portugueses - naturalmente dos melhores - buscando fora o trabalho que nela é mais bem pago do que entre nós.

Daqui o surto emigratório que tem a seriedade que conhecemos.

O Plano Intercalar de Fomento dedica-lhe, por isso, detalhada atenção, designadamente no que respeita ao número e nível de empregos que se prevêem como necessários para corresponder ao aumento populacional e dos vários sectores em que há que o encarar.

Nestes trabalhos referem-se as cifras que se calculam e os meios que se preconizam para atacar o problema na parcela mais desenvolvida e povoada do País: a metrópole.

Reparo, contudo, que ao equacioná-lo, nesses números, nesses cálculos e nessas previsões, só o aspecto europeu foi encarado. E pressinto, nesta restrição, o enorme risco nacional do desvio do ângulo por que julgo que o problema português tem de ser examinado e atacado.

E que, como espero ter demonstrado, todo o esforço actual será em vão se não dispusermos dos meios para promover a rápida evolução de milhões de portugueses. Esta evolução há-de processar-se de forma que a sua cultura se molde no futuro pela cultura portuguesa. Têm que se preparar essas massas actuais com os meios humanos essenciais para deles saírem as classes médias - elementos de estabilização - e os futuros dirigentes, que, na nossa concepção nacional, não poderão ser apenas dirigentes africanos, mas genuínos dirigentes portugueses, válidos lá como cá.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Já daqui se vê que o povoamento não pode resumir-se a enviar colonos que, com mais ou menos sucesso, se fixem aqui ou ali, no além-mar. Povoar tem de ser, para o que nos é exigido, planificar, antes de mais, as possibilidades e disponibilidades materiais e humanas do todo nacional em função das necessidades da metrópole e de cada província, criando a solução geral harmónica que, embora com sacrifício temporário de todos, garanta que, com portugueses de cá e de lá, se vai construir o edifício económico e social de que o País carece para se projectar neste novo Mundo, que já nasceu.

Há-de ser com portugueses, os da Europa e os do ultramar, que temos de educar e mentalizar as populações hoje atrasadas do nosso território e prepará-las para criarem as novas classes sociais de que carecem

Porque não é obra estática - antes se caracterizará pelo seu dinamismo - , o meio a utilizar há-de ser o de, continuando-nos a defender, ensinar e ajudar todos a criar riqueza, a fomentar a economia, a forjar o seu lugar ao sol, realizando simultânea e coordenadamente a obra de absorção de cultura portuguesa, o que só pela presença e pelo contacto pode obter-se.

Para tanto os actuais métodos não bastam. A prová-lo está, por exemplo, o que já se perdeu em gente, em tempo e em dinheiro, por falta da adequada preparação e planificação para se aproveitarem os milhares de jovens que a defesa nacional tem deslocado para as nossas províncias e que ali desejaram fixar-se sem que isso lhes fosse possível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Já nesta Assembleia o problema foi referido pelo nosso ilustre colega Moreira Longo.

São muitos milhares, Sr. Presidente, os que lá estiveram, lá se salientaram e que, conhecendo o meio e adivinhando-lhe as possibilidades, recorreram a todas as formas ao seu alcance para ali ficarem. A alguns, muito poucos, bafejou a sorte. A grande maioria regressou, tendo visto outros horizontes geográficos, sociais e humanos, indo parte deles depois aumentar o número de emigrantes portugueses na Europa. Esta a realidade, por duro que seja admiti-la, principalmente para nós que no ultramar os vemos partir sempre com mágoa e até apreensão.

Poderíamos ter aproveitado estes milhares de homens no povoamento e, auxiliando em seguida o transporte das famílias, teríamos fixado em pouco tempo, em Moçambique, um largo número de metropolitanos ou de portugueses de outras províncias. E este é um exemplo entre vários.

Agrupem-se esses elementos em pontos que a estratégia militar, demográfica e de ocupação económica indiquem como os mais convenientes, crie-se a forma de serem orientados e assistidos pelas próprias unidades estacionadas na área que neles também se apoiarão, e criar-se-ão pólos de desenvolvimento nessas zonas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aí poderão ser valiosos meios de educação do autóctone, que a eles afluirá. O trabalho em comum e bem orientado, para o efeito, será um precioso meio de transmissão de conhecimentos e da nossa maneira de ser, e podemos confiar a esses núcleos uma séria parte da obra de preparação, quer no aspecto agrícola, quer no escolar, e até no técnico.

Como se vê, deste exemplo, as enormes verbas despendidas em transporte dos militares poderiam ter sido aproveitadas, se tem havido a organização devidamente apta para isso. O custo unitário de fixação de cada família seria muito inferior ao que se obteve nos colonatos existentes. E com base nestes núcleos de origem militar poderíamos ter principiado já um trabalho sério de contacto e aportuguesamento da vida dos autóctones.

Isto não é utópico. E nada fará recuperar as verbas e o tempo que para tanto se não aproveitaram nestes cinco anos.

Dizer-se, contudo, que nada foi tentado neste sentido, também não corresponde à verdade. Por mais de uma vez a ideia pareceu ir ser posta em prática. Não vingou, porém, porque não houve a adequada organização nas províncias, porque não se verificou a indispensável compreensão de sectores metropolitanos, porque a burocracia de lá e de cá não pôde vencer-se nas dificuldades rotineiras, mas, fundamentalmente, porque não houve a