O Orador: - A velha casa dos Almadas é hoje o solar da nossa juventude, porque em hora feliz foi confiada à Mocidade Portuguesa. Na preocupação de salvaguardar quanto é testemunho de portugalidade, e também assim a denotar, «m cada instante e não seria exagero dizer, até, em cada segundo, a forte vontade, a vontade irreprimível, de defender os nossos valores espirituais, quis o Sr. Presidente do Conselho que assim fosse e assim o decidiu no ano jubilar da celebração dos centenários da Fundação e da Restauração de Portugal. Apenas se exigia, para a concretização de tão justo e tão nobre anseio, que o palácio viesse a ser desafectado de uma utilização imprópria e logo integrado, depois de adquirido, no património da Nação.

Foi Albino de Sousa Cruz quem chamou a si a responsabilidade inteira de promover a mesma concretização. De longe vinha a sua inclinação para atitudes de singular vulto e expressivo significado no que dizia respeito à exaltação das nossas glórias e dos nossos navegadores, missionários e guerreiros: de mãos dadas com o malogrado escritor Carlos Malheiro Dias, havia já erguido o imperecível monumento que é a História da Colonização Portuguesa do Brasil. Na terra de Santa Cruz, que sempre considerou, e sinceramente o afirmava, a sua segunda pátria, Albino de Sousa Cruz fora guindado pelos seus pares, e mercê do seu carácter, à mais destacada posição, investido na missão delicada de presidir aos destinos de todas as colectividades portuguesas. Fiel ao rumo que traçara aquando da celebração do centenário da independência do Brasil e senhor, agora, de possibilidades que se radicavam, sobretudo, numa posição moral incontestável e incontestada, Albino de Sousa Cruz bem pôde, assim, nesse ano jubilar de 1940, afirmar a admiração sem limites que o prendia ao nosso querido Presidente do Conselho.

A primeira grande afirmação de unidade, e também de indiscutível amor à Pátria e de fidelidade aos seus destinos, da parte dos portugueses radicados no Brasil foi, sem dúvida, essa que se traduziu na aquisição do Palácio da Independência. Daí para o futuro, e sempre através de uma acção pautada pelo exemplo e acalentada pelo entranhado portuguesismo e desambicioso salazarismo, que era contagiaste e logo dominava, de Albino de Sousa Cruz, a mesma unidade dos Portugueses havia de manter-se e havia de ser reafirmada em todo o momento, uma vez que estivessem em causa os destinos da Pátria e sempre que ódios vesgos ou ignorância atrevida se permitissem alusão sem fundamento, ainda que leve, à doutrina, à obra, à personalidade indiscutível, de Salazar.

Sr. Presidente: Termino com as palavras simples que proferi no início desta evocação: foi sepultado no cemitério do velho couto de Palmeira, bem cerca de Santo Tirso, um homem probo que ali nascera há 95 anos. Foi um homem de bem. Foi um português de lei.

Vozes: -Muito bem !

O Orador: - Depois de uma vida intensamente vivida, regressou, na hora derradeira, à terra que lhe foi berço. Que Deus o tenha, em Sua santa guarda!

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Armando Cândido: Sr. Presidente: E verdade que não podemos esquecer Coimbra. Não é só pela vida buliçosa. Nem pelo veio da tradição. Nem sequer o fascínio da paisagem é o único que luz na nossa saudade. As lições dos mestres também se prolongam em nós.

E prolongam-se tanto que sem elas deixaria de haver a razão mais profunda para nos recordarmos desse tempo vivido com mocidade e esperança.

Eu nunca esqueci a pessoa de V. Ex.ª Até se dá o caso de continuar a aprender, tirando incessante proveito da sua palavra e do seu exemplo.

Bastaria dizer isto. Mas dizer é menos que reafirmar, e eu estou demonstrando uma atitude de fidelidade.

Desejaria agora ocupar-me de um facto particularmente relevante para a minha condição de português nascido nos Açores e de alto significado nacional para a minha consciência de Deputado, que nesta Assembleia agitou o problema do povoamento do ultramar, designadamente em 1950, 1952 e 1958.

Chegaram a Angola no dia 5 deste mês 58 famílias da ilha de S. Jorge, num total de 351 almas, entre as quais se contam 168 crianças.

Portadores de uma fé remota e ancestral - lê-se no apontamento a que me reporto com seus filhos e seu gado, suas alfaias e atavios, suas crenças e tradições, desde as piedosas coroas do Espírito Santo até uma imagem de Nossa Senhora de Fátima eles serão no ultramar um símbolo fiel e inexcedível desta boa gente açoriana que em todos os continentes tem atestado o invulgar mérito do trabalho, da virtude e da morigeração, honrando a velha cepa lusitana.

Como se vê, Sr. Presidente, não foi uma simples expedição de colonos que desembarcou agora na província de Angola. Trata-se de famílias inteiras, de portuguesíssima raiz açoriana, que se mudaram para o nosso ultramar, levando consigo todos os bens que tinham, a começar pelos filhos, a maior fortuna que poderiam ter transportado, pois, além de representarem um capital de amor e sobrevivência, são a garantia plena do firme e alto propósito de continuar Portugal na terra que lhe pertence.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Uma das 58 famílias agora transplantadas dispõe, no seu exuberante activo humano, de 15 filhos, entre os 2 meses e os 24 anos. E belo e comovedor. Mais ainda - é patrioticamente significativo.

Porque a nossa batalha no ultramar não é só uma batalha em defesa da razão e do direito. Não é só uma luta do presente e do passado um resoluto empenho de seivas no sagrado esforço de manter íntegra a árvore da Nação. Não é só a frente, onde os perigos reais e imediatos surgem, reclamando sangue e coragem a lei da raça, tão comprovada nos lances quase incríveis em que cada português valeu sempre mais do que os inimigos que o acometiam.

Difundam a notícia de que estes homens, portugueses de pura e alevantada intenção, avançaram para o ultramar com o que tinham - gente, alfaias e símbolos de fé.

Vozes: -Muito bem !

O Orador: - Distribuam aos soldados, à uma com a notícia, fotografias, desse casal que levou para Angola quinze filhos - quinze raízes, quinze afirmações.