gico, «tal como não haverá paz entre as classes: proletariado e patronato capitalista».

O golpe que se processou no Médio Oriente e a utilização da arma do petróleo, a que a Rússia não terá sido de todo estranha em minha opinião, até porque tudo está correndo de feição aos seus objectivos e interesses, não parece ter alterado a tal coexistência pacífica, e isto em área fortemente produtora que permite classificá-la de altamente estratégica, bordejando ia Europa, que é a maior vítima da violenta política assumida pelos árabes, os quais, não esqueçamos, nunca investiram um centavo nem tiveram a menor intervenção na prospecção e exploração dessa incomensurável riqueza, de que, na altura, nem faziam a menor ideia que os seus territórios dela dispunham! Há ingratidões que são execrandas, ainda que estejamos todos couraçados para as receber.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Suponho que ninguém que encare o presente e o próximo futuro com realismo admitirá uma modificação para melhor, do apoio ao terrorismo contra Portugal, bastando lembrar a anedótica República Guiné-Bissau inventada pelo P. A. I. G. C. e já reconhecida por vários países para quem a razão e o direito são iniquidades. Fomentar a subversão é uma constante da política soviética de coexistência pacífica e das repúblicas socialistas populares, designadamente em áreas, como a África Austral, cuja importância estratégica deveria ser por todos bem avaliada, mas parece que o é, na sua verdadeira dimensão, mais por aquelas repúblicas do que pelos países capitalistas. E no entanto estes últimos dependem muito mais do mar do que das.

Entendo pois que, sem me alongar mais nesta matéria da ajuda à subversão, que envolve, e digo-o com tristeza e revolta também, países, do Ocidente - Ocidente que deveria, ao menos agora, perante a ofensiva do petróleo que o atinge em cheio, te r aberto os olhos e reconhecer, além dos nossos direitos, o bem fundado da nossa posição -, teremos de estar preparados para continuar a suportar pesados encargos e actuar como exige um terrorismo tão fluido, insidioso, perverso, desumano e maquiavélico, em que qualquer falha no emprego harmónico e coordenado de todos os recursos humanos e materiais disponíveis corresponde a uma fraqueza do nosso lado, que não pode ser facilmente colmatada, dadas as limitações humanas e materiais de que sofremos. É fundamental ter presente e sentir que se trata de uma guerra total que envolve a Nação inteira.

O Sr. Themudo Barata: - Muito bem!

O Orador: - Todavia, nas grandes provações é que se conhecem e sublimam os homens fortes e às próprias nações senhoras do seu destino.

A meu ver, com um único chefe nas províncias impestadas, revestido de todos os poderes civis e militares, a situação poderia modificar-se favoravelmente; e, como tenho dito noutras ocasiões, esse chefe não precisa, nem talvez deva ser, um militar. O que importa é que seja um homem inteligente, imaginativo, duro sem ser desumano, capaz de grandes decisões e de assumir as correspondentes responsabilidades e que ponha, acima de tudo, os interesses da Pátria; sério e digno, sem extremismos nem preconceitos ultrapassa- dos. Conhecedor, enfim, do meio africano e das suas subtilezas.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem!

O Orador: - Há, por outro lado, que tudo fazer para elevar aos postos mais altos os naturais que dêem provas de honestidade, consciência pátria e capacidade mental e moral.

Nunca será de mais relembrar os excelentes resultados da notabilíssima acção desenvolvida pelo general António de Spinola durante os seus cinco anos de governo da Guiné, exemplo vivo e brilhante do verdadeiro chefe acumulando os poderes civis e militares.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A nossa sociedade multirracial terá de marcar posição definitiva e quiçá única entre as nações que crêem nos seus cidadãos, abstraindo de qualquer tabu.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E a nossa organização militar e de segurança impõe que se continue a incrementar ao máximo a preparação de forçais constituídas por naturais.

Puxar pelas qualidades e aptidões dos homens, dando-lhes, na hierarquia social e política, a posição correspondente à sua capacidade e predisposição para as tarefais que lhe são cometidas, terá de ser o mot d'ordre. Só assim a nossa grande sociedade euro-africana virá a ser rapidamente a realidade que todos desejamos.

Por mim, que me considero um euro-africano, porque em África passei vários anos da minha vida, ainda hoje, apesar da minha idade, ali viveria de bom grado se as minhas fracas capacidades o indicassem. Todavia, reconheço ser necessário, para atrair mais nacionais europeus, atacar a fundo problemas que estão tornando em pesadelo o entusiasmo pelas tarefas africanas, e um deles, de longe o mais sério, é o dos pagamentos interterritoriais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se não se encontra uma solução que resolva com brevidade várias das restrições existentes, aprofundaremos a larga vala que se está cavando entre a província metropolitana e as de Angola e Moçambique, particularmente esta última, cuja situação económico-financeira é menos favorável do que a de Angola. Tenha-se em vista o recente discurso na Assembleia Legislativa do seu Governador-Geral, cujo optimismo e patriotismo não podem ser postos em dúvida. A dificuldade de transferências cria praticamente uma barreará para contratar técnicos da metrópole para trabalharem em África. Outras razões, designadamente para servir fora dos grandes centros populacionais, fazem com que os vencimentos pedidos atinjam montantes incríveis e incomportáveis. O recrutamento de estrangeiros chega a ser menos despendioso do que o de nacionais; o que é um autêntico paradoxo e pouco edificante!