para si e paira os seus, desde que honrando sempre o bom nome de Portugal.

Aproveito o ensejo para dirigir os meus cumprimentos de profundo respeito a VV. Ex.ªs, Srs. Deputados, que nesta hora, tal como eu, têm sobre os seus ombros a grande responsabilidade de interferir nas linhas mestras da vida portuguesa e, sem «soluções de continuidade», promover todas as medidas constitucionais em ordem à obtenção do bem-estar da população que representam.

Ser Deputado nesta hora é para mim tarefa difícil; o presente que atravessamos é momentoso.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Para mim, recém-chegado a esta Câmara legislativa, com vista ao cumprimento de uma nobre missão, as poucas sessões a que tive a honra de participar não foram suficientes para sentir claramente os problemas que nos podem solicitar, a nós Deputados, para fazer as necessárias opções, para discutir com a devida isenção de pensamento e para votar com a livre e exigida ponderação.

Em todos os percursos da minha vida pública, quer como técnico, como militar miliciano em Angola, como presidente de uma câmara municipal ou noutros cargos que eventualmente me foram cometidos, senti o embaraço das primeiras horas. Venci-os.

Entrei nesta nobre Casa sob o signo da dificuldade, porquanto encarei frontalmente, como, aliás, todos nós, a proposta de lei n.º 3/XI, para reflexão e consequente deliberação sobre uma peça fundamentai da promoção da vida portuguesa - o seu IV Plano de Fomento, cuja realização se estenderá no hexénio 1974-1979.

Em tão pouco tempo ler, reflectir, optar, concordar ou discutir um valioso estudo de certo e avultado programa de realizações inscritas no referido documento, apesar das previstas revisões, relatórios anuais e trienais e ainda prometida adaptabilidade às realidades que circunstanciem a vida portuguesa, no seu concerto multinacional, é-me impossível, por minha parte, sinceramente, fazer outra coisa que não seja dar ao Governo «o meu voto de confiança».

É assim, com este meu voto de confiança no Governo do Prof. Marcelo Caetano, comprometendo-me, conscientemente isento na crítica e livre na decisão, que inicio a minha vida parlamentar.

É também em nome da população do distrito de Ponta Delgada, que me outorgou um mandato de quatro anos para a legítima defesa dos seus interesses justos, que transmitirei as suas razões e o eco pertinente dos seus desejos e das suas esperanças.

Com o maior respeito e subida autorização de V. Ex.ª e também com o mais indefectível e expressivo respeito pelo Governo, que acaba de pôr ao nosso juízo a proposta de ler n.º 3/XI do IV Plano de Fomento, manifesto a minha profunda preocupação pelo pouco relevo com que os Açores parece terem sido considerados no programa de desenvolvimento constante do importante documento em apreço.

As ilhas dos Açores são paraísos encantados para os turistas estrangeiros ou portugueses que as demandam esporadicamente; até são estadias bastante agradáveis e gratas ao espírito dos nossos ilustres governantes; são terras de magia e de lirismo para os artistas e para os poetas ..., mas são muito adversas e inóspitas ao povo que delas se desentranha.

Não é o horizonte nostálgico e distante que nos abisma do Mundo e implica o já conhecido determinismo fatalista do ilhéu.

Não é a amenidade climática que nos amacia a agressividade do insulamento.

Não. Não é.

Nós estamos bem próximos de tudo e de todos.

A duas horas, via aérea, do continente português.

A quatro horas, via aérea, do ocidente americano.

É neste continente americano que lá vivem, felizes, cerca de um milhão de açorianos e descendentes, já tomados cidadãos americanos.

Viver numa ilha é viver subdimensionado, onde tudo resulta mais caro, onde tudo tem o preço da pequenez.

Mas... então o horizonte nostálgico e distante faz-nos obviamente ambiciosos e diferentes.

Justamente ambiciosos; porém, humanos e transporte, de comunicação, de deslocação.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O homem açoriano sente-se preso, sente-se isolado!

Só assim, com a liberdade de opção pela evasão possível, podemos sentir vontade e força de nos fixarmos livre e decididamente no nosso arquipélago.

Para vivermos nos Açores, quando sabemos o que pelo Mundo se vai passando, é preciso que ao nosso alcance, quase imediato, exista a opção do homem livre, qual seja a de poder movimentar-se para onde lhe aprouver.

Viver numa ilha, isto é, naquele maravilhoso paraíso açoriano, onde 280000 habitantes ocupam 2400 km2, distribuídos por nove e distanciadas emergências vulcânicas.

Onde também circulam e provocam engarrafamentos alguns milhares de carros.

Onde as crises de escassez de gasolina geram escandalosas bichas de automobilistas irrequietos.

Onde a alta dos preços gera a insegurança e o mal-estar dos trabalhadores e a de todos em geral.

Onde a inflação é tema comum de discussão.

Onde os níveis salariais são discutidos.