Mas estou convencido de que é preciso, no sentido mais angustioso do termo, revolucionar este sector, e também de que a tarefa é possível, como, aliás, o Conselho Ultramarino a considerou.

E não hesito em repetir que sem ela serão inutilizados dentro de anos os sacrifícios de vidas e de fazenda que a honra portuguesa exigiu, que todo o País está realizando e terá por certo de manter por bastante tempo.

E nesta profunda convicção que apelo para a atenção de VV. Ex.ª e do País. Estamos em face de uma questão que mão admite delongas no seu estudo e na sua execução.

Espero ter demonstrado que dela e só dela depende a consolidação- da vitória que procuramos.

Mas o tempo urge. Tudo o que fizermos ou deixarmos de fazer agora pesará nos destinos da grei, dando-nos a vitória decisiva se cumprirmos o que nos é exigido pela história ou reduzindo-nos à nossa expressão europeia se não pudermos cumprir o que o ultramar precisa hoje que façamos por ele.

Mas os caminhos nunca foram suaves para este maravilhoso povo a que pertencemos e cuja soberania também aqui representamos.

Foi dura a fundação. As sucessivas reafirmações de independência foram marcadas com sacrifícios e trabalhos que, não tendo sido menores que os que hoje se nos deparam, servem de incentivo e exemplo às gerações actuais.

Árdua e heróica foi a expansão, e aí tivemos não só de vencer as dificuldades materiais e demográficas, mas também de criar as bases científicas que nos permitiram então desvendar os mistérios que a superstição e a ignorância adensavam. E assim abrimos novos caminhos ao Mundo e pusemos em contacto as raças humanas em escala até então desconhecida.

A tudo isto o povo correspondeu na sua intuição que o fez descobrir dentro de si os chefes que o conduziram, os sábios que o orientaram e os santos que o consagraram.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O povo é o mesmo. Temos hoje a chefia de um dos maiores homens com que Portugal conta na sua longa existência.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Temos a nosso favor o patriotismo intacto do País e a confiança não esmorecida nem negada das gentes que no ultramar integram também a Nação.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Faltar-nos-ão a fé e a certeza em nós próprios?

Pois, se elas existem - a demonstrá-lo temos as páginas magníficas que Portugal está a escrever na Guiné, em Angola e em Moçambique -, aproveitemos o tempo, iniciemos a obra para conquistarmos o futuro que merecemos, porque nunca como hoje ele se nos ofereceu rã plenitude da alternativa: agora ou nunca.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Augusto Simões: -Sr. Presidente: Há poucos dias, a imprensa portuguesa, com o natural relevo que costuma conferir aos acontecimentos de interesse, referindo-se a notícia que veio publicada em alguns jornais franceses, deu-se conta da acção abnegada e generosa de uma radioamadora desta nacionalidade, justamente classificada na local do Diário de Noticias como sorridente e linda qualidades logo comprovadas por expressiva fotografia , que, após porriada luta contra o tempo e contra sucessivas peias de intransigente burocracia, tinha salvo a vida a uma criança de Coimbra, por fazer chegar até ao seu leito de dor determinado medicamento que um outro radioamador português desta cidade pedira dramaticamente, através do éter, umas horas antes.

Sofria a infeliz criança de leucemia, e fora julgado que só esse medicamento a poderia salvar.

Como de tantas outras vezes, o sofrimento alheio pôs em actividade os vastos recursos do radioamadorismo, que, providencialmente , pôde desempenhar galhardamente uma das suas importantes missões.

Por não ter sucumbido às grandes dificuldades que se lhe depararam, a linda e generosa radioamadora francesa roubou à morte a preciosa vida de uma criança, conseguindo-lhe atempadamente o indispensável medicamento para combater a sua temível enfermidade.

Em repetida afirmação de sentimentos, tantas vezes já demonstrados, o mesmo jornal Diário de Notícias apoia calorosamente a ideia, oriunda de um nosso compatriota radicado em França, de se dar àquela radioamadora o merecido prémio de uma viagem a Coimbra para conhecer e beijar a criança que salvou. _

Justíssima logo me pareceu essa iniciativa e o seu eco entre nós, e, por isso, como Deputado por Coimbra a venho apoiar calorosamente do meu lugar nesta Câmara, com o singelo e breve comentário que ela facilmente sugere.

Passo em claro, por não ter qualquer elemento concreto, sobre a razão da carência entre nós do medicamento que arrancou a minha jovem compatrícia às tremendas garras da doença e da morte.

fico na esperança de que os organismos a quem incumbe a salvaguarda da nossa preciosa saúde não deixarão de agir para que, de futuro, esse medicamento passe a estar em condições de ser geralmente utilizado pelos que sofrem do grave mal que é a leucemia.

E, retornando à ideia da apontada viagem a Coimbra da simpática radioamadora francesa, entendo que não pode regatear-se-lhe mais caloroso aplauso.

Efectivamente, nesta hora em que o Mundo desvairado é varrido pelo sopro apocalíptico da destruição e os homens lutam como lobos por essa tremenda ideia, a salvação da vida de uma criança nas condições de pura caridade e alta compreensão que rodearam a da leucémica de Coimbra aparece como um suave lenitivo para as nossas graves preocupações.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Demonstra, na verdade, esse gesto de altruísmo alguma coisa de muito elevado que importa destacar.

A pretendida viagem pode bem servir esse desígnio.

Está a seguir-se entre nós a ajustada política de desvendar as potencialidades que criámos no espaço português, com as nossas virtudes e os nossos defeitos, aos grandes magnates e leaders da opinião pública mundial, convidando-os a tomarem directo contacto, segundo melhor desejem, com os elementos que formam a nossa grande comunidade nacional.