as relações e a compreensão entre todos quantos vivem no espaço português e a ele pertencem por nascimento e por coração. Deixará assim de haver distância a gerar incompreensões ou dúvidas; e aqueles que em África labutam por um Portugal maior, sobretudo nesta fase da sua existência, receberão da retaguarda a confirmação de que a unidade não é palavra vã. Uma população civil confiante e terminantemente disposta a permanecer contribuirá, sem dúvida, para manter, ainda mais elevado, o moral do quantos ali estão para a defender, e com ela a soberania nacional. O exemplo mostra-nos, aliás iniludivelmente, que assim é, e melhor ainda poderá ser!
Sr. Presidente: Devia ter começado estas palavras por manifestar a V. Ex.ª a expressão da minha mais sincera admiração, admiração essa que lhe é inteiramente devida, como político eminente, como professor universitário ilustre e como homem de bem.
E, por ser a primeira vez que uso da palavra na Assembleia Nacional, mais evidente ainda seria esse meu dever. Estou, porém, certo de que V. Ex.ª me desculpará a falta, uma vez que eu apenas quis, mesmo antes de saudar V. Ex.ª, fazer a minha afirmação de fé nos destinos de Portugal, uno, indivisível, e indissoluvelmente unido pelos laços de um passado multissecular que nada destruirá, se todos soubermos cumprir o nosso dever de portugueses e de soldados de uma causa sagrada: a causa da Pátria.
Nesta Assembleia, onde se discutem os actos do Governo, onde se legisla e se vigia pelo cumprimento da Constituição e das leis que a regem, todos são invioláveis pelas opiniões e votos que emitirem no exercício do seu mandato.
Por outras palavras: todos podem, livremente, exprimir a sua opinião - todos devem fazê-lo -, desde que o façam objectivamente e sem que isso represente quebra de disciplina pelos princípios que se comprometerem a respeitar, falta de apoio ao Governo da Nação, ou ao regime político que nos governa vai para 40 anos e repôs a Pátria no caminho da sua própria tradição.
E certo que colaborar não é aceitar tudo sem discussão, sem pedidos de esclarecimento, por vezes, mesmo, sem críticas ou objecções. E julgo que o pior serviço que ao Governo e ao País poderíamos prestar seria proceder assim. Este facto demonstraria uma inconsciência confrangedora, quase que criminosa, da missão que aqui nos trouxe. O que é preciso, isso sim, é que as críticas ou objecções a formular sejam completamente isentas de demagogia e visem apenas intenções claras e objectivas.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Representamos nesta Assembleia os eleitores do nosso país. Devemos, portanto, no honesto cumprimento do nosso mandato, ter sempre no pensamento o seu bem-estar, o seu progresso, a melhoria constante do seu nível de vida.
O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!
O Orador: - Mas quando usamos da palavra não devemos dirigir-nos a eles, embora eles sejam quem nós pretendemos servir directa ou indirectamente. Assim procedendo, estamos, sem dúvida, a trabalhar pelo bem-estar e pelo engrandecimento do povo da nossa terra.
Não devemos também esquecer os nossos deveres de fidelidade e de lealdade para com a União Nacional, que, aberta a todos os portugueses, sem discriminação de ideais políticos ou credos religiosos, patrocinou a nossa candidatura a Deputados.
Vozes: - Muito bem!
Haverá, certamente, entre nós, quem seja mais ou menos intransigente na sua dedicação ao Estado Novo e àquele que politicamente o dirige. Por mim, desejaria que ficasse bem claramente definido - embora sem quebra de convicções políticas de que não abdico - o meu total apoio à política do Governo, especialmente no que se refere ao ultramar e à orientação que no campo internacional tem sido imprimida, ainda que, para sua concretização, se entrechoquem interesses colectivos ou particulares de grupos ou de indivíduos que, em bloco, constituem a Nação e as suas principais actividades e interesses. E, ao fazê-lo, afirmo a minha incondicional dedicação à figura inconfundível do Sr. Presidente do Conselho, benemérito da Pátria, conforme o proclamou S. Ex.ª o Sr. Presidente da República, quando no ano findo inaugurou a estátua que lhe foi erigida na sua terra natal.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - O País está em guerra. O tempo é de sacrifícios, e poucos, muito poucos, são aqueles que até agora nos têm sido impostos, sobretudo a quantos, pelas suas condições de vida, têm por onde suportar o que a outros falta.
Morre gente, e da melhor, em África; vão-se esgotando recursos quando nem toda a gente parece ainda mentalizada para eventuais esforços que a todo o momento podem ser-lhe exigidos.
Todos nós devemos estar preparados para dar à Nação, para além dos nossos filhos, qualquer coisa mais do que aquilo que ela não pede, mas nem sempre por isso deixa de carecer!
Fazem-se por vezes críticas, julgam-se pessoas e tomam-se atitudes. Simplesmente, nem sempre tal sucede com inteira objectividade e completa isenção. Não pretendo, com esta afirmação, nada mais do que definir a minha própria linha de pensamento e de conduta dentro desta Câmara. Será, e certamente é, imperfeita a minha preparação, mas o que posso afirmar, e faço-o sem hesitar, é que será sempre estranha a interesses pessoais, a ambições de qualquer espécie ou a influências alheias à minha própria consciência - mesmo que para isso tenha de sofrer incompreensões ou prejuízos ...
Quero manifestar a V. Ex.ª e aos Srs. Deputados, a par da minha admiração e respeito, o meu incondicional desejo de - sem quebra da indispensável objectividade na análise de factos que venham eventualmente a processar-se