pectivas transformam-se inteiramente e as querelas políticas travam-se ao redor de problemas concretos, comezinhos, imediatos.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Assim é, de facto.

Vale bem a pena ler-se e meditar-se aquele editorial, pois lá, na simplicidade dos conceitos expressos, poderão os responsáveis pela condução política encontrar a subtil orientação de um válido processo de acção que bem merece ser respeitado e seguido. Por isso eu concluirei, como nele, que «a vida local é o espelho do Mundo, pois quem vê o seu povo, vê o Mundo todo».

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Fica-me a impressão de que o objectivo da minha intervenção na solicitação que a justificará não valha o prólogo em que o entusiasmo do discorrer tomou a dianteira sem a preocupação do dever de ser mais breve. Creio, contudo, terem sido pertinentes as considerações feitas, além do que me sinto agora mais à vontade paru patrocinar um pequeno anseio, uma pequena pretensão que, tocando embora a muitíssimos, se dilui e perde altura no preocupado da vida dos nossos dias, empenhado como anda o Poder com problemas mais graves e maiores realizações de largos reflexos na opinião pública nacional. Perdõe-se, no entanto, a este modesto homem de lá do Marão o defeito congénito de trazer sempre o coração na boca e o defeito também de ser e querer ser verdadeiramente representativo.

Além do mais, o sentido da minha intervenção servirá para mostrar e definir uma linha de rumo, já que entendo ser da essência da minha condição de Deputado o ser porta-voz, defensor intransigente, tanto dos pequenos como dos grandes problemas, preferindo, para tanto, mais arrostar com as críticas e sorrisos de indiferença dos discordantes do que correr o risco de trair aqueles que em mim confiam e de mim esperam.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -- E posto isto, a propositura do anseio que o acaso faz tomar vulto maior em consequência das preocupações que o turismo impõe aos responsáveis pela defesa da maior fonte de receita nacional.

Estamos, Sr. Presidente, na maré alta do turismo. São muitas as necessidades que o seu incremento e defesa impõem. Não vou enumerá-las, pois de turismo não vou. fundamentalmente tratar, embora seja de evidente interesse para aquele a reparação e conservação das rodovias nacionais e ser de uma estrada que eu vou justamente ocupar-me.

Sr. Presidente: Integra-se no meu distrito e círculo por que tenho a honra de ser Deputado a zona de turismo da serra do Marão. Nesta zona, a constituir cartaz de maior atracção, situa-se a região dos vinhos unos do Douro, produto excepcional de um solo em que a luta pela vida toma proporções de autêntica epopeia, pois a Natureza, em troca da sua munificência, exige que o seu amanho se processe em moldes que transcendem em muito o entendimento dos que desconhecem a dureza do trabalho ciclópico que aquele importa em sangue e suor jamais retribuídos.

Tem, pois, o Douro, pelo vinho que produz e pela beleza da paisagem que o enquadra, variegada e verdejante no começo sul, duramente majestosa e abrupta mais acima, onde o rio que usa o seu nome, corre inquieto no xisto que

a constitui, um lugar marcado na curiosidade e atenção dos que nos visitam impelidos pelo fascinante poder de sugestão do verdadeiro embaixador que o seu vinho tem sido, e continua sendo, em terras do estrangeiro, onde tem levado o nome de Portugal com assento privilegiado na mesa dos próprios reis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - São muitos os que o visitam, sendo vulgar toparmos com turistas extasiados ante a beleza das eminências que o envolvem, aqui montes descarnados a consentirem no seu sopé a verdura dos vinhedos que o identificam, além socalcos sobre socalcos a defenderem da erosão. aquelas terras sempre a desprenderem-se, socalcos a erguerem-se para o céu, qual escada erguem-se a querer atingi-lo e em que, como sinal da vida que o anima, se implanta o abundante casario, de que, logo manhã cedo se evola o fumo denunciador da presença de vida dos muitos que ali têm presa a esperança de um amargurado viver.

Por ali se faz, pois, intenso turismo, especialmente vindo do Porto, onde o comércio reclama a região vinhateira, terra mater do produto que o sustenta. E vem do Porto, por Amarante, onde logo toma a estrada pombalina n.º 101, que percorrerá durante 22 quilómetros, alheio da imponente e bela paisagem em que se talha, de tal modo o seu cuidado e atenção têm de estar presos mercê dos perigos que oferece com sinuosidade que a caracteriza, os abismos que a ladeiam, cheia de curvas apertadas e difíceis onde a cada metro, sem possibilidades de cruzamento, depara com o caminhão, que completamente a obstrói num perigo permanente.

O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. António Santos da Cunha: - Se V. Ex.ª me permite, queria dizer que há uns bons 25 anos visitei pela primeira vez o concelho de Mesão Frio e fui de Braga, tendo subido a estrada a que V. Ex.ª se está a referir.

A propósito, queria dizer que duas sensações fortes me dominaram ao entrar em Mesão Frio, concelho que então não me impressionou muito bem, porque ainda não tinha atravessado o período rejuvenescedor da presidência de Raul da Cunha Araújo.

O Orador:-Muito obrigado!

O Sr. António Santos da Cunha: - Uma sensação de encantamento, quando me foi dado ver toda a maravilhosa paisagem que se estende na nossa frente. Não exagero se disser que o meu encantamento foi o mesmo do Sr. Cardeal-Patriarca de Lisboa quando chegou ao Rio de Janeiro e lhe perguntaram como achava a baía: «Só agora sei dar valor aos meus olhos». Também só naquele momento eu soube dar verdadeiro valor aos meus olhos.

A outra sensação de alegria, como filho de um velho franquista, foi ver que os homens de Mesão Frio tinham enforcado o político José Alpoim. (Risos).

Já nessa altura, há 25 anos, me impressionou que uma estrada como a do Alto de Quintela importante não só para a região de Trás-os-Montes, mas para todo o Norte do País, estivesse no estado em que está. Ex.ª não exagerou ao descrever os perigos e os incómodos que ela acarreta, sendo uma estrada de ligação