ou de problemas que possam vir a discutir-se - pautar a minha atitude através do incondicional apoio, repito, a quem, através de mais de 37 anos de chefia política, tem sabido, com o seu exemplo, incutir confiança e merecer a mais devotada gratidão de todos quantos mantêm, intacta no seu peito, inquebrantável fé nos destinos da Pátria.

E, com os mais humildes protestos de penitência por me ter alongado demasiadamente, renovo a V. Ex.ª os meus cumprimentos de saudação e aos ilustres Deputados a minha esperança de que desta Guinara saia sempre a luz de que o País tanto precisa para iluminar a rota que lhe foi traçada pela sua própria história, e que devemos seguir, intransigentemente, dispostos a continuar Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Colares Pereira: - Sr. Presidente: Eu pedi a palavra, mas posso dizer, com a certeza de não errar, que antes de mim, ao mesmo tempo ou até neste preciso momento, todos os meus colegas Deputados pelo círculo de Leiria a quereriam pedir também, para tratar do mesmo assunto e por igual motivo: não deixar passar esta sessão de hoje, que é a primeira depois do último sábado, sem que algumas palavras se proferissem aqui em cumprimento de indeclinável obrigação.

Todos gostosamente a quereriam cumprir, mas, uma vez mais, o triste jus da idade ou da antiguidade fez, com muita honra para mim, que me coubesse o desempenho desse cargo.

Começo por um agradecimento respeitoso e muito sincero a S. Ex.ª o Sr. Presidente da República pela honra que quis dar à cidade de Leiria visitando-a uma vez mais e emprestando com a sua presença a solenidade máxima ao acontecimento que nesse sábado se celebrava.

Não vou explicar aqui, com pormenores, de que acontecimento se tratava.

Conhecem-no já todos VV. Ex.ªs, pois a imprenso - como ela o sabe fazer!, e com o brilho que lhe é habitual, sempre que uma causa é justa e merece o calor humano da solidariedade e compreensão de todos- teve o cuidado de realçar, através dos seus artigos e notícias, esse mesmo acontecimento: a inauguração do Teatro de Leiria.

E tudo isto porque se inaugurava um teatro?

Não. A atitude da imprensa justificava-se, pois tratava-se de um caso ímpar, invulgar, digno de ser contado e conhecido: como nascera esse teatro a inaugurar, quem o construíra e em que termos o oferecera à cidade.

Leiria tinha tido um teatro que a ruína dos anos e as exigências citadinas obrigaram a demolir e desaparecer ... perante a mágoa e desgosto de todos os leirienses, que muito queriam ao velho edifício, tão cheio das mais gratas recordações.

Leiria orgulhou-se sempre dos seus pergaminhos teatrais, e justo orgulho é esse, pois o seu amor ao teatro bem se documenta através da actividade de muitos e muitos anos dos seus amadores, que tornaram o seu grupo num dos melhores núcleos de amadores teatrais portugueses.

Assim, demolido o velho teatro, que fora sem dúvida dos melhores do seu tempo, logo nasceu na cidade o anseio colectivo de ver construído, sem demora, outro que o substituísse.

Mas os anos iam passando, e com eles se perdia também qualquer resultado prático das muitas conversas, discussões, planos e sugestões ...

Ideias hoje entusiasticamente acolhidas eram amanhã abandonadas, e a pouco e pouco só crescia na cidadã aquele azedume progressivo que acompanha, de perto, todos os problemas da "casa onde não há pão ...".

Tantos anos decorridos e o sonho não se materializava.

E, de repente, surge um homem, nascido em Leiria, mas não em berço de ouro, e que fez a sua vida à custa de esforço e de trabalho, orientado sempre por um carácter recto, uma inteligência viva e uma força de vontade, essa invulgar também, por tão grande.

E foi esse homem que num dia memorável fez dissipar as dúvidas e descrenças e terminou todas as discussões sobre a ambicionada e sempre mais distante possibilidade da construção do teatro, dizendo, com singeleza e solenidade, que Leiria ia ter o seu teatro, pois seria ele a construí-lo e à cidade o ofereceria.

Assim o disse e fez esse homem; e o teatro custou ao seu bolso 10 000 contos.

Quero agora acrescentar que esse valioso preço não foi dado assim, sem mais nem menos ...

O generoso doador impôs cláusulas e obrigações, e uma delas foi esta: o teatro, por ele construído, ficaria, para todo o sempre, pertença da Câmara Municipal de Leiria.

A outra cláusula, mais grave ainda: o produto obtido de toda e qualquer exploração do teatro, também para todo o sempre, seria entregue, por lhe pertencer, à Santa Casa da Misericórdia de Leiria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, além destas obrigações, houve outra ainda, a última, e essa foi também um pesado ónus sobre o teatro: enquanto de viver e a senhora sua mulher, ambos terão sempre um lugar nesse teatro ...

Como VV. Ex.ªs voem, o ónus é muito pesado!

Ora, S. Ex.ª o Sr. Presidente da República, conhecendo tudo isto, fez o que Leiria lhe agradece do coração: a sua visita de sábado passado.

Se sempre em Leiria Sua Excelência foi recebido como file sabe que o foi, posso afirmar que nesse dia, mais do que em qualquer outro, o Presidente da República andava no coração de todos, pois nessa noite em Leiria quem mandava era o coração ...

Nessa noite da inauguração do teatro houve dois espectáculos, sendo um no palco.

A Companhia do Teatro Nacional representou primorosamente Os Velhos, de D. João da Câmara. Acertada escolha a dessa peça, tão portuguesa que, sendo já antiga, ainda é de hoje, através daquele fio de ternura, muito nossa, que discretamente a acompanha do primeiro ao último acto.

Estou até convencido de que os ilustres artistas poucas vezes terão tido na sua frente um público mais prodigamente disposto a aplaudi-los e a agradecer-lhes o grande prazer de os ver representar assim, nessa noite memorável, em que o clima da peça, onde o coração comanda, era afinal p mesmo no palco e na sala.

E agora, o outro acto, mas esse fora do palco: a cerimónia da imposição, pelo Sr. Presidente da República, acompanhado do Sr. Ministro do Interior, da condecoração que tornava o Sr. José Lúcio da Silva comendador da Ordem de Benemerência.