Com tamanha carência de professores o ensino terá de ser deficiente, e a continuar assim é estarmos a enganar-nos a nós mesmos.
O Sr. António Cruz: - O mal não é só da Guiné, é também da metrópole. Há muitos liceus na metrópole que não têm um único professor efectivo do 1.º, 2.º, 3.º, 4.º e 5.º grupos. Inclusivamente, há professores eventuais a terem de exercer as funções ...
O Orador: - Eu estou a ouvir com muito gosto, mas o tempo regimental para a minha intervenção é de 30 minutos, sobre o qual tenho responsabilidade. De maneira que, se V. Ex.ª, Sr. Presidente, permitir, vamos continuar a ocupar-nos apenas da Guiné.
O Sr. Presidente: - Quem dá licença é V. Exª. A mim
só me compete dizer-lhe quando atinge a meia hora.
O Sr. Pinto Bull: - Estou esperançado em que, da mesma maneira que no campo sanitário temos conseguido as maiores facilidades do Sr. Ministro do Exército, também no campo da educação o havemos de conseguir.
Quanto à tuberculose, muito se tem feito por intermédio das respectivas brigadas e a Fundação Calouste fiul-benkian tem ajudado imenso a província.
Ainda no ano fíndo concedeu cerca de 800 contos para continuarmos a campanha do radiorrastreio e da medicina terapêutica, o que tem evitado a propagação da terrível doença.
Quanto à agricultura, só poderei dizer que V. Ex.ª, Sr. Deputado Nunes Barata, viu muitíssimo bem o problema. É um outro sector onde a província vem lutando com grande falta de técnicos, mas alguma coisa se vai fazendo.
Aproveito esta oportunidade para fazer mais uma vez um apelo a todos os bons portugueses que querem que as nossas províncias ultramarinas continuem a fazer parte integrante do Portugal uno, para que vejam no ultramar uma continuidade do continente, para que vejam na Guiné um bocadinho de Portugal, como se fosse o Minho ou o Algarve, e procurem exercer ali, se puderem, um pouco da sua actividade e ajudem a Guiné, Angola e Moçambique a sair desta difícil situação em que se encontram por falta de técnicos.
A anunciada continuação das prospecções petrolíferas da sociedade Esso na Guiné é mais uma esperança que se deve realizar este ano. Isso deixa-me antever que a sua saída há anos da província não foi uma questão de certeza da não existência de petróleo Saiu há dias o decreto autorizando o novo contrato com a Esso. Logo que se concretize, isso será uma grande ajuda material para a Guiné.
A província está atravessando uma crise financeira como pouca gente julga. Oxalá possamos conseguir técnicos que nos permitam aproveitar esta achega material para o muito que há a fazer na Guiné.
Mais uma vez, muito obrigado pela maneira como V. Ex.ª, Sr. Dr. Nunes Barata, vê os problemas da Guiné. Visitas como a que V. Ex.º fez à Guiné deviam ser mais frequentes.
Por delegação do Sr. Governador da província, apresentei ao Sr. Presidente um convite para mais Deputados visitarem a Guiné. Oxalá esse convite se possa concretizar e oxalá os Srs. Deputados possam ver a Guiné pelo mesmo prisma por que V. Ex.ª a viu, Sr. Deputado Nunes Barata!
O Orador: - Não agradeço a V. Ex.ª todas as atenções de que lhe sou devedor por esta intervenção, nem me alongo em elogios, para que os Srs. Deputados não digam que passa a ser uma conversa de compadres.
Congratulo-me também com a notícia por V. Exª. anunciada do convite feito pelos responsáveis da Guiné para que alguns Srs. Deputados visitem aquela província, sendo de desejar que as outras províncias façam o mesmo, pois mão se compreende que uma grande percentagem de Deputados não visite e não conheça o ultramar, dado que só por esse conhecimento e visita real se pode ter a noção da Pátria em toda a sua grandeza.
Sr. Presidente: Sinto ter sido demasiadamente longo para o que me seria permitido e ter dito muito pouco do que se me afigurava necessário.
Salientei que a economia da Guiné se funda na agricultura. Acentuei ainda possibilidades que outros sectores, como as florestas, a pecuária, as pescas, as indústrias extractivas e a industrialização dos produtos agrícolas, poderiam trazer ao desenvolvimento da província.
Ao pensar no futuro da Guiné, vencidas também as dificuldades criadas pelo terrorismo, não poderemos esquecer:
1.º A oportunidade de uma análise da experiência dos planos de fomento, em ordem a tirar lições que nos assegurem os melhores caminhos para uma desejável reprodutividade nos investimentos;
2.º A necessidade de dar uma possível primazia ao desenvolvimento da agricultura nativa e em realizar investimentos de carácter social, nomeadamente em matéria de educação-base e de assistência sanitária;
3.º A reestruturacão dos serviços públicos provinciais, centrais e regionais, dotando-os de elites aptas, em número e qualidade, a apoiar as pequenas grandes tarefas do desenvolvimento;
4.º A adopção de uma ajuda financeira da metrópole, a realizar tanto pelo Estado como pelas grandes empresas, que compense as insuficiências do modestíssimo orçamento provincial;
5.º O recurso a soluções que repousem em esquemas de desenvolvimento comunitário, sociedades pró-cooperativas, cooperativas, Marketing Board, pequeno crédito agro-pecuário e, para a industrialização dos produtos agrícolas e fomento turístico, a sociedade de economia mista.
Sr. Presidente: O desenvolvimento da Guiné, mais do que um apelo, é um desafio. Na medida em que as gentes