Desapareceu um grande amigo e um notável mestre. O seu espírito radioso continuará, porém, a comandar os nossos passos.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Águedo de Oliveira: - Sr. Presidente: Louvo-me nas palavras do Sr. Deputado André Navarro.

Além de grande construtor nacional e de edificador do futuro, de homem de Estado totalmente dedicado, o Eng.º Trigo de Morais foi um transmontano «às direitas».

E essa circunstância que me leva a produzir algumas palavras de homenagem e de saudade neste areópago representativo.

Ele foi um homem franco, cavalheiresco, rigíssimo, espinha direita, autodisciplinado, que não abatia nem desanimava e que nunca esteve à mercê das pequenas coisas nem da gloríola de via reduzida.

O hábito das montanhas forneceu-lhe grandes vistas, horizontes altívolos; as cordilheiras e o agreste climático edificaram-no na seriedade da vida e nas grandes tarefas - na grande tarefa do Portugal renovado, da Revolução Nacional, e, sobretudo, nas execuções dos planos levados a cabo sem desfalecimentos.

Yozes: - Muito bem!

O Orador: - Seu companheiro de Governo, seu patrício, seu admirador incondicional, aqui deixo esta palavra de homenagem a uma das muitas facetas do seu espírito tão indomável como brilhante.

Parece que a própria justiça resulta apoucada quando se fala dos grandes homens que passaram e foram como ele talhados num só bloco, onde não havia nem imperfeições, nem graduação da qualidade do mármore esculpido.

Ele foi o varão justo de que falam os velhos escritos, e a justiça era nele um hábito simples e sem esforço.

Tenho dito.

Yozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Gonçalo Mesquitela: - Sr. Presidente: Perante a notícia da morte ido Eng.º Trigo de Morais, Moçambique não poderia ficar indiferente, até porque a ele deve uma das maiores obras ali realizadas durante os últimos anos: construiu o Limpopo, dominou o rio, criou o colonato de enorme importância.

E nós, que nos habituámos- a vê-lo aparecer com a sua figura inconfundível, inquietando-se pelos problemas de Moçambique, resolvendo-os ali e aqui, com a preocupação de técnico de hidráulica, sim, mas fundamentalmente com a preocupação ido homem que queria resolver os problemas humanos, principalmente os problemas entre as raças, criámos- do Eng.º Trigo de Morais a ideia de um homem de estatura moral invulgar.

Neste 40.º ano da Revolução Nacional preparávamo-nos paira que a Bua obra do Limpopo fosse uma das grandes obras do Regime a apresentar ao País. Ela continuará a poder ser apresentada, enriquecida talvez - trágico enriquecimento - com a última decisão do Eng.º Trigo de Morais, pela qual Moçambique lhe ficará ainda mais grata: escolheu para seu túmulo a terra de Moçambique, no seu querido Limpopo. Se me fosse permitido, eu sugeria que esse túmulo se situasse na .aldeia da Barragem, frente ao Limpopo, para que este sinta que faz parte dela o homem que pela sua vontade, pela sua tenacidade e pela realização do seu sonho o domou para serviço de Moçambique e de Portugal. Tenha dito.

Yozes: - Muito bem, muito bem I O orador foi muito cumprimentado.

A Sr.» D. Custódia Lopes:-Sr. Presidente: Acaba Moçambique de sofrer uma grande perda com a súbita morte do homem que. foi um dos maiores obreiros do seu progresso, o Eng.º Trigo de Morais.

Vi-o ainda há poucos dias no «Ministério do Ultramar, c

Falei-lhe «com o respeito e as admiração que me merecem os homens inteligentes e bons que vivem no puro ideal a constante realização de uma obra a que se consagram inteiramente, pelo bem comum.

A sua figura alta e distinta, apesar do* anos, denunciava já, contudo., o esforço a que se obrigava voluntariamente na ânsia de prosseguir até ao fim dos seus dias a obra imensa a que se dedicara.

O seu rosto: iluminava-se e os seus lábios entreabriam-se num sorriso feliz sempre que se falava de Moçambique et do povoamento, desta vasta província, para o qual .a sua obra do Limpopo tanto contributo dera já. E que o Eng.º Trigo ide Morais vivia de alma e coração a sua obra e tinha por ela um amor verdadeiramente paternal.

Não admira, pois, que a notícia lida, de chofre, nos jornais de que as cheias do rio ameaçavam o colonato do Limpopo o tenham impressionado a tal ponto que não pudesse resistir mais.

O Eng.º Trigo de Morais foi vítima da sua própria obra, do amor entranhado que lhe dedicava.

Pelo alto merecimento da sua obra no plano nacional, o Governo determinara, recentemente, que o Eng.º Trigo de Morais continuasse em efectividade de serviço para além dos 70 anos que já tinha. Tombou, pois, no seu posto. A sua obra do Limpopo vem de longa data. Foi em 1925 que o Eng.º Trigo de Morais publicou o seu primeiro trabalho sobre a irrigação e o povoamento do vale imenso que o extenso: rio atravessa.

Por dificuldades- financeiras que a metrópole teve de resolver primeiro, só mais tarde a obra tão ansiosamente desejada e .aplaudida por Moçambique, entrou verdadeiramente no campo da realização.

Nomeado Subsecretário de Estado das Colónias em 1951, o Eng.º Trigo de (Morais levou persistentemente por diante o seu sonho de povoar o ultramar com gente metropolitana que se dedicasse à agricultura e levasse consigo o exemplo do trabalho aos nativos, que, lado a lado, trabalhariam para um mesmo fim: o desenvolvimento económico e social da província e o seu engrandecimento.

E assim aconteceu. A obra do Limpopo entrou no I Plano de Fomento de 1951, e, num tempo breve para uma grande obra, começou a tornar-se uma realidade. O vasto vale estéril, porque adormecido por longo tempo, tornou-se úbere e fértil com o sistema de irrigação das terras, que seriam .o instrumento indispensável para a valorização do homem. Com a ida sucessiva de colonos foram-se formando as aldeias, verdadeiros- aglomerados de famílias que transportaram consigo os costumes e as tradições do Portugal da Europa e os transmitiam