E a ponte de S. Jacinto seria um investimento bastante proveitoso, por rentabilidade previamente assegurada, como o futuro virá a confirmar.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Santa-Rita Vaz: - Sr. Presidente: Pedi hoje a palavra para tornar público, nesta Câmara, o agradecimento de centenas de funcionários públicos e agentes naturais do Estado Português da Índia que, após a invasão pelas forças armadas indianas, para aqui vieram, sendo todos colocados em diversas províncias do ultramar, a cuia precária situação o Governo acaba de dar solução definitiva e justa.

De várias partes recebi a incumbência de manifestar ao Governo a sua imensa e eterna gratidão, o que faço com o maior prazer e entusiasmo.

Antes de entrar propriamente no assunto, permitam-me VV. Ex.ªs, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que borde sucintas considerações sobre o que se passou naqueles trágicos dias da ocupação dos nossos territórios de Goa, Damão e Diu.

A população, transida de pânico, viu-se apática e isolada, pois estavam cortadas todas as ligações com a metrópole, sendo a Emissora Nacional o único meio de saber as decisões do nosso Governo sobre o seu futuro.

Reinavam o caos e a confusão, mas, felizmente, desde é primeiro momento, chegavam àquelas terras notícias animadoras, pois Portugal, numa atitude que nunca será demasiado encarecer, ofereceu-se a receber de braços abertos aqueles que desejassem a sua protecção e o seu amparo.

Os corações daquelas gentes pulsaram de satisfação. criando confiança em dias melhores, no que não se enganaram.

Na mensagem do novo ano de 1962, o venerando Cheio do Estado insuflou em toda a população fé e esperança, pois, como disse:

Saber esperar foi sempre uma grande virtude dos Portugueses e já noutras épocas da nossa história conseguimos reaver, algumas dezenas de anos depois, territórios que legitimamente nos pertenciam e de que tínhamos sido esbulhados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:

É também de crer que o Ocidente desperte finalmente da letargia em que tem vivido, apreendendo-se de que pode estar caminhando para a pior de todas as escravidões.

Acontecimentos posteriores deram inteira razão a essas quase proféticas previsões.

Logo a seguir, a 3 de Janeiro de 1962, nesta mesma saia, o Sr. Presidente do Conselho proferiu o seu magistral discurso, com aquela clarividência, sensatez e precisão que são seu apanágio, escutado em Goa, embora a medo, com os olhos marejados de lágrimas da mais enternecedora comoção.

As acalentadoras palavras então pronunciadas representaram para a alma ferida de Goeses, Damanenses e Diuenses bálsamo salutar e vivificante, sobretudo quando afirmou:

Tendo-se manifestado por toda a parte tão portuguesa como os melhores e tendo arrostado com dificuldades enormes para se manterem fiéis, é apecas da nossa parte reconhecer-lhes um direito que os honra e os faz continuar presente entre nós ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador:

... é que a cidadania portuguesa deverá continuar a ser conhecida de direito e de facto aos Goeses, independentemente de lhes vir a caber dupla nacionalidade por imposição unilateral da União Indiana.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E prevendo, sabiamente, o que se iria passar, o Sr. Presidente do Conselho anotava:

As dificuldades surgirão para uns e para outros quando o programa de indianização de Goa se chocar com a cultura dos Goeses e o primeiro-ministro verificar que uma individualidade própria foi ali criada através dos séculos pela interpenetração de culturas e pelo cruzamento de raças. Penso que as violências vão ser em proporção das dificuldades e que, ;i demorar muito a reintegração de Goa, se siga à expoliação e à força da igualdade na pobreza a perda de liberdade, que, quanto à língua, à religião, à cultura, diminuirá os Goeses. E de esperar, por isso, que muitos desejem subtrair-se às inevitáveis consequências da invasão, e todos hão-de ser bem recebidos em qualquer parte do território nacional.

Os factos decorrentes vieram confirmar o que o Sr. Presidente do Conselho, no exacto conhecimento do Mundo, já adivinhava e ainda quando vaticinou:

Não devemos ter ilusões sobre obstáculos e dificuldades de toda a ordem que se levantarão à execução do nosso programa quanto aos goeses que se encontrem fora dos territórios portugueses. A pertinácia, a raiva, com que a União Indiana prossegue, desde a independência, à captação dos filhos de Goa no seu território vão redobrar em relação aos que levam a sua vida em territórios estrangeiros nos quais a nossa própria acção pode vir a ser entravada por influência sua. Mas o nosso dever é lutar pelos Goeses e por Goa, sem olhar a sacrifícios, como fizemos até aqui.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Outra coisa não tem feito o Governo desde a primeira hora do ordálio por que estão a passar os filhos de Goa, Damão e Diu, como se pode provar pela legislação publicada a partir de 30 de Dezembro de 1961 - Decreto n.º 44 142, dessa data, Lei n.º 2112, de 17 de Fevereiro de 1962, Portarias n.ºs 19 063 e 19 075, de 7 e 15 de Março desse ano, e várias outras medidas tomadas, que seria longo enumerar, tendo como alto objectivo aplainar as mil e uma dificuldades que surgiram após a invasão, além de despender avultadas somas com a deslocação para a metrópole dos nacionais que residiam na Índia Portuguesa.

A tudo se atendeu solicitamente e com a maior presteza. A milhares de pessoas que abandonaram a terra natal deram-se asilos, subsídios, colocações, dispensando os seus filhos do pagamento de propinas nos estabelecimentos de ensino, enfim, acolhendo-os da melhor maneira possível. Quanto aos funcionários públicos e seus agentes, não foi de pequena monta o esforço despendido com o seu reajustamento nos vários quadros, quer do continente, quer do