramar.

Com efeito, no ultramar o amanho dos vastos tractos incultos e a sua repartição em propriedades na posse definitiva de quem as trabalha e de quem nelas vive, qualquer que seja a sua etnia e a sua formação cultural, constituem, sem dúvida alguma, normas de proceder garantindo uma ocupação rústica válida e continuada e contribuem, além do mais, até por profundos factores psicológicos, para a segurança e defesa do território-pois o homem, da sua própria condição de homem, para sentir sua a terra que pisa, é preciso que sobre essa mesma terra sue o seu esforço, erga a sua casa, veja nascerem-lhe os filhos e debaixo dela enterre os seus mortos.

Para finalizar, meus senhores, não posso deixar de referir o alto interesse do problema versado no aviso prévio, que é, indubitavelmente, mais um problema de interesse nacional, e, por isso mesmo, desperta a atenção e o debate construtivo nesta Assembleia.

Só é de lamentar que, uma vez mais, a limitação do tempo para cada tema, no final deste período legislativo, devido à sobrecarga da agenda de trabalhos, venha cercear as sessões a que este debate teria jus para sua completa e satisfatória discussão.

Parece ser este um fenómeno fatal em todos os finais dos períodos legislativos - segundo li, algures, na imprensa ...

Por minha parte, humildemente, confesso a dificuldade de poder assimilar em prazo record a avalancha de assuntos que nesta época é sujeita à apreciação e estudo dos membros da Assembleia.

Realmente, apreciar e discutir a proposta de lei de transplantação de tecidos ou órgãos entre as pessoas vivas, apreciar e debater dois avisos prévios, um sobre um plano estadual de habitação e urbanismo para Angola e Moçambique e outro sobre a formação profissional agrícola, apreciar as contas públicas do ano de 1972, discutir e aprovar a proposta de lei sobre a promoção e defesa do consumidor, tudo isto apenas em cerca de quinze dias é muito, é demasiado para as minhas possibilidades físicas e para a minha capacidade intelectual.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Jorge Proença: - Sr. Presidente, Srs Deputados Constitui para mim tema aliciante e motivo de satisfação poder pronunciar, nesta Assembleia, algumas palavras a respeito do aviso prévio que se ocupa da formação profissional agrícola.

É que reputo o assunto da maior importância, por nele se inserirem dois aspectos da vida humana que sempre me preocuparam e são ainda atractivo singular para o meu espírito - a educação e o trabalho.

Na base dos problemas múltiplos e diversificados que afectam o homem de hoje, como na origem daqueles que afectaram o homem de ontem e que hão-de preocupar os vindouros, a cultura e a formação técnica são dois índices significativos para fornecerem uma imagem clara e uma ideia-definição da presença actual do homem e do estilo de vida das gerações do passado.

Permito-me afirmar, ainda, que sempre olhei para o trabalho do campo e para a actividade agrícola com aquela simpatia humanizante de quem reconhece real valor aos elementos básicos e estruturais da vida comunitária, na medida em que os esforços despendidos neste sector primário são indispensáveis para a satisfação das necessidades básicas, para a continuidade da vida e do bem-estar.

Mas, debruçarmo-nos sobre o vasto mundo da agricultura é descobrir problemas que surgem por razões varas, e circunstanciais, umas de significado mais profundo do que outras e que, no entanto, convirá analisar para se encontrarem soluções próprias e válidas a seu devido tempo.

Se, numa visão retrospectiva, nos devermos na apreciação da vida do homem, nos seus vestígios e pegadas históricas, verificamos que alguns estádios de civilização traduzem as suas ocupações diárias e a problemática do trabalho que tiveram de enfrentar para poderem subsistir.

Aliás, foram os utensílios que inventaram, a par da técnica do seu manejo, que operaram mudanças e transformações notáveis na vida das sociedades e da Humanidade em geral, no deambular de um milénio para outr o e, mais recentemente, de século em século e de uma década para a década seguinte.

Importa ter presente, antes de mais, que o imperioso postulado da sobrevivência impeliu o homem a curvar-se sobre a terra, a cultivá-la, a fazê-la desabrochar em frutos, ocupando pequenas ou vastas extensões, conforme o numero e a densidade populacionais e de harmonia com a riqueza produtiva dos solos.