isto é, porque não damos expansão às necessidades do supérfluo (ou menos essencial) é que não podemos facultar trabalho aos nossos rurais desocupados (E. Castro Caldas, Problemas da Sociologia Rural, in «I Curso de Sociologia Rural». Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, 1956, pp. 38-39).

Ia caindo o Carmo e a Trindade, ou seus restos... com o clamor e escarcéu que por aí se levantou.

Que podemos dizer depois disso?

Entre 1950 e 1960 a população activa reduziu-se de 120 000 rurais subempregados.

Nessa década, como na precedente, ainda o esforço de industrialização do País conseguira criar entre centena e meia a duas centenas de milhares de empregos nas actividades secundárias ou fabris em moderada expansão.

Mas já na década de 60, que veio bater ao último recenseamento efectivado, perdeu o fôlego ou a iniciativa e, não se tendo reconvertido notavelmente, a indústria apenas conseguiu criar entre 60 000 e 70 000 novos empregos no decénio. Passámos a importar inúmeros bens de equipamento ou produtos industriais, sentiu-se o facto no agravado desequilíbrio da nossa balança comercial.

Na agricultura acentuou-se a crise de produtividade, remuneração comparativa e regalias sociais, género de vida, reconversão profissional: 440 000 trabalhadores e empresários agrícolas se foram, oficialmente ou «a salto», até à França e à Alemanha, à procura de postos de trabalho que tivemos dificuldade ou incapacidade em criar.

E a população activa com profissão reduz-se pela segunda vez no século em seus efectivos globais: menos 150000 trabalhadores, em equivalente proporcionalidade com os tempos da I República.

E a população residente passa de 8 850 000 no continente e ilhas adjacentes a 240 000 a menos - e, no entanto, os nascimentos haviam excedido os óbitos em saldo natural de 1 073 000, que também se foi.

E na natalidade decai do nível dos 220 000 por ano para algumas dezenas, quase meio cento de milhares a menos.

E o envelhecimento da população metropolitana progrediu.

Como alterar toda esta e muita outra panorâmica demográfica, sabido que a maior riqueza das nações e suas potencialidades futuras residem, sobretudo, na população, no seu povo, na capacidade mental de educação e cultura, profissional e de trabalho, dos naturais ou naturalizados, e dos filhos a haver?

Ou não constituem a Nação, no dizer do artigo 3.º da Constituição, todos os cidadãos portugueses residentes dentro ou fora do seu território, sobretudo se amorosamente continuarem ligados à Mãe-Pátria e com a irresistível saudade de retornar, em vez de expatriados por quebra dos vínculos mais puros que os devem unir às terras e gentes que lhe deram o ser?

Por via disto pus-me a laborar, ultrapassando o quadro de movimentação mental dos consagrados autores do projecto do IV Plano de Fomento para 1974-1979, qual deveria ser, por decénios, a capacidade de criação de empregos na sociedade e economia portuguesas para dar emprego legítimo: eco direito ao trabalho, nos termos que a lei prescrever» do artigo 8.º da Constituição, a quantos, década após decaída, se vinham oferecendo ao chamado «mercado de trabalho» metropolitano. Isto, na ausência de toda e qualquer mobilidade geográfica externa da população de Portuga] (continente e ilhas adjacentes), o que permitirá situar no espaço europeu a verdadeira dimensão do problema da oferta procura de emprego, antes daí irradiar para outros territórios ou nações.

As conclusões a que fomos conduzidos dão-nos para uma geração decenal da ordem dos 2 020 000 nados-vivos (como foram, em média, as de 1936-1945 e 1946-1955), após mortalidade juvenil e infantil e sem emigração, uma oferta de 1 640 000 novos seres potencialmente trabalhadores (15 e mais anos).

Descontadas certas condições perante o trabalho cujas maiores aleatoridades ou incertezas advêm dos efectivos de população escolar admissível - mas que procurámos situar entre a de países sócio-escolarmente adiantados da Europa na década de 60 - e de raparigas com «ocupação doméstica» no quadro do próprio agregado familiar, teríamos uma procura residual de, pelo menos, 950000 novos trabalhadores.

A reforma dos idosos e a mortalidade nas camadas activas da população podem libert ar no mesmo período de tempo qualquer coisa como 400 000 antigos postos de trabalho.

Seríamos conduzidos, assim, a uma necessidade de 550 000 novas procuras (sem emigração), que excede o melhor deste século, no intercenso de 1930-1940: 505 000 novos empregos.

E naquele número ainda se não continham algumas centenas de milhares de agricultures, seus ajudas, familiares ou demais trabalhadores agrícolas, e outros activos dos restantes sectores da actividade económica que desejem reconverter o seu labor profissional.

Não será impossível conceber, assim, 800 000 ou 900 000 novas solicitações de emprego, que num decénio se deveriam expressar, em média, no continente e ilhas adjacentes.

Mas quando lhe oferecemos, em contrapartida, uma redução de 150 000 postos ide trabalho, como foi o caso do último intercenso, então não nos deverá surpreender a hemorragia de 1,3 milhões de portugueses, activos e familiares, partidos para o exterior na década de 60.

Pode alegar-se que a exportação dessa mão-de-obra excedentária, face às reais ou presumíveis possibilidades de absorção de uma economia aliás em moderado processo de expansão, tem a contrapartida de 22 milhões de contos de «remessas de emigrantes» no ano findo entrados.

São bem-vindos, iate para facultar meios de aquisição de bens de equipamento e demais factores de produção com que possamos valorizar e diversificar o aparelho produtivo nacional. Não poderíamos dispensá-los nas actuais e presumivelmente médio-futuras condições da vida económica e financeira portuguesa.

O mal não estará tanto assim nos meios materiais ou financeiros de execução do que nos propusemos construir ou montar, mas no facto de não haver suficiente número de projectos válidos, bem estruturados, concebidos, aprontados, para que se lhes possa dar breve execução.

Num país que continua a afirmar, a reconhecer na iniciativa privada o motor, a mola real do seu desenvolvimento, não podem assacar-se excessivas culpas