romântico e simpático mas não tem qualquer lógica ou sentido no estado actual da miséria cinegética.

E, no entanto, a esta região, que se vê retrogradando, não faltam possibilidades para progredir e exactamente sobre essas bases: agricultura, indústria e turismo.

Possuímos a maior área florestal do Pais e uma área, maior ainda, de aptidão florestal que, para se valorizarem, e desenvolverem, apenas necessitam de que se concretize a realização da fábrica de celulose já autorizada para junto de Vila Velha de Ródão, se facilite e favoreça a instalação de todas as outras indústrias de aproveitamento dois produtos florestais e se apliquem em toda a sua amplitude as potencialidades do Fundo de Fomento Florestal.

A boa terra é pouca, mas sempre existe e poderá render, desde que passe a dedicar-se a culturas ricas que as nossas limitações climáticas não permitirão escolher entre muitas, mas certamente encontrar algumas, desde as frutas às horto-industriais.

Mas isto já exige a presença não só de indústrias, como das infra-estruturas indispensáveis à segurança da colocação dos produtos, o que não está, presentemente, nas possibilidades dos particulares criar e pôr a funcionar.

Temos produtos de alta qualidade, como o azeite, o queijo e até o vinho, mas atravessando um período de grandes preocupações e dificuldades, consequência da carência e encarecimento de mão-de-obra, que não parecem, no entanto, impossíveis de vencer com estruturas capazes de aproveitar ao máximo, pelo fomento da comercialização, toda a capacidade valorizadora do espaço económico português e todas as possibilidades de colocação que aquela qualidade possa conquistar no mercado externo.

Uma lei de caça que encare o problema à luz das realidades e necessidades actuais poderá, por outro lado, não só oferecer, ao distrito de Castelo Branco e ao País, mais uma fonte de riqueza e de divisas, como proporcionar uma utilização rentável a muitas terras que, pelas d ificuldades de mecanização, nem na floresta a poderão encontrar.

Terminou no dia 39 o Simpósio sobre Mecanização Agrícola, que segui com o maior interesse, dada a categoria dos técnicos nele intervenientes e a actualidade do assunto, de cujas conclusões destaco as seguintes, por virem ao encontro do meu pensamento e certamente de todos os que conhecem e vivem os problemas da terra:

Que está a agravar-se no nosso mundo rural uma conjuntura de crise pela rarefacção das disponibilidades do factor trabalho, com todas as implicações económicas e sociais dela resultantes.

Que tal conjuntura impõe uma urgente e profunda renovação da agricultura no continente português.

Que tal renovação terá, porém, de alicerçar-se num incremento acentuado da produtividade do sector u de meios e providências legais visando a máxima rentabilidade das explorações agrícolas.

Não tenhamos dúvidas a tal respeito.

A agricultura, para sobreviver, tem de se renovar, transformando-se de actividade aleatória em profissão rentável, mas essa transformação não a pode já fazer por si própria, no estado de debilidade e desorientação em que se encontra. Terá de alicerçar-se em meios e providências legais visando a sua máxima rentabilidade.

Rentabilidade que não é fruto da produtividade. Em crise de produtividade andam os nossos principais produtos agrícolas.

A rentabilidade tem de ir adiante.

É de um mínimo de rentabilidade assegurada que se pode partir para uma produtividade que a leve ao máximo.

E não me parece que seja só uma questão de disponibilidades financeiras do Governo. É, sobretudo, uma questão de política.

Uma política agrícola definida, em que se vão inserindo as medidas de actualização ou de emergência, que considere a agricultura como actividade a proteger e defender e lhe dê a confiança e os meios de que necessita para poder adoptar as melhores técnicas e fazer os investimentos necessários àquela renovação; que lhe dê o lugar que lhe compete e as garantias que merece na estrutura económica nacional.

Em quase vinte anos de lavrador tenho podido apreciar a paixão com que muitos, como eu entregaram à terra o melhor do seu tempo, do seu esforço, dos seus lucros ou dos seus créditos, convencidos de que assim contribuíam para o progresso da sua economia e do seu meio.

E os resultados estão longe de ser brilhantes. O meio esvazia-se e os rendimentos só nas finanças subiram.

No entanto, parece-me que a hora é de esperança.

Não há que desanimar ainda.

Em curto espaço de tempo decretou já S. Ex. ª o Ministro da Economia medidas que revelam não só a sua vontade de procurar e encontrar soluções1 válidas para os vários problemas da lavoura, mas, sobretudo, a aceitação desses problemas como preocupação e responsabilidade governamentais.

A forma como Sua, Excelência tem justificado essas medidas e publicamente analisado as situações que as determinam constituem actos de lealdade governamental que merecem os nossos maiores aplausos e não podem deixar de produzir os seus frutos.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - É indispensável mentalizar. E só assim, esclarecendo lealmente, se mentaliza.

Na base da política agrícola, para que se torne eficaz, tem de estar a compreensão de quanto interessa a todos e quanto depende de todos.

E preciso entender e fazer entender que vinho, azeite, milho, centeio, trigo, batata, carne, lacticínio, etc., mais que produtos, representam vidas e por muito tempo ainda a única possibilidade de viver em certas grandes zonas do País, que não se podem deixar morrer ou desvitalizar sem grave prejuízo para todos.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Aceitamos indiscutivelmente o primado da defesa nacional, mas nela temos de incluir, e logo a seguir à defesa das fronteiras, a de tudo o que representa vida dentro delas e é necessário para que em todo o nosso território, sem atrofias nem hipertrofias, se mantenha e desenvolva a vida portuguesa.

Temos muitas e grandes dificuldades. Mas Deus não as dá por acaso, e é diante delas que os homens e os povos dão a sua verdadeira «medida. E nós cá vamos dando a nossa, não nos negando a nenhuma e certos de ,que as havemos de vencer todas, porque só para se vencerem Deus as dá.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.