a não merecer o vivificador estímulo a que, natural e potencialmente, têm pleno jus.

E não esqueçamos que é sobretudo nessas zonas que o fenómeno migratório é mais agudo e que o abandono do campo e das terras (localidades) é cada vez mais alarmante, com todo o seu cortejo de consequências deploráveis, não só para as regiões abandonadas, como para a economia do País.

Ao invés, as regiões do litoral e algumas subzonas delas próximas, onde a evolução demográfica tem acentuada tendência para subir em virtude do crescente afluxo das gentes do interior, e que se encontram até já perto do estado de saturação, são largamente contempladas na política de desenvolvimento do IV Plano de Fomento. Parece até que se está a encorajar uma política de abandono dos meios rurais, quando, a nosso ver, terá antas de se praticar uma política de fomento dos meios rurais.

Nós compreendemos perfeitamente que certos pólos de desenvolvimento, pela sua natureza específica, tenham de se lo calizar em determinadas zonas propícias do litoral ou dos grandes centros urbanos, e compreendemos ainda que as infra-estruturas dessas zonas tenham de ser prioritariamente consideradas. Mas compreendemos e exigimos também que os meios subdesenvolvidos do País, onde a produção e industrialização de certos bens de consumo e exportação é favorável e por certo rentavelmente mais compensadora, sejam encarados com marcado entusiasmo no âmbito do Plano, se é que não queremos divorciar-nos do melhor aproveitamento das potencialidades regionais.

Para além do mais, estamos a pensar neste momento na densa mancha florestal dos concelhos do Norte do distrito de Leiria e de toda a bacia hidrográfica do Zêzere; estamos a pensar nos ubérrimos vales de toda essa região, onde a horticultura outrora foi uma aliciante actividade das suas gentes, que dela se abasteciam, chegando mesmo a suprir ainda necessidades alimentares dos centros urbanos próximos.

Estamos a ver a floresta de toda essa zona a crescer a esmo, indisciplinadamente, e a arder ingloriamente; estamos a ver as pequenas mas produtivas manchas agrícolas a desaparecerem gradualmente e as populações a terem de recorrer aos meios exteriores para proverem à sua própria alimentação, em condições cada vez mais gravosas; estamos a ver o mato, a urze e o tojo a medrarem desmedidamente no vale e na encosta, invadindo perigosamente a floresta e a horta, uma vez que aqueles produtos, outrora largamente aplicados na adubação orgânica dos campos, deixaram de ter qualquer utilidade, dado que hoje se pratica quase exclusivamente a adubação química.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Este, sob certos aspectos, o quadro desolador dais zonas interiores do País, designadamente o da mancha florestal do norte do distrito de Leiria e das areais subjacentes dos distritos de Coimbra e Castelo Branco.

Ora, compulsando o projecto do IV Plano de Fomento, não descortinamos nele quaisquer medidas sérias que possam obviar aos graves inconvenientes apontados. Por isso se impõe corrigir, com carácter de compreensível prioridade, tão flagrantes desníveis de desenvolvimento, até porque nas próprias potencialidades sumariadas encontramos vasto campo de actuação, e que bem pode equilibrar semelhantes desníveis, dentro do próprio contexto de desenvolvimento global do País.

É certo que no Plano estão previstas, além dos principais pólos de desenvolvimento, certas áreas de promoção industrial no Centro do País (v. g. Coimbra e Torres Novas-Abrantes-Tomar), mas não é menos certo que elas não abarcam, de modo algum, a bacia hidrográfica do Zêzere, pois têm por objectivo essencial os vales do Mondego e do Tejo, que igualmente serão merecedores das atenções do Governo.

Claro que ao apontarmos o inventário dás nossas necessidades e potencialidades não estamos a encarar, por exemplo, a criação de uma indústria de transformação de madeira em pasta celulósica, pois bem sabemos hoje da impos sibilidade da sua instalação no vale do Zêzere, já que não ignoramos como os efluentes residuais de semelhante unidade industrial iriam poluir as águas do rio, cujo aproveitamento está previsto para o reforço de abastecimento de água potável da grande Lisboa.

Mas encaramos - isso sim - a criação de grandes indústrias de destilação de madeira e de aproveitamento da resina e seus derivados, de fabricação de aglomerados de madeira, de instalação de grandes serranias e carpintarias, aquelas viradas essencialmente à exportação e estas à construção civil e fabricação de móveis, etc.

A par disso, encaramos a reestruturação da tradicional indústria (têxtil, cujo desenvolvimento começa a processar-se a níveis de melhor produção e de maior competitividade, sobretudo nos concelhos de Castanheira de Pêra e de Ansião (Avelar), por forma a poder enfrentar não só o mercado interno, mas sobretudo os mercados internacionais.

E não esqueçamos também, como é óbvio, o apo io a dar à depauperada agricultura minifundiária da região, para que ela mesma possa cobrir as suas próprias necessidades, como se impõe, sobretudo numa época em que as carências alimentares são cada vez mais graves.

Para a prossecução destes objectivos e de outros que venham a ser considerados de oportunos e necessários, impõe-se a nosso ver:

a) A protecção disciplinadora da floresta e a sua defesa contra a calamidade pública que, hoje, é o incêndio florestal, através da montagem e equipamento de eficientes postos de vigia, fixos e móveis, e dos complementares medos de combate ao fogo, sem olvidar o apoio aéreo e, com particular acuidade, as brigadas dos serviços florestais e os abnegados corpos de bombeiros, organismos estes a que urge dar a melhor atenção, já que tudo arriscam e nada pedem, pelo que se impõe conceder ao seu pessoal tratamento de excepção; haverá ainda que estimular a apreciável ajuda das populações, para uma mais eficiente protecção e salvaguarda do nosso rico património florestal;

b) A criação e apoio técnico-administrativo de uma exploração de grupo da floresta, para valorização e melhor aproveitamento dos seus produtos e subprodutos, desiderato que se pode e deve conseguir através da criação de cooperativas florestais do tipo da jovem Cooperativa Florestal dos Concelhos da Sertã,