não 10$, como a Junta propusera), de pagamento de todos es utentes do porto, sem quaisquer discriminações.
Afastado o espectro do ad valorem, aumentaria decerto o movimento do porto de Setúbal, com reflexo imediato nos recursos da Junta e no subsídio ao hospital. Por outro lado, novas indústrias se estabeleceriam, não só na zona portuária, mas ainda no vale do Sado, com benéfico reflexo no movimento emigratório, que nesta região se está a verificar com inquietações.
O problema continua em estudo, com as achegas que citei para solução definitiva. Queira Deus que a diligência dos homens a encontre sem mais demora. O prestígio dos próprios homens está também em causa.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem 1 O orador foi muito cumprimentado.
Ou ganhávamos, contra-relógio, a corrida deste século, ou não voltaríamos ao grande palco do Mundo.
Teríamos cessado de ser, teríamos secado as fontes de que se sustenta a nossa alma sedenta de aventura, eu diria melhor, de sacrifício puro, que supõe a entrega total e desinteressada para logo se consumir na humildade do acto quotidiano.
Penso que devemos agradecer a Deus ter-nos mandado, então, um castigo verdadeiramente providencial.
Com ele nos despertou de perigoso torpor, livrando-nos de maiores perigos e trabalhos e denunciando enganosos amigos.
O ultimato de 1891 foi, na minha singela interpretação da história, o verdadeiro motor de arranque da epopeia da ocupação.
Nasceram nesse tempo calamitoso os novos soldados de África e os seus tambores romperam com outra expressão, outra ressonância e fortaleza, na imensidão da África austral.
Quando formou o quadrado de Marracuene havia meio século que forces portuguesas regulares se não batiam.
Esse quadrado roto pelo ímpeto furioso dos Landins e recomposto, de noite, debaixo de fogo - exemplo único da história militar - , deve ter para os portugueses deste século o profundo sentido da renovação do milagre de Ourique.
Couceiro relembra-o como visão do Inferno:
Gritos, chamas e trevas! Visão do Inferno 1 Mas também visão de glória imarcessível que as armas de Portugal conquistaram à viva força nessa madrugada torva e obscura de 2 de Fevereiro de 1895, dia de Nossa Senhora da Purificação.
Ali, em Marracuene, sagrávamos os nossos direitos de ocupação das províncias ultramarinas.
Nasciam nesse tempo, dizia, os novos soldados de África e nasciam de olhos abertos para a grandeza da tarefa que traçaram e com visível admiração pela raça que os A entos da história de então, insòlitamente, tinham revoltado contra nós.
Aires de Orneias, militar e cronista tão culto como bem dotedo, conta-nos o deslumbramento do seu encontro com o régulo dos Vátuas:
Pelas 9 horas da manhã, do mato que fecha a elevação onde está o curral do Gungunhana, vinha saindo uma multidão de gente descendo para a grande -langua do Manguanhana.
Ao chegar à planície, tudo isso fez alto. formando uma densa linha negra que nos fechava o horizonte: lentamente se foi ela aproximando de nós; pouco a pouco iam-se percebendo e distinguindo os vultos quando se partiu em seis colunas, duas delas muito profundas, ladeadas, cada uma, por duas mais pequenas.
Eram as duas mangas de guerra dos Impafumane (Homens Altos) e Zinhone -Me Chope (Pássaros Brancos), dividida cada uma em três troços (mabanje), na força de perto de 3000 homens cada uma, ostentando toda a gala e a riqueza selvagem do magnífico traje de guerra vátua.
Vinham armados só de cacetes, prova das suas intenções pacíficas, e toda essa massa imensa avançava para nós cercando .a residência sem um ruído sequer, manobrando com uma precisão e regularidade que fariam inveja a europeus.
A cerca de 500 III de nós destaca-se para a frente o bobo ou o jogral do exército, literalmente coberto de peles de tigre, com um imenso capacete de penas negras na cabeça, dando cabriolas, ladrando como um cão, cantando como um galo.
Já estavam as mangas junto à residência, e as seis colunas formaram .linha em semicírculo em volta de nós, vindo para a frente, até 15 III ou 20 m, um grupo de cerca de 100 homens.
Entre estes vinha o Gungunhana, que reconheci logo, apesar de nunca lhe ter visto retrato algum; era evidentemente o chefe de uma grande raça.
Desse grupo adiantou-se um dos principais, orando por bastante tempo, dando-nos as boas-vindas em um do régulo e da sua nação e terminando pela saudação vátua: Bahete!, que repetida pelos milhares de becas que nos cercavam produzia o efeito de uma descarga de fuzilaria.
Então o régulo adiantou-se, sentámo-nos e trocaram-se os mais cordiais cumprimentos. E um homem alto. pouco mais baixo do que eu, e, sem ter as magníficas feições que tenho notado em tantos dos seus tem-nas sem dúvida belas, testa ampla, olhos castanhos, inteligentes, e um certo ar de grandeza e superioridade.
Ao levantar-se fez-se de novo ouvir o estrondoso Bahetel, e formando outra vez as mangas em coluna mandou-as entoar o canto de guerra. Aqui devia eu parar!
Nada no Mundo pode dar uma pálida ideia da magnificência do hino, da harmonia do canto, cujas notas graves e profundas, vibradas com entusiasmo por seis mil bocas, nos faziam estremecer até ao íntimo. Que majestade, .que energia naquela música, ora arrastada e lenta, quase moribunda, para ressurgir triunfante num frémito de ardor, numa explosão queimante de entusiasmo! E à medida que as mangas se iam afastando as notas graves iam