e eu limitar-me-ia a acrescentar que não pode haver riqueza agrária sem a técnica profissional que a apoie e a impulsione devidamente.

Efectivamente, incumbe aos técnicos difundir os seus conhecimentos e a sua experiência profissional, por meio de cursos e de contactos sociais que atinjam as camadas populacionais activas a todos os níveis etários, desde os jovens aos homens e às mulheres que fazem parte do agregado familiar e que se dedicam à agricultura.

Importa aconselhar, aqui e além, sobre a superfície da terra cultivada, onde naturalmente o minifúndio não poderá auferir iguais vantagens na escala de valores à das grandes extensões, até ao uso adequado da maquinaria, das sementes, dos fertilizantes, dos correctivos, da comercialização, da industrialização de bens e de produtos. Está ai todo um trabalho aliciante e rentável que não pode ser descuidado pelos responsáveis deste sector.

Necessitam-se ainda de dirigentes aptos e instruídos para poderem fazer face às dificuldades que afectam as cooperativas agrícolas, as gestões empresariais e instituições existentes no meio rural, que devem ser pólos de desenvolvimento e centros unicamente de debates de questões que lhes dizem respeito.

Na verdade, a formação profissional agrícola abrange vasto campo de promoção social que não pode ser descurado por mais tempo, a não ser que não nos importemos nem com as suas incidências humanas e políticas nem com os seus reflexos monetários, perda irremediável de divisas, na importação de bens, que tão necessárias se tornam para o nosso equipamento industrial e técnico, em vias de desenvolvimento.

Sr Presidente, Srs Deputados Se todos os organismos dependentes do Ministério da Agricultura - Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas, Junta de Colonização Interna, Direcção-Geral dos Serviços Florestais, Direcção-Geral dos Serviços Pecuários - merecem o apreço e a consideração devidos aos altos fins que visam e aos serviços prestados à comunidade, seja-me permitido, neste momento, render a minha homenagem e realçar a importância do trabalho realizado pela Junta de Colonização Interna no distrito da Guarda, que tenho a honra de representar nesta Câmara.

Em boa verdade, a sua acção tem-se orientado no sentido da criação e fomento de uma agricultura de grupo que constituí já um índice de representatividade importante, ao mesmo tempo que, utilizando maquinaria apropriada, tem encurtado distâncias, melhorado acessos a povoações que não dispunham de meios de comunicação nem de ligações mínimas, por vezes, com outras localidades que ficam bem perto.

Todo este esforço é base é necessário, aqui e além, e não se pense que podemos falar de uma política agrária, em vias de desenvolvimento, sem se solucionarem problemas que, parecendo de somenos importância, no fundo, contribuem para remediar situações lamentáveis.

E não se diga que não vale a pena tratar de assuntos rurais de menor importância nem se incluam, de ânimo teve, no aforismo romano de minimis non curat praetor Há aí um engano e grave. É que, se não dispusermos de vias de comunicação, se não cultivarmos as hortas e as quintas de pequenas dimensões, para além do trabalho a que nos dedicamos, para além da actividade industrial e profissional, acentuar-se-á, cada vez mais, a carência dos géneros alimentares, como já está a verificar-se, e aumentarão para todos, consequentemente, as dificuldades da vida.

Sr Presidente, Srs Deputados: Seja-me lícito referir, em breve traços, um outro aspecto de actividade deste organismo, levada a cabo pela secção, de bem-estar rural que, na expressão «Aldeia em renovação», condensa todo um programa de habitação rural que não só contribui para modificar a face sombra e vetusta de povoações atrasadas, como proporciona conforto, higiene e ambiente agradável, conformes com a dignidade do homem e a defesa moral e espiritual da família.

E, porque conheço de perto a obra já real izada e outra em programação, sou tentado a enumerar algumas das localidades beneficiadas, como testemunhos indesmentíveis- Rochoso, Quinta de Gonçalo Martins, Espinhal, Monteiros, Ribeira dos Carinhos e Toito, no concelho da Guarda, Prados e Salgueirais, em Celorico da Beira, Granja, Palhais, Benvende e Santa Eulália, no concelho de Trancoso.

Citar estes nomes é traduzir, em gratidão, o sentimento anímico de todos quantos beneficiaram da obra já realizada, a todos os títulos notável, e que, em boa hora foi empreendida com larga visão das realidades pelo ex-Secretário da Agricultura, engenheiro Vasco Leónidas, e continuada pelo actual Secretário da Agricultura, Prof. Mendes Ferrão. E, ao lembrar os nomes de SS. Ex.ªs, não quero esquecer os seus mais directos colaboradores-presidente da Junta de Colonização Interna, arquitectos, técnicos, encarregados de obras, até aos mais modestos operários.

São estes dados concretos de uma política de verdade que será preciso incrementar e dotar com as verbas necessárias E julgo que será este um dos objectivos que informa o presente aviso prévio.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Vou terminar Nesta materna, como em muitas outras, precisamos que se trabalhe eficientemente e se encurtem dispersões rés, non verba-factos, não palavras.

Precisamos de uma agricultura objectiva e prática, baseada numa investigação científica, não apenas de laboratório, mas operante. Não nos interessam lições de puro didactismo, em desfasamento com as exigências do ambiente local próprio. Para disputas de alto nível, basta-nos a agudeza subtil de raciocínio da escolástica e as famigeradas discussões sobre Platão e Aristóteles.

Saber fazer coisas, manejar máquinas, utilizar técnicas, concretizar actividades, eis o caminho do pragmatismo agrícola e das realidades por que todos anseiam.

Se acharmos que a imagem do homem do campo, inicialmente traçada, se encontra já ultrapassada e não corresponde à realidade do nosso tempo, figuremo-lo sentado no tractor ou na motocultivadora, em movimento incessante de vaivém, devorando hectares, olhos distantes, alimentando a sua fé e esperança, na mistura do ruído e do fumo que cansam os seus nervos e o seu corpo, em jornada longa de trabalho, dia após dia. Prestemos-lhe justiça. É nosso dever.

De um e de outro dependemos todos. Depende a economia da Nação.