zam o Governo por erros passados, recentes ou remotos, atribuindo-lhe a causa da invasão e ocupação do Estado da índia.

Fala-se nomeadamente

Falou-se e fala-se em leis de excepção, em (procedimentos administrativos discriminatórios, em suma, em situações de injusta desigualdade criadas aos Goeses. E afirma-se sem mais explicações que aí estiveram as causas profundas da queda de Goa sob a dominação estrangeira.

Para os que assim pensam deveria constituir desde logo motivo de meditação o facto de esta maneira de ver encontrar muito pouca ou nenhuma audiência junto dos. próprios Goeses, quer os do povo humilde, que raro se embaraça com tais subtilezas, quer os próprios intelectuais, que se fizeram paladinos da igualdade integral à sombra da Bandeira Portuguesa.

Na realidade, uns e outros sabem a completa irrelação que existe entre tais erros - pura questão de família a dirimir entre portugueses-- e os motivos ideológicos, económicos e até de .pequena política eleitoral que levaram a chamada União Indiana a invadir e ocupar o Estado da índia.

Aliás, embora nós, goeses, ouvíssemos algumas vezes

Os erros existiram e não julgo que sejam privilégio deste ou daquele regime. Certamente há que procurar evitá-los de futuro. Para tanto, parece bastar a fidelidade sistemática às tradições portuguesas. Sempre, que a elas se retorna constrói-se a Nação com a solidez suficiente para resistir às temporárias vicissitudes da história.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Constrói-se a Nação como afinal se construiu em Goa durante gerações, acumulando o tesouro de uma cultura comum e única que hoje permite suportar o sofrimento da separação.

Assim, é bom que tiremos daqueles erros as lições que comportem, mas é melhor ainda não lhes atribuir papel e importância que não tiveram.

Não quero abusar da vossa paciência e por isso entrarei já numa exposição, ainda que muito breve, da situação dos deslocados goeses, atrevendo-me a apresentar também pequena contribuição para melhorar a sua sorte.

Nesta Assembleia foi já exprimida por duas-vezes, pelo Sr. Deputado Santa Rita Vaz, a gratidão dos Goeses face às diligências e carinho com que o Governo- Central tem procurado resolver, e tem resolvido em muitíssimos casos, a dramática situação dos compatriotas desterrados de Goa, sua terra natal. Quanto à simpatia dá população portuguesa em todos os nossos territórios e aos actos de boa vontade sem conta, a essa e a esses não é possível agradecê-los por palavras; que talvez ofendessem os que tão natural e fraternamente estenderam a mão a quem dela precisou por força! das circunstâncias.

Vozes: - Muito bem, muito .bem!

O Orador: - Sem pretender acrescentar às palavras então ditas, somente com intuitos- construtivos, referirei o seguinte relativamente à actividade oficial:

Desde Maio de 1962 que foram recebidos pela Junta Nacional da Emigração, & quem então foi cometida a recepção, acolhimento e posterior colocação de todos os que, após a invasão, optassem por vir para a metrópole, milhares de deslocados.

Não é, porém, possível estimar o total dos goeses que desde Dezembro de 1961 conseguiram, apesar de inúmeras dificuldades materiais, e contra a má vontade das autoridades indianas, refugiar-se nos territórios livres. Desse número, a quase totalidade foi colocada, pela meritória acção de muitas entidades oficiais e particulares, quer em Portugal, quer no estrangeiro.

E de notar que centenas ingressaram nas forças armadas, onde alguns se têm distinguido por actos de bravura em combate na frente de África, havendo já atribuídas medalhas de valor militar.

Hoje, como é do conhecimento geral, a situação em Goa, Damão e Diu é, mesmo materialmente, muito má. Assim, é natural e humano que muitos mais goeses tentem escapar para os nossos territórios.

Na previsão deste facto, impõe-se a continuação da assistência aos deslocados do Estado da índia.

Mas não só.

Efectivamente, terminou em Dezembro último o prazo de dois anos dado aos goeses da antiga África Oriental Britânica para requererem a naturalização como nacionais das novas nações ou abandonarem as mesmas.

Não disponho até ao presente momento de informações seguras sobre a efectivação da medida.

Mas, não havendo representação dos interesses portugueses nessas nações, que a isso se têm oposto, conviria prepararmo-nos desde já para a eventualidade de muitos dos cerca de 30 000 goeses que ali vivem quererem vir para Portugal.

Vozes: -Muito bem, muito bem !

O Orador: - E preciso ter presente que, na sua legítima luta pela vida, a maior parte desses goeses vive há anos na África oriental; alguns nasceram mesmo lá; e estes últimos não falam português; raros têm habilitações portuguesas, não por sua culpa, mas porque não tiveram onde aprender a nossa língua; bastantes já não são novos e dificilmente se adaptam, sem auxílio, a novos ambientes. Perto de uma centena já veio para Moçambique, tendo tido nessa província todas as dificuldades inerentes às características citadas.

E no entanto vieram.

Vieram por não querer mudar de nacionalidade.

E é provável que mais, muitos mais, queiram vir.

Pareceria lógico e justo estudar o aproveitamento desses imigrantes, já portugueses1, já aclimatados à África, já profissionalmente valiosos no povoamento de algumas províncias ultramarinas. São, acima de tudo, portugueses que deram as suas provas. Se os ajudarmos, a recompensa será dupla: política e económica.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Ora, ao contrário do que aconteceu com os deslocados do Estado da índia, nenhuma entidade está incumbida de os receber, encaminhar e colocar, nem organizada para essa tarefa.

Estou certo de que o desejo das autoridades e do público em geral, tanto aqui como nas províncias de África e