Mas todos sabemos da necessidade de extirpar até à raiz as dúvidas e as hesitações que infelizmente sempre nascem e às Tezes permanecem em espíritos pusilânimes ou pouco esclarecidos.

E pareceu-me bom que desta Casa se iniciasse o combate para a coesão das almas em torno de uma causa que já é nossa.

Na verdade, com alguma surpresa, embora sem grande inquietação, encontrei já, onde menos seria de esperar, pessoas que pensam e se comportam como se em 18 de Dezembro de 1961 se tivesse arrumado inexoravelmente a questão de Goa.

São esses pensamentos - não as pessoas em cujo espírito surgem- que me parece necessário combater com tenacidade implacável para que sobre certezas vividas a Nação possa reconstruir paciente, mas vigorosamente, a sua integridade territorial.

Há pouco, ao referir-me à ideia basilar de que a questão de Goa começara em 18 de Dezembro de 1961, afirmei que era um princípio de acção.

Só assim a posso entender.

Só assim a afirmação da integridade territorial - e ela não consente a menor excepção terá o alto sentido que todos lhe queremos reconhecer.

Só assim não serão inúteis os sacrifícios heróicos de Aniceto do Rosário, António Fernandes, Madeva Naique, Oliveira e Carmo e tantos outros.

Só assim a Nação inteira acompanhará os esforços desenvolvidos por goeses, damanenses e diuenses de todas as classes sociais, que, independentemente da religião que professam, vêm, quase sem auxílio material, e desde 1954 note-se bem, desde 1954, sete anos antes da invasão, data em que a União Indiana começou a reivindicar a posse de Goa -, dentro e fora dos territórios ocupados, nomeadamente em Bombaim, lutando incansavelmente para organizar a resistência ao invasor.

A esse invasor e ocupante que a população goesa nem sequer compreende, que hostiliza cada dia mais e mais. Não se trata apenas das humilhações, da fome, que hoje se tornou uma realidade quotidiana, cifrada em 30 g de arroz por pessoa.

Não. Não se trata apenas de uma questão de custo de vida, de salários, de bens materiais.

O que existe é mais profundo e duradouro; é uma enorme diferença e oposição de culturas entre ocupante e cativos, a irredutibilidade do sentimento nacional nos goeses e a total impossibilidade daí decorrente de integração dos goeses ma sociedade política indiana.

Tão grande diferença, que já encontrou expressão em actos de violência, como as bombas que rebentaram durante seis horas na noite de 19 de Junho de 1964 nas principais localidades de Goa; numa conferência de goeses vindos de todas as partes do Mundo e reunidos em Paris de 3 a 6 de Dezembro de 1963; e mais significativo ainda em quadras e canções populares anónimas que circulam em Goa e em que a gente simples diz com quem está o seu coração e alimenta a esperança da liberdade.

Falávamos de princípios e agora afastei-me sem querer do tema desta intervenção.

E que é difícil falar do problema de Goa sem paixão.

É difícil, mas é necessário.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Necessário é acima de tudo ficar bem gravado de uma vez para sempre na consciência de todos os portugueses que, sendo absoluto o princípio da defesa da integridade territorial, as fronteiras da Nação

tanto se defendem em Mucaba ou em (Mueda pelo valor dos nossos militares, como nas Universidades da metrópole, pela formação da juventude, como ainda em todos os terrenos possíveis, pela preparação tenaz da libertação do Estado da índia.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Enquanto Goa mão for libertada não podem nem devem descansar os portugueses.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Goa, Damão e Diu não serão nunca um tributo consentido à rapina do imperialismo da União Indiana, porque, atrevo-me a dizer: Portugal sem Goa está não apenas amputado de uma parte do seu território e sofrendo as dores das populações cativas, está também diminuído de forças espirituais para a realização da sua grande tarefa civilizadora.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Outra ideia motora da nossa luta será à de confiar nas oportunidades que não é difícil descortinar para um futuro mais ou menos próximo e confiar também em que, através dos organismos apropriados, elas sejam aproveitadas sem demoras e com decisão.

Mas sinto que não posso referir-me a este assunto concreto dos meios de luta sem principiar por mencionar, por dever da mais elementar justiça, no grande combate em que todos andamos -devemos andar- empenhados, a acção da nossa diplomacia, a qual, com elevação e dignidade raras no mundo de hoje, tem afirmado por forma irrespondível a razão que nos assiste, lançando no campo internacional as sementes dos sucessos futuros. Aos Goeses é particularmente grata tal actividade, na medida em que lhes dá razões para manter viva a chama da esperança.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - É óbvio que nesta matéria de processos de acção nem há vantagem em os tornar públicos, nem parece este foro o lugar apropriado para entrar no seu pormenorizado exame. Não haverá, contudo, inconveniente em, por um lado, assegurar aos que se deixam perturbar pela aparência das forças materiais, tantas vezes na história, e hoje mais ainda, transitórias, que o único comportamento compatível com o interesse nacional é o de conservar intactas a coragem e a determinação enquanto se aguarda a nossa hora; mas, por outro lado, prevenir contra uma excessiva confiança no desenrolar dos acontecimentos os que pensam poder aproveitá-los sem uma séria e constante preparação para neles intervir na altura própria. Com esta atitude e a diligência precisa chegaremos, se Deus quiser, à vitória final da causa portuguesa, que, repito, só será completa quando for restabelecido em Goa, Damão e Diu o direito das gentes.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Reafirmados os princípios, quis-me parecer também útil dizer algo mais, com o propósito de eliminar uma possível causa de erro na opinião pública. Refiro-me a certas acusações que tenho ouvido, vindas também de horizontes inesperados, e que responsabili-