O que pretendo expor a VV. Ex.ªs é o que me parece ser o seu valor essencialmente político, sem prejuízo de na oportunidade própria tratar de casos e soluções concretas ligados a esta questão.

Sr. Presidente: Como primeira premissa do meu raciocínio, está a de que Portugal sem o ultramar será uma entidade europeia de longa e gloriosa história, mas completamente distinta da que é hoje. Direi mesmo que Portugal sem o ultramar deixará de ter expressão sensível entre as nações livres e soberanas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A mera expressão europeia do País amputa-o de tal forma na sua personalidade, reduz a sua densidade internacional de tal modo, que deixa de ser o Portugal que conhecemos, o que defendemos e o que temos ensinado a amar aos Portugueses. Assim o sentimos todos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ao declarar a Nação como formada por todas as suas actuais parcelas, a Constituição Política não só realiza um acto de direito público, mas define uma realidade inserta na consciência nacional e na sensibilidade de todos os portugueses, mesmo daqueles que mais longe vivem das terras ultramarinas.

Nesta mesma sala, e há pouco tempo ainda, ouvimos proclamar ao próprio Chefe do Estado, com toda a solenidade, o princípio da defesa integral do território nacional contra quem for que o ataque. Temos-lhe obedecido na serena certeza do cumprimento de deveres que se não discutem, mas também na digna esperança de -que o Mundo recobre a noção dos verdadeiros valores morais e volte a agir no reconhecimento da razão que sabemos existir, incontestavelmente, na posição que assumimos.

Plenamente se justifica assim a defesa total do território português, pois com ele defendemos a própria essência da nacionalidade e a subsistência de Portugal como entidade maior na vida internacional.

Defendermo-nos, porém, da guerra que nos impõem exige mais do que a mobilização do nosso esforço militar. A luta pelas armas, qualquer que seja a forma que se adopte, é mais um dos aspectos na guerra total que nos movem.

Nestes tempos de loucura que vivemos inventaram-se meios de destruição de tal forma potentes que a imaginação dos que criam as guerras e nelas se desenvolvem tentou novas formas viáveis de conquista. Ampliou-se o âmbito do ataque, procurando atingir o que de mais forte tem o homem: o seu espírito. Dirige-se a uma dimensão mais profunda, à captação das almas, abrindo assim, com elas, nos países, sulcos de gangrena nacional, formados por aqueles que vão sendo conquistados para as novas categorias de cidadãos: os que traem sem a consciência de renegarem valores absolutos e permanentes, porque o seu próprio conceito de pátria, patologicamente, se modificou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No que a nós respeita, a acção demolidora desta guerra a que nos forçam é tentada por todas as formas, sendo as mais persistentes as inspiradas e fomentadas pelas Nações Unidas, que para tanto construíram um edifício doutrinal baseado em premissas intencionalmente adulteradas no campo dos factos, no jurídico e no moral.

Para além desta atitude externa, os seus responsáveis organizam e financiam ainda a propaganda no próprio

território português, por meios que nem sempre é possível detectar a tempo e em toda a sua extensão. Esta acção corrosiva, que completa e amplia a externa, é sempre dirigida às almas, certos de que, no dia em que conseguissem os resultados que esperam, contariam com o último argumento de que, e apesar de tudo, ainda precisam para justificarem a decisão final de nos aniquilar.

E, pois, uma batalha de almas a que estamos travando para salvaguarda do povo e do território portugueses.

Para ela teremos de utilizar a fundo todos os nossos elementos de luta, que vão muito para além das armas e dos exércitos, embora sem estes quaisquer outros deixem de ser utilizáveis. E, apesar do que os cépticos pensam e afirmam, não estamos tão desprovidos como o inimigo desejaria.

Antes de mais, dispomos de um manancial precioso de patriotismo na metrópole, raiz e fonte de tudo o que é português.

A forma viril e decidida com que a nossa juventude aceitou a luta e se tem batido em todas as frentes demonstra como esse manancial é vivo e fecundo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas não é só o seu sacrifício de comodidades, profissões, estudos, e, quantas vezes, a dádiva de saúde e da vida, que o provam. A abnegação das famílias que moralmente os apoiam, as lágrimas das mães, em que à saudade e apreensão se mescla o legítimo orgulho pelos filhos, o valor dos pais e irmãos, que aqui ficam suportando o peso suplementar do dia a dia, em que tanta vez o militar de agora era também sustentáculo e ajuda, dão-nos a consoladora certeza de que o sentimento pátrio é tão vivo como foi outrora e que esta guerra é, na verdade, uma guerra nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E que dizermos dos quadros permanentes das forças armadas, desses militares de carreira que em missões sucessivas de guerra ou instrução, com poucas excepções, conhecem já todas as frentes de combate?

Estas centenas de milhares de portugueses que de há cinco anos para cá têm servido nas fileiras trazem do ultramar a certeza de que a luta é possível e - o que é mais importante ainda - de que é necessário perseverar nela.

Nunca é de mais a menção do que a Pátria deve a estes seus filhos, e, como ultramarino que sou de nascença e de vida, presto-lhes aqui a minha sincera e comovida homenagem.

Mas há que a prestar também a tantos civis que nas províncias colaboram com. as forças armadas e com as corporações militarizadas - a Polícia, a Guarda Fiscal e o Corpo de Voluntários - de armas na mão ou nas suas funções privadas e oficiais. E há que a prestar, ainda, a esse admirável quadro administrativo, em que tão raras excepções se têm verificado no que respeita ao seu calmo, mas total, sacrifício nos lugares mais arriscados, onde representam a autoridade portuguesa junto de pretos e de brancos.

Em todos o patriotismo é natural, sem alardes, com a aceitação das agruras e dos riscos, sem compensação que valha para além daquela que a certeza de cumprir dá aos homens que sabem viver em plenitude o momento alto que a história lhes impôs.

Esta presença da metrópole e dos metropolitanos é essencial, porque enquanto ela se mantiver firme o ultra-