É da utilização prática que tenho feito de muitas centenas de alunos por elas preparados, é do conhecimento directo do produto da maioria das escolas industriais de norte a sul de Portugal, que nasce a minha afirmação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nem todas aã escolas são do mesmo nível técnico ou pedagógico V Decerto imo. É o seu nível médio satisfatório para a nossa indústria? Francamente sim desde que se tenha em mente um bom princípio: ao terminar um curso, o aluno está pronto apenas para receber a prática, não é imediatamente produtivo, com certos utópicos desejavam.

Espero que o meu testemunho - o da indústria aeronáutica, a que do seu pessoal mais requisitos exige - vos deixe tranquilos no presente e vos dê fé no futuro quanto à qualidade do nosso ensino, industrial. Se mais fosse preciso, as marcas obtidas em concursos internacionais pelos nossos jovens operários consubstanciam bem que no plano de mão-de-obra técnica estamos perfeitamente ao nível da Europa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em qualidade estamos bem, que não em quantidade! E contudo não pode progredir-se mais depressa. Não são os recursos materiais - as chamadas disponibilidades financeiras que impedem o mais rápido crescimento na formação clássica de técnicos. Bons edifícios, cheios de bons equipamentos, não são necessariamente boas escolas: os professores e mestres são o sangue que os anima e lhes dá vida. Não há professores e mestres para guarnecer adequadamente as actuais escolas. Que se irá passar com tantas outras para abril dentro em breve?

À parte todas as medidas que, a longo prazo, tragam a solução normal do problema, só uma, para o atenuar, para já se me apresenta: a colaboração de técnicos do Estado e do particular.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não basta que o Estado e as empresas autorizem, com a declaração tradicional «sem prejuízo para o serviço», que os seus funcionários leccionem nas escolas técnicas: é imperativo que essa colaboração seja incentivada, mesmo com o inevitável prejuízo para o serviço de cada departamento em si próprio, mas com o extraordinário lucro para o conjunto do País.

Vozes: - Muito bem!

Eis o que penso da formação clássica. Ela não chega, não é suficiente no tempo e na quantidade. Há, por outro lado, um grave problema de ordem social que ela não atinge. O ritmo do crescimento previsto para a indústria nacional não se compadece com o volume de técnicos que se irão preparar nos anos próximos. Existem muitas gerações que se ficaram pela instrução primária, ou porque não havia escolas suficientes ou por falta de recursos familiares para a sua frequência. Duas circunstâncias concorrentes: necessidade rápida de técnicos, repescagem e valorização de indivíduos socialmente mal aproveitados. Como resolver?

Eu sei que a formação profissional acelerada repugna aos pedagogos e aos homens de formação clássica, até mesmo de um modo geral, a todo o técnico português, que, ao contacto de técnicos estrangeiros, fica chocado com a falta de cultura geral que eles revelam habitualmente. Para solução de emergência, métodos de emergência: ensinemos em campos restritos, talhados, orientados para tarefas restritas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sem remorsos, que o método não é anti-cristão ou anti-social; não se pretendem escravos técnicos, incapazes de largos horizontes ou de promoção na vida.

O que é preciso é, depressa e para já, obter indivíduos produtivos: pelo seu trabalho e pelos seus ganhos, eles terão acesso a novos e sucessivos degraus de treino que lhes permitam alcançar os andares mais altos, desde que para tal se esforcem. E aqui também eu vos trago um testemunho de fé e confiança. Tenho visto tornar produtivos em indústria de precisão e no prazo de um ano apenas rapazes vindos do campo e pouco mais sabendo que ler e escrever. E tenho assistido à sua promoção a lugares de chefia, em marcha mais lenta é verdade - que os da formação clássica, porém, segura e certa, em remuneração bem compensadora para eles próprios e para a empresa que neles soube oportunamente investir.

Tive o privilégio de participar numa experiência pioneira de formação profissional acelerada nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico. Idênticas experiências tiveram assinalável êxito em algumas grandes empresas nacionais. Como tudo quanto é pioneiro, os métodos foram improvisados e longe da perfeição. Foram, porém, eficientes: missão cumprida!

Lançando mão das mais modernas técnicas, com uma estruturação modelar, surgiu depois o Instituto de Formação Profissional Acelerada. Obra notável, é bem pouco conhecida do público em geral. Pêlos horizontes novos que abriu, pela sua potencialidade, é uma das marcas fulgurantes que ficarão a assinalar esta época de verdadeira renascença industrial que o País atravessa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tive a honra de ser convidado uma vez mais para a cerimónia do final de um dos cursos do Instituto. O temporal não permitiu que lá chegasse esta manhã. Em idênticas cerimónias aí tenho vivido horas de entusiasmo comunicativo, dos mais altos dirigentes, aos alunos, à assistência.

É impressionante sentir o interesse, a esperança, que nesta obra muitos dos maiores nomes da nossa indústria depositam. A sua presença directa e a sua permanente colaboração com o Instituto bem o demonstram.

Ao prestar nesta Câmara a minha homenagem ao grande impulsionador dessa obra, o Ministro das Corporações e Previdência Social, eu não emprego adjectivos: é homenagem singela, mas profunda.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A visita às oficinas do Instituto, o exame do seu equipamento de boa qualidade, a apreciação dos