O Orador: - Estamos no 40.º ano da Revolução, mas aventuro-me a afirmar que talvez o não estivéssemos se dez anos antes se não tivesse aberto uma trincheira de combate doutrinário, religioso, social e político com o aparecimento do jornal A Ordem, em 2 de Fevereiro de 1916, seguido mais tarde por A Época e agora continuado por esse cristalino fio de água límpida que se chama A Voz.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Esses três jornais, A Ordem, A Época e A Voz, ao sabor dos tempos e das suas espantosas vicissitudes, foram, nos passados 50 anos, o reduto mais apaixonado, violento e vivo das constantes nacionais, da essência das suas forcas interiores e da sua secular tradição; e talvez tenham sido mais do que isso, em serem o estandarte e a espada das doutrinas da contra-revolução. sempre na liça por tudo quanto era nacional e nosso, sempre contra tudo de expoente alheio em que se diluía e dissolvia vertiginosamente o espírito criador de oito séculos de história, impregnada de vigor nacional e apontada para altos, gloriosos e sacrificantes destinos de universalidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O jornal é sempre uma paixão absorvente: mal das coisas quando essa paixão se circunscreve ao sensacionalismo e ao lucro, mas felizes dos povos cuja imprensa é efectivamente um poder de formação e um correcto órgão de informação tendente ao bem comum, seja o do homem na sociedade universal, seja o de qualquer comunidade nacional organizada nas linhas mestras das suas origens e vocação.

Pois, apaixonado e vivo foi e continua sendo o giro de actividade desse trívio jornalístico, combativo e combatido, onde nunca se diluiu a fé, nunca esmoreceram os princípios, nunca minguou a coragem e também por isso mesmo, nunca cresceram outros bens que não fossem a honra de servir Deus, a Pátria, a Grei e a Família em tempos de calamidade social e política, quando se pretendeu que fosse a lei da Pátria contra a lei de Deus, e a lei de Deus letra morta no seio da Grei e da Família, e a luz de Deus apagada do sentido e do destino de uma Nação, que só à sombra da Cruz ganhara ímpetos de universalidade e de eternidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não cabe neste lugar, nem eu saberia fazê-lo, delinear a história destes 50 anos de actividade jornalística e de acção de doutrina e de combate dos três jornais que agora .celebram, no seu conjunto de pensamento, as bodas de ouro da continuidade de acção ao serviço da causa nacional. Página luminosa dessa história é, sim o magnífico estudo do Prof. Marcelo Caetano publicado no jornal A Voz do passado dia 20 de Janeiro, e da meridiana claridade desse estudo bem se depreende, pelo intrincado das situações e dos acontecimentos, a dificuldade de tecer a história desse tempo em termos hábeis, exactos e desapaixonados. Soube fazê-lo Marcelo Caetano, porque é sempre mestre no que faz, tem como raros a lição e a experiência de todos os fenómenos do seu tempo e pôde acrescentar ao que escreveu a nobre mas; severa emoção de quem foi autor e colaborador daquela rajada de ideias e expansão de forças com que nesses jornais sempre se serviu, no desinteresse pessoal, o interesse do comum.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Quanto aos princípios, limito-me a citar nesta Câmara três passos dos primeiros editoriais que A Voz relembrou no seu número comemorativo de 29 de Janeiro findo:

Combateremos o erro, onde quer que ele se acoite, procurando sempre terçar armas adentro do espírito cristão, com caridade para com os homens, mas sem piedade para o erro.

Mais vale que a conquista do Poder como objectivo, a superior influência assegurada pela actividade económica, pela acção criteriosa e dedicada no campo social.

De A Voz:

Tem A Voz a enorme ambição de congregar boas vontades em torno da Pátria estremecida, de contribuir para o saneamento da atmosfera social.

Se houvéssemos de sintetizar, diríamos que ura sempre a constância na doutrina e a firmeza no combate, a audácia indomável contra a tormenta e o terror que agitavam a vida da Pátria estremecida.

Dos homens que nesses três jornais serviram devemos, sincera e enternecidamente, saudar os que continuam seguindo os trilhos de sempre, nessa escola de jornalismo e de acção, de doutrina e de fé, de heroísmo e de sacrifício, e só podemos ver no Pedro Correia Marques o homem que simboliza todos quantos a graça de Deus mantém em vida e continua iluminando no espírito para que sigam servindo a unidade, a continuidade e o ressurgimento da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas permita V. Ex.ª, Sr. Presidente, que lembre aqui aqueles que já. transcenderam o efémero da vida e dos jornais e o primeiro de todos é gigante, porque de todos foi o guia. o exemplo e o responsável. Se a Assembleia quisesse comigo reverenciar a memória de um grande de Portugal, a fé de um crente, a força c a coragem de um doutrinador, a esclarecida consciência de um jornalista, tudo em grande, eu pediria que nos curvássemos perante a veneranda figura do homem que foi José Fernando de Sousa, paladino indomável da causa de Deus, da Pátria,- da Grei e da Família.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas tem esta Câmara, penso eu, uma dívida em aberto para com outro homem que aqui viveu connosco e foi também lutador do bom combate nesses jornais cujas datas comemorativas estamos evocando.